Loading

Ainda sobre o Humor

De entre dezenas de frases sobre a importância do humor, vou citar duas delas. A primeira serviu de título a uma notícia sobre Saúde, publicada no jornal espanhol  “El País” há um quarto de século (em Novembro do ano 2000) e diz: “o riso protege o coração”; sublinhando que “um estudo indica que as pessoas com doença cardíaca se riem menos”; e acaba por advertir: “o humor previne o enfarte do miocárdio”.

Em face disto, muito provavelmente os médicos ainda vão adoptar (se ainda não adoptaram) esta frase preventiva de doenças cardíacas: “Faça exercício, coma bem e ria-se várias vezes por dia”.

O estudo referido foi realizado por cardiologistas do hospital da Universidade de Maryland, em Baltimore (EUA) e refere uma frase antiga dita pelos avós de passadas gerações: “O riso é a melhor medicina”. A capacidade de rir pode influenciar hábitos em sociedades desenvolvidas onde a doença cardíaca é a principal causa de morte.

Michael Miller, então director do hospital da Universidade de Maryland, disse ainda: “Sabemos que fazer exercício físico, não fumar e ingerir alimentos com baixo teor de gorduras saturadas, reduz o risco de contrair doenças cardíacas. Talvez devêssemos acrescentar à lista o hábito de rirmos frequentemente e de maneira franca”.

Para além dos médicos cônscios do valor do riso na melhoria e manutenção da saúde, outros profissionais de actividades com peso nas sociedades esclarecidas – como escritores e filósofos – também sugerem o riso como uma das melhores receitas para a prevenção de doenças e, quiçá, para ajudar à longevidade. É o caso de Jean-Claude Carrière, escritor e guionista francês (falecido em 2021 com 90 anos de idade) mundialmente conhecido pela sua colaboração com Luis Buñuel e por, de entre os vários livros de que é autor, ter escrito um com conversas mantidas com o Dalai Lama. É dele a segunda frase anunciada no início deste texto: “A única maneira de sobreviver ao poder, é rir”. 

Dizia Buñuel que um dia sem rir é um dia perdido… e defendia o “riso subversivo”, o qual é “rir-se contra algo”. De certo modo, este “riso subversivo” é utilizado pelos cartunistas, pelos actores de “Stand up Comedy” e pelos autores do Teatro de Revista na apreciação bem humorada de atitudes políticas que só provocam tristeza e choro quando são entendidas, apenas, pela nódoa vivencial que realmente representam.

O papel do humor é usar a ironia como elemento de luta contra o poder, juntando-lhe, também, o absurdo.

Disse Jean-Claude Carrière que “historicamente o humor tem servido para combater os bispos e os militares” e que “rir é uma atividade gratuita, saudável para o corpo e para a alma, e não requer educação específica”. Todo o mundo pode praticá-lo sem precisar de uma licenciatura!

Para Carrière, as histórias “com moral” eram demasiadamente básicas e sem profundidade. Preferia as histórias filosóficas… “mas sem filósofo… populares, cândidas e ambíguas”.

É sabido que em todas as épocas e em todo o mundo o humor é perseguido e condenado por ditadores, sejam políticos ou religiosos. Política e Religião são duas actividades humanas muito praticadas por ditadores convencidos de que representam a razão e a verdade, e que só eles têm direito à palavra e à acção, encarcerando e assassinando quem não diz amen consigo.

Gerado por IA

Ainda hoje assim é neste nosso mundo contemporâneo, comandado por sociedades que se afirmam tão avançadas no conhecimento e na técnica, mas que se apresentam tão atrasadas na prática da Humanidade que deveriam ter… mas nunca têm!

O nosso riso é a nossa arma perante essa enorme colecção de imbecis que imaginam comandar-nos.

Perfil de Autor

Website | + posts

Onofre Varela nasceu no Porto em 1944, estudou pintura e exerceu a atividade de desenhador gráfico em litografia e agências de publicidade, antes de abraçar a carreira de jornalista (na área do cartune), em 1970, no jornal O Primeiro de Janeiro. Colaborou com a RTP, desenhando em direto a informação meteorológica no programa Às Dez e animando espaços infantis. Foi caricaturista e ilustrador principal no Jornal de Notícias, onde também escreveu artigos de opinião, crónicas e entrevistas.