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Mês: Fevereiro 2025

24 de Fevereiro, 2025 Onofre Varela

Sobre a Saúde Debilitada do Papa

Acompanhando o noticiário que dá conta da hospitalização de Francisco I (F1), padecendo de pneumonia nos dois pulmões, lamento o seu estado de saúde e coloco-me ao seu lado na esperança de que se liberte do mal, recupere rapidamente e regresse à sua vida normal.

A propósito, lembrei-me de que (já lá vão muitos meses), vi e ouvi num canal de televisão, um responsável político do CDS dizer algo parecido com isto, relativamente ao criticar da crença (cito de cor): “Se não é crente não tem o direito a dar opinião sobre a crença dos outros”. Tal frase mostra que quem a profere, muito provavelmente, deseja (como político extremado que é) cortar a voz a quem tem opinião diversa da sua.

Gerado com IA.

É evidente que não preciso de ser religioso para ter opinião sobre religião e religiosos, como não preciso de dar vivas ao rei para poder criticar a Monarquia. Só preciso de estar atento à evolução da História, ter opinião própria e viver numa sociedade que respeita a liberdade de expressão, para o poder fazer. Como ateu é evidente que tenho opinião formada sobre religião, e como humanista é mais do que evidente que espero o rápido restabelecimento da saúde de F1.

Sei que este meu “sentimento fraterno de ateu” relativamente ao Papa, não é partilhado por muitos religiosos!… Neste tempo em que ultra-conservadores de extrema-direita e muitos milionários norte-americanos apoiados por Donald Trump, mais tantos outros europeus e asiáticos com o mesmo pensamento mercantilista do comissionista que tomou o poder nos EUA, esperam o pior desfecho para a vida de F1.

No dia 5 de Outubro de 2019 o jornalista Miguel Araújo divulgou no Diário de Notícias o facto (ou a ideia) de haver uma guerra movida contra o Papa pelo sector fundamentalista da Igreja Católica que trata F1 como herege, e que conta com o apoio dos “principais financiadores do Vaticano”. São “insondáveis os caminhos das pressões junto dos senhores da Santa Sé”. Estes “senhores” têm o objectivo de, “algures num futuro mais ou menos próximo, preparar terreno para escolher um Papa que tenha uma visão do mundo que se oponha frontalmente à de um bispo de Roma como Francisco, um «esquerdista» como é apoucado, por denegrir «o deus do dinheiro», atacar um liberalismo económico desenfreado e as políticas desumanas dos Estados ocidentais para com os migrantes, apostando sempre no diálogo e nas pontes com aqueles que os ultra-conservadores querem ver expulsos da mesma mesa [como os homossexuais, as mulheres que abortam, os casais de união de facto, os divorciados e recasados, etc.]».

F1 está ciente desta conspiração interna que cresceu contra si. Por isso, no lote dos novos cardeais (então nomeados) se conta o português José Tolentino Mendonça, entre outros da sua confiança. Há uma facção fundamentalista na Igreja Católica que se coloca ao lado do deus-dinheiro, do poder económico, abandonando os pobres e maltratados, esperando o rápido fim de F1… que pode sobreviver (e espero que sobreviva) à pneumonia que o debilita neste momento…  mas pode não escapar à maldade que contra si se alberga na Santa Sé, que tendo tantos “santos”… provavelmente terá muito mais “demónios”!

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

22 de Fevereiro, 2025 Carlos Silva

Sudarium Capitis

Imagem: Internet
Nota: “Sudarium Capitis”: Manto muçulmano com 2,81 m comprimento e 1,13 de largura.

Desde o século XII, em Cadouin, França, os cristãos veneraram, efetuaram peregrinações, atribuíram milagres e ressurreições a uma relíquia, uma peça de tecido (“sudarium capitis”) que supostamente teria envolvido a cabeça de Cristo e tinha sido preparado pela própria “Virgem Maria”.

Inesperadamente, em 1935 o bispo de Périgueux suprimiu todas as cerimónias porque foi descoberto por um professor da Escola de Línguas Orientais, de Paris, que o mesmo continha a inscrição…
“Em nome de Deus clemente e misterioso (De Deus não há senão Allah) seu associado. Mahomet é o enviado de Allah…” -que teria pertencido a Moustali, que foi califa do Egipto entre 1094 e 1101. O pano foi tecido nessa época.

