Loading
  • 22 de Abril, 2010
  • Por Carlos Esperança
  • Vaticano

O Papa e a tolerância de ponto

Nenhum democrata contesta o direito de o Papa visitar Portugal, por mais discutível que seja a intenção de manter vivo um embuste que transformou uns inóspitos campos de pastorícia num centro de combate à República e ao comunismo, primeiro, e num destino vitalício de superstição popular, depois.

O respeito pelos crentes que viajam de joelhos e se arrastam em sofrimento, cumprindo promessas, solicitando milagres, maravilhados com as vestes talares dos clérigos e com a multidão de crentes em êxtase, não permite ridicularizar as encenações sazonais que a máquina eclesiástica põe em palco com especial entusiasmo nos dias 13.

Bento XVI tem-se esforçado por ser ainda mais impopular do que os seus antecessores para todos aqueles que não comungam da fé de que vive e não partilham as ideias que o tornaram a personalidade mais reaccionária entre os dirigentes da Europa democrática.

B16 é um arauto do retrocesso civilizacional, regedor do minúsculo Estado teocrático e patriarcal cuja representação na ONU lhe serve para tentar boicotar todos os programas a favor do planeamento familiar, dos direitos das mulheres, da luta contra a Sida ou das minorias sexuais, numa deriva fundamentalista que o leva a aliar-se às piores ditaduras
da Organização da Conferência Islâmica.

B16 é ultraconservador e reaccionário, mesmo para um líder religioso, difundindo uma visão retrógrada do cristianismo, dogmática e misógina, na linha dos movimentos mais hostis ao concílio Vaticano II – o Opus Dei e a Legião de Cristo –, não havendo razão para regozijo pela sua presença em Portugal. Mas isso é assunto dos crentes.

Para os cidadãos laicos, mesmo crentes, há razões particularmente intoleráveis para a forma como o Estado e algumas autarquias se comportam com a visita deste Papa. A tolerância de ponto é um acto de subserviência inaceitável mesmo que o dignitário em causa fosse mais recomendável.

Não acredito, como afirmam os avençados do divino, que «Deus está no pensamento e no coração de cada homem» e estou certo de que a questão espiritual, por mais relevante que seja, não é apanágio das funções do Estado cujo papel é antes o de se ocupar das questões sociais.

Se o catolicismo faz parte do património cultural de Portugal, o País não é já a nação consagrada ao Imaculado Coração de Maria, depois de várias décadas de democracia, mas uma República separada das Igrejas como estabelece a CRP. O seu objectivo não é procurar que muitos portugueses creiam, mas que vivam melhor, cada vez mais livres e mais iguais. É essa a missão que incumbe ao Estado e não a de se ajoelhar.

Perfil de Autor

Website | + posts

- Ex-Presidente da Direcção da Associação Ateísta Portuguesa

- Sócio fundador da Associação República e laicidade;

- Sócio da Associação 25 de Abril

- Vice-Presidente da Direcção da Delegação Centro da A25A;

- Sócio dos Bombeiros Voluntários de Almeida

- Blogger:

- Diário Ateísta http://www.ateismo.net/

- Ponte Europa http://ponteeuropa.blogspot.com/

- Sorumbático http://sorumbatico.blogspot.com/

- Avenida da Liberdade http://avenidadaliberdade.org/home#

- Colaborador do Jornal do Fundão;

- Colunista do mensário de Almeida «Praça Alta»

- Colunista do semanário «O Despertar» - Coimbra:

- Autor do livro «Pedras Soltas» e de diversos textos em jornais, revistas, brochuras e catálogos;

- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores

http://www.blogger.com/profile/17078847174833183365

http://avenidadaliberdade.org/index.php?content=165