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  • 1 de Outubro, 2021
  • Por João Monteiro
  • Imprensa

AAP condena a oferta autárquica de quadro religioso

29 de Setembro de 2021

Comunicado de Imprensa

Associação Ateísta Portuguesa condena a oferta autárquica de quadro religioso pago com o dinheiro dos contribuintes

A Câmara Municipal de Gaia pagou dez mil euros ao artista António Bessa por duas pinturas que assinalam a aprovação do concurso público para a ponte D. António Francisco Santos, nome do antigo Bispo da Diocese do Porto e cuja escolha a Associação Ateísta Portuguesa (AAP) já criticou. Os dois quadros, sob o título “A ponte que nos une”, retratam cada um respetivamente o presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, e o presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues. Em ambos os quadros cada presidente aparece acompanhado do antigo bispo portuense, de jovens, de uma “Nossa Senhora” e do Santuário de Fátima como pano de fundo.

Esta situação já confirmada pelo “Polígrafo”, plataforma de verificação de factos, levanta dois problemas: um de ordem material e outro de ordem simbólica.

Por vivermos num estado laico, em que há separação clara entre o Estado e a Religião, a AAP condena o facto de uma Câmara Municipal utilizar o erário público para comprar uma obra religiosa. 

Que fique claro que nada impediria que o cidadão e artista António Bessa oferecesse uma obra da sua autoria, mesmo que religiosa, aos autarcas. Diferente é ser pago por uma instituição autárquica laica para produzir uma obra religiosa, que ainda por cima favorece uma religião em particular: a católica. 

Além disso, uma obra de arte nunca é neutra, trazendo consigo vários significados, muitos deles simbólicos. Assim, “a ponte que nos une” pode ser entendida literalmente como a ponte que unirá as cidades de Porto e Gaia, mas também os laços estratégicos que unem os dois presidentes de autarquias vizinhas. Mas a obra pode ter ainda um terceiro significado: tendo como peça central o antigo bispo e como pano de fundo Fátima, a religião pode ser entendida como a ponte que une a política dos dois autarcas. Portanto, é também pelo valor simbólico da obra, e não apenas pelo valor pecuniário desviado ao erário público, que a AAP condena esta oferta do quadro do Presidente de Gaia ao Presidente do Porto. 

Lembramos que a esfera religiosa deve permanecer afastada da esfera política, em respeito aos valores da República e da Laicidade que tanto custaram a estabelecer. 

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