Até à Revolução, o sudário foi considerado uma das mais importantes relíquias de França, ao ponto de no século XVIII o Padre Frison lhe chamar “o mais antigo e firme monumento da Religião” (Católica).
“Fiéis em multidão vieram orar diante deste precioso motivo de paixão” …
A “Igreja encorajou as peregrinações e numerosos Papas atribuíram graças e indulgências aos peregrinos” …
“As peregrinações continuaram cada vez mais numerosas, acompanhadas de milagres retumbantes e prodigiosos (ressurreições)…”

Por mais de 700 anos os fiéis católicos veneraram um manto que continha inscrições que glorificaram Allah e Mahomet e catorze papas declararam solenemente que o Sudário de Cadouin era autêntico.
O bispo Debert afirmou que, “duvidar da sua autenticidade, equivalia a nunca mais podermos dar crédito a testemunhos humanos”.

Para além deste longo e humilhante período de tempo de “paixão religiosa” que a Igreja Católica devotou a um véu islâmico, é de salientar a forma brusca como foi interrompida após ter sido desmascarada… e sobretudo como tem sido silenciada para não cair na chacota popular ou objeto de ridicularização perante a opinião pública.

Se a “autenticidade dos milagres tem no sudário de Cadouin o seu mais genuíno padrão” e o tomarmos como um exemplo histórico que teve início no século XII e foi venerado por multidões de peregrinos até 1935, então o que dizer, do fenómeno (“milagre de Fátima”) que teve início em 1917 e pouco mais que um século de vida tem, mas atinge hoje uma das suas fazes mais apoteóticas e de maior fulgor económico?


Fonte: Fátima Desmascarada, Cap. XI., João Ilharco

AGORA ATEU (II), 2023-02-02

16 de Fevereiro, 2025 Onofre Varela

Sobre “o deus que habita em nós”

Em conversa com um amigo falávamos da diversidade de sensibilidades que unem as pessoas mas que também as separam e, muitas vezes, conduzem a agressões verbais ou físicas condenáveis só porque uns gostam de maçãs e outros preferem pêssegos!… Sendo atitudes condenáveis, na verdade também são naturais em nós… fazem parte da característica de predador com que a Natureza nos dotou como sistema de defesa e sobrevivência.

Mas se a Natureza nos fez predadores – tal como fez o leão – também nos equipou com um cérebro de características especiais, dando-nos raciocínio, sensibilidade e inteligência… faculdades que o leão não possui. Por isso nos obrigamos a usar as nossas características de “Sapiens”, contrariando o mero animal que somos, usando “odeus que habita em nós” abandonando a parte mais animalesca que, naturalmente, faz o leão e também possuímos.

O meu amigo arregalou os olhos de espanto. Sabendo-me ateu, estranhou a minha referência “ao deus que habita em nós”! Compreendi o seu assombro porque o Ateísmo sempre foi vilipendiado e dele se faz, erradamente, exemplo de desvio comportamental no pior dos sentidos.

Não há razão para espanto. Os ateus criticam “a ideia da existência de um deus exterior a nós” – no aproveitamento social e económico que dessa ideia se faz – mas nunca criticam “o deus que habita em nós”… isto é, a ideia que nos levou à criação de deuses e depois à sua depuração até chegarmos ao “Deus único” adorado por judeus, cristãos e muçulmanos.

Quando refiro “o deus que há em nós”, sou compreendido por quem me escuta (ou lê) e é crente, porque a força que ele sente na crença que alimenta “o deus que habita em si” é, no fundo, a característica daquela parte de nós que sublinha o facto de sermos “Sapiens” e que nos diferencia de todos os outros animais nossos companheiros da vida na Terra, fazendo de nós os seres especiais e superiores que somos.

