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FakeNews: política, telenovelas e Bíblia

As notícias falsas (Fake News) estão tão enraizadas na sociedade que é difícil saber-se o que é verdadeiro e falso numa campanha eleitoral, numa mensagem publicitária ou numa discussão parlamentar. As Fake News são uma espécie de “informação” criada com o propósito de desinformar, de enganar quem as toma por verdadeiras. Divulgam mentiras por verdades, intoxicam a opinião pública e induzem “as suas vítimas” a pensarem e a fazerem como os seus promotores querem que elas pensem e façam. 

Neste momento temos nas Fake News (FN) criadas pela extrema-direita, a difusão da ideia de que os imigrantes são bandidos que infestam as ruas das nossas cidades, matam velhinhas e comem crianças ao pequeno almoço. As FN são usadas com fins políticos ou económicos para benefício de alguém ou algo. Todos nos lembramos da garantia que Cavaco Silva deu de o BES não ter problemas financeiros, que estava com os cofres cheios de dinheiro e os seus clientes podiam confiar na seriedade do banqueiro!… Quem discordaria da opinião avalizada de um economista de tal gabarito?!… E foi o que se viu! 

Foto de Jorge Franganillo na Unsplash

As Fake News foram usadas nos EUA em benefício de Donald Trump nas eleições de 2016 (e de 2024), e de Jair Bolsonaro no Brasil em 2018, recorrendo a mensagens divulgadas massivamente nas redes sociais dizendo “cobras e lagartos” dos seus opositores, acenando o espantalho do comunismo. 

Para que as Fake News atinjam o alvo com eficácia, têm de ter algo de verdadeiro à mistura… algo que interesse à maioria de nós, levando-nos a aceitar todo o discurso como verdade, só porque uma parte dele é (ou parece ser) verdadeiro. Repare-se nos enredos das telenovelas. Aquilo é ficção, mas retrata a vida social como nós a conhecemos, e muitos dos conflitos narrados nos episódios já nós os vivemos de algum modo ou sabemos de quem os tenha vivido… mas é tudo mentira! 

É esta semelhança com a realidade que faz o interesse dos telespectadores. Esta artimanha de misturar realidade com ficção não é nova. As Fake News são velhas como o mundo, e a Bíblia é uma colecção enorme delas. À mistura com nomes de personalidades que a História nos diz terem existido, e de localidades reais, os Judeus construíram narrativas falsas afirmando-se “o Povo eleito de Deus”. Como se não bastasse a mentira histórica, ainda lhe acrescentam o maior embuste, que é a de terem sido ditadas por um deus inexistente!… 

Exemplo: Moisés é personagem do Antigo Testamento a quem se atribui o Êxodo (a retirada do povo hebreu do Egipto) e a espectacularidade das dez pragas que fizeram a rendição do faraó Ramsés II. A última delas foi a morte do próprio filho do faraó, o que nos mostra Deus como um ser infame, despótico e cruel. 

O problema desta narrativa está no facto de tais casos nunca terem existido!… Êxodos de hebreus, houve muitos… e as dez pragas narradas são tão espectaculares que teriam de fazer parte da História do Egipto… que não as regista!… A existência de Moisés não está provada pela História, e o que se conta de, em bebé, ter sido recolhido de uma cesta abandonada no rio Nilo, é cópia da história de vida que se conta de Sargão I, rei da Suméria, que viveu 600 anos antes de Ramsés II e de Moisés.

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

Perfil de Autor

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Onofre Varela nasceu no Porto em 1944, estudou pintura e exerceu a atividade de desenhador gráfico em litografia e agências de publicidade, antes de abraçar a carreira de jornalista (na área do cartune), em 1970, no jornal O Primeiro de Janeiro. Colaborou com a RTP, desenhando em direto a informação meteorológica no programa Às Dez e animando espaços infantis. Foi caricaturista e ilustrador principal no Jornal de Notícias, onde também escreveu artigos de opinião, crónicas e entrevistas.