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FÁTIMA (2)

Texto de Onofre Varela previamente publicado na imprensa escrita.

As tentativas de explicação para a “visão” dos pastorinhos em Fátima no ano de 1917, são várias. Desde as puramente religiosas, alicerçadas na fé pura, sem qualquer tentativa de explicação que ultrapasse a fé, até às mais rebuscadas e espantosas, passando pela realidade do momento histórico que então se vivia em Portugal. 

A República recém instalada (1910) destronou uma monarquia decrépita, e o poder que a Igreja mantinha até aí, ruiu por força das leis republicanas que separaram a Igreja do Estado. O sentimento anti-clerical da época compreende-se pelo facto de haver um clericalismo feroz a pedir o seu contrário. 

O povo, extremamente religioso, provavelmente sentia-se perdido entre a sua fé enraizada no mais profundo dos seus pensamentos, e a lei da República que lhe dizia, ao estilo de Camões, “Cesse tudo o que a Musa antiga canta, que outro valor mais alto se alevanta”!… 

A par disso havia o espectro da guerra. A Primeira Guerra Mundial iniciou-se em 1914 e o Exército Português participava nela. As famílias portuguesas perdiam os seus jovens nas trincheiras da Flandres, onde os soldados alemães causaram (um ano depois, a 9 de Abril de 1918) a maior derrota que os portugueses tiveram em confrontos bélicos, desde Alcácer-Quibir em 1578 (onde perdemos o rei D. Sebastião e, por arrasto, também perdemos a independência, passando Portugal a ser governado pela coroa espanhola durante 60 anos). 

Era provável que, em 1917, os portugueses se sentissem mal. E a Igreja, em particular, que era perseguida pela nova política, precisava de “um milagre” que recuperasse o seu crédito… e inventou-o, criando as “aparições marianas” já experimentadas em Lourdes (França) com êxito! 

Estas considerações históricas poderão conter alguma explicação para a origem do que aconteceu em Fátima em 1917… mas não explicam tudo. Para mim há algo que não pode ter ocorrido: a aparição da mãe de Jesus. Por várias razões. A primeira razão pertence à História Natural. Quem morre não “aparece” vivo. O meu gato jamais experimentará a “visão” do seu avô persa falecido, porque não tem imaginação para isso. A inteligência do Ser Humano dá-lhe essa imaginação, e a partir daí tudo é possível ao nosso poder criativo. 

Poderá haver alguém que diga ter visto um ente querido depois de este ter morrido, mas na realidade não viu! Foi o seu cérebro que construiu essa visão. Porém, no caso de Fátima há uma particularidade intrigante: aquilo que foi tomado pelo Sol a mover-se, crendo no que foi escrito na época, foi testemunhado não só pelo povo crente aglomerado no local da “aparição”, que poderia constituir um fenómeno de alucinação colectiva, mas também por quem se encontrava a 40 quilómetros de distância, sem o ambiente propício a tal alucinação! 

O que foi que aconteceu, então?!… 

Na verdade, não sei… e este meu desconhecimento não me permite aceitar “as aparições de fé” do modo como a Igreja as quer fazer passar. 

Mas sei que há uma tentativa de explicação que, sendo tão fantástica quanto a aparição de Maria… me parece muito mais coerente.

(Continua)

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico) 

Imagem de CrisG por Pixabay

Perfil de Autor

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Onofre Varela nasceu no Porto em 1944, estudou pintura e exerceu a atividade de desenhador gráfico em litografia e agências de publicidade, antes de abraçar a carreira de jornalista (na área do cartune), em 1970, no jornal O Primeiro de Janeiro. Colaborou com a RTP, desenhando em direto a informação meteorológica no programa Às Dez e animando espaços infantis. Foi caricaturista e ilustrador principal no Jornal de Notícias, onde também escreveu artigos de opinião, crónicas e entrevistas.