Mesmo assim, quando em discordância com os nossos semelhantes, somos capazes de adoptar comportamentos iguais aos de um qualquer animal predador inferior, porque a nossa origem animal é a mesma… embora raciocinemos, deixamos, imensas vezes, a nossa sensibilidade tormentosa comandar-nos, tomando conta da Razão. E por esse caminho ficamos em patamares inferiores aos irracionais nossos irmãos de reino, porque enquanto que eles só guerreiam por alimento, por fêmea e pelo domínio do grupo, nós fazêmo-lo pelas mesmas três razões… e ainda acrescentamos a lista, tomados por uma irracionalidade que demonstra o pior da nossa condição animal… o que parece incongruente com a nossa capacidade de raciocinar… mas a verdade é que somos assim… ainda estamos muito mal acabados!…

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico) 

9 de Fevereiro, 2025 Onofre Varela

Perdoar a quem nos agride

“A quem te bater na face direita, dá-lhe também a esquerda” (Mateus, 5: 39-42). Esta frase evangélica foi escrita num tempo em que a lei era “Olho por olho e dente por dente”. Convenhamos que a moral contida em Mateus é bastante mais positiva e pacífica do que o conflito que emerge da frase que então fazia lei e mandava tirar os olhos a quem cegasse alguém. As frases moralistas que podem ser encontradas nos Evangelhos têm de ser entendidas à luz do tempo em que foram registadas. Dois mil anos depois de Jesus Cristo (JC), as sociedades evoluíram, os Códigos Comportamentais também, e nós… bem… nós continuamos a ser os mesmos animais de sempre!

A nossa mentalidade pouco mudou com o decorrer dos séculos! Em termos de consciência, somos, hoje, os mesmos homens que escreveram a Bíblia e os Evangelhos. A técnica evoluiu; na escrita passamos das placas de barro para o papiro, deste para o pergaminho, depois para o papel e a seguir para o computador, mas a nossa mente bélica continua a mesma. Somos a última experiência da Natureza na vida do planeta. Temos menos de 200.000 anos… somos primitivos por mais evoluídos que, por vaidade, nos consideremos. Quando oferecemos “a outra face” a quem nos bate, partimos do princípio que o outro vai entender a nossa posição e sentir-se envergonhado por nos ter agredido. A nossa atitude pacífica contrasta de tal modo com a do agressor que, este, se for inteligente e sensível, vai sentir-se mal e pedir perdão pelo seu acto hostil, abandonando as suas incorretas atitudes. É esta a intenção da frase evangélica atribuída a JC e escrita por Mateus.

Mas… e os ditadores? São inteligentes e sensíveis? NÃO!… Se o fossem não seriam ditadores. É no quadro evangélico que eu entendo a frase do Papa Francisco I (F1) quando, há cerca de um ano, pediu ao governo ucraniano que tenha “a coragem da bandeira branca e de negociar com a Rússia”, acrescentando que “a palavra «negociar» é uma palavra corajosa […] quando percebemos que estamos derrotados e que as coisas não estão a correr bem, é preciso ter a coragem de negociar”. Obviamente, os ucranianos ficaram indignados ao interpretarem o discurso de F1 como um apelo à rendição do país perante a invasão russa. Putin regozijou-se com o apelo do Papa por o sentir do seu lado e fez saber que está disponível para negociações com a Ucrânia, numa atitude de exploração do mais fraco no conflito.

Imagem gerada por IA

Neste caso, eu só posso pensar o contrário do ditador e de F1! Quem tem de terminar a guerra é o país invasor que a começou… e não o país invadido que não faz guerra e apenas se defende! Sublinhando a sua maldade de invasor, Putin acrescentou ao seu discurso de “paz”, este “pacífico” recado dirigido a todo o mundo: “a Rússia está pronta para uma guerra nuclear”.

F1 (que considero ser o melhor Papa de todos quantos no último século se sentaram na cadeira de S. Pedro) tem de perceber que as frases evangélicas são para consumo caseiro dos fiéis cristãos, mas nunca serão consumidas, nem entendidas, pelo mau vizinho que é Putin (nem as entende Trump). Em resposta, a Polónia sugeriu a F1 que “encoraje Putin a retirar o seu exército da Ucrânia”. Por seu lado, Zelensky pediu ao Papa para apoiar o plano de Paz ucraniano onde se reitera a restauração da integridade territorial da Ucrânia, a retirada da tropa russa e a cessação das hostilidades. Este plano não está aberto a negociações, disse ele… e eu assino por baixo.

Vamos lá a ver, leitor. Raciocine comigo: o seu vizinho destrói-lhe a casa que é sua e mata a sua família. Depois quer que você “negoceie” com ele de acordo com a vontade dele, que nunca é a sua; ele propõe que você fique com o anexo do fundo do quintal, e ele ficará com tudo o resto que é seu. Só assim o seu vizinho lhe “garante” a Paz. Você aceita?… EU NÃO ACEITARIA! A “Paz” alcançada deste modo não é Paz; é um conflito latente e interminável. Não é por eu “dar a outra face” que vou viver bem e que o meu vizinho jamais me incomodará!… Este vizinho nunca retirará a sua bota do meu pescoço. Vamos aceitar “ultimatums” de todos os bandidos que nos invadem a casa e que nos matam a família? O que fazemos com um psicopata assassino? Ajoelhámo-nos perante ele, ou enclausurámo-lo?

Espero que o Mundo nunca deixe de se unir em favor dos invadidos e condene os invasores. O mesmo penso de Israel; terá de reconstruir a Palestina para os palestinos. Netanyahu merece ser preso… e Trump também!

7 de Fevereiro, 2025 Carlos Silva

Deus?!

Imagem: Internet

Não será, de todo, correto questionar…
“Existe ou não um deus?”

Deveria partir-se do pressuposto da sua manifesta inexistência…
“Se existisse um deus…”

Não serei eu, nem ninguém, certamente, que aferirá ou negará a existência de um “deus”!
O dito “divino” depende, antes de mais, da inteligência e perceção individual relativamente à análise da realidade… que é consistente, objetiva, solida, e por vezes, até cruel com os seres que habitam o planeta terra.
A realidade diz-nos apenas que nascemos, vivemos… e morremos!
Esta é a realidade da condição humana e de todos os seres vivos!
Não é o ser humano, que se julga privilegiado, e se autocoloca no topo da pirâmide, que define as regras. É a natureza… e de forma implacável!
Quem vive em função de um “deus” pré-definido por doutrinação cultural ou por imaginação pessoal, tem necessariamente que negar a própria racionalidade e predispor-se a sacrificar o mais sublime e irrepetível valor de toda a humanidade: a vida!
Sacrificar a vida… implica morrer, antes mesmo de morrer!
É precisamente pela vida, pela capacidade de criar e imaginar, que podemos questionar a existência de um “deus”; é ela que nos permite evoluir e raciocinar ao ponto de considerar um autêntico absurdo a existência de uma entidade divina fora do contexto mental humano.
Somos suficientemente racionais para não perder mais tempo a tentar provar ou negar a existência de “deuses”… -realmente, não se pode comprovar a sua existência!
Não se pode provar o que não existe!
É perfeitamente óbvio a qualquer mente minimamente ciente que o Homem, quando pensou criar o seu “deus”, teria previamente que existir, tal quando começou a pensar que esse mesmo deus o criou a si.
Sem Homem, não existe “deus”!… É um facto!
Não existindo qualquer prova ou evidência da sua existência, deveria partir-se sempre do pressuposto da sua óbvia inexistência.
A questão tem sido amplamente debatida e alvo de combates inflamados entre crentes e descrentes para justificar ou impor a sua posição…
Outrora a crença esmagava implacavelmente crenças e descrenças, impondo a sua divindade.
Agora a descrença começa a observar cientificamente, começa a constatar a evolução da humanidade e toda a biodiversidade; começa sobretudo a libertar-se da crença…
O conceito de “deus” que a religião católica procura impingir aos seus mais vulneráveis fiéis, é completamente absurdo, irracional e primitivo.
Qualquer mente, minimamente ciente, consegue facilmente desmascará-lo, bastando para tal conhecer alguns factos históricos e científicos dos últimos dois milénios.
Obviamente não encontrará qualquer dado científico sobre a sua suposta autocriação, criação do sol, da terra, da humanidade e toda a biodiversidade… -em seis dias, porque ao sétimo decidiu descansar!
Obviamente não encontrará qualquer dado científico sobre nenhum “deus” … simplesmente porque não existe!
Nunca ninguém viu nenhum “deus”!… É um facto!
Na data alusiva à sua génese não existem referências biográficas ou históricas a qualquer ser supranatural. Poder-se-á, eventualmente, equacionar o nascimento, existência e falecimento do carpinteiro José; mas, tão-somente o ser humano… que tal como todos os José’s da altura, simplesmente habitaram o planeta terra, algures em Jerusalém.
Em Jerusalém, ou em qualquer outra parte do mundo, jamais, em tempo algum, alguém morreu e voltou para contar a sua façanha!… É um facto!
O objetivo da questão será, eventualmente, mais evidente que o da invenção, pois é observável e acessível a qualquer mente minimamente racional…
Basta observar toda a riqueza e ostentação do Vaticano!
Basta observar toda a riqueza e ostentação de Igrejas e Catedrais da Igreja Católica!
Basta observar toda a riqueza e poder de todas as crenças!
Basta observar toda a riqueza e poder e comparar com a realidade!

Existe ou não um deus?!
Se existisse um deus como seria atualmente o mundo?!
Pois, é indiferente questionar… seria igual!
Esta é a realidade…
Questione-se, ou não!
Acredite-se, ou não!

AGORA ATEU (II), 2022-05-12

4 de Fevereiro, 2025 Onofre Varela

«Ateísmo-Cristão»

Em 1945, quando soldados das tropas aliadas entraram nos campos de concentração nazis, não queriam acreditar no que viam. Seres humanos esqueléticos e pilhas de cadáveres era o que restava dos prisioneiros judeus. O general Eisenhower pediu a quem tivesse máquinas fotográficas para registar o maior número possível de imagens, pois haveria de vir um tempo em que alguém se ocuparia em negar o que eles testemunhavam (premonitório!).

A realidade da condição humana foi alvo de profundas reflexões. A religião, enquanto refúgio das almas, não sabia explicar o abandono dos mais fracos e desprotegidos. Os crentes mais directamente atingidos pela tragédia, sentiam legitimidade para perguntar: “Onde estava e que fazia Deus, quando os nazis eliminavam o seu povo eleito em câmaras de gás?!”… Não era fácil responder às interrogações daqueles que se consideravam burlados no conceito que sempre lhes alimentara a esperança e que tão cruamente os desiludira. Urgia assumir a necessidade da revisão de conceitos culturais e religiosos que tinham perdido todo o significado e o carisma que possuíam antes da guerra.

Foto de Frederick Wallace na Unsplash

Rudolf Karl Bultmann (1884-1976), teólogo alemão perito em história das religiões, era um dos intelectuais que alinhavam na nova atitude. Anunciou a necessidade da proclamação moderna do Evangelho “sem que os ouvintes se sintam obrigados a adoptar a mentalidade e a cultura dos homens do começo da era cristã”. Bultmann chamava a atenção para o facto de o Novo Testamento ser mitológico, e preocupava-se com a questão de como propor o verdadeiro conteúdo da mensagem cristã. “Esta exprimiu-se nos primeiros séculos segundo um determinado número de ideias, de imagens, de referências tomadas da cultura de então, cuja forma de pensar era mítica, isto é, apresentava as realidades divinas, transcendentes, em termos deste mundo. Ora, essa forma de pensar já não é a nossa!”.

Impunha-se a desmistificação da mensagem cristã tornando-a compreensível na simples e natural dimensão humana, abandonando a ideia de se ter em Jesus Cristo (JC) um mediador da divindade.

Mas Bultmann foi mais longe nas suas considerações. Argumentando que desde o século I o entendimento evoluiu de tal modo que a concepção do mundo e o aparecimento do Homem são matérias que já não podem ser consideradas da mesma maneira, defendia que a ressurreição de Cristo devia ser considerada como mito. Não a rejeitava enquanto mensagem de fé, mas entendia que deveria fazer-se a separação dos conceitos, já que, na realidade, JC não ressuscitou!…

O seu contemporâneo Thomas J. L. Altizer, também teólogo, navegava nas mesmas águas e propôs a ideia do “Ateísmo-Cristão”, fundamentando-se em estudos que lhe permitiam concluir que “o Deus soberano, absoluto, opressivo e transcendente, morreu em Jesus Cristo. Deus aniquilou-se a si próprio para que uma nova manifestação do espírito pudesse aparecer sob uma forma profana. A morte de Deus deveria ser saudada pelos cristãos como um acto redentor que liberta o homem da escravidão a uma divindade despótica que lhe permite aguardar, confiante, uma nova epifania do Espírito no mundo”.

Estas eram as preocupações de alguns homens de religião despoletadas pela guerra, pelos horrores e pelas atrocidades que se conheceram em 1945. Hoje, quando assisto a uma missa observando o que ali acontece, retrocedo para a Idade Média!… A Igreja não ouviu os seus influentes teólogos de há 80 anos.

(Por preguiça de aprender novas regras, o autor não obedece ao último Acordo Ortográfico. Basta-lhe o Português que lhe foi ensinado na Escola Primária por professores altamente qualificados)