Naquele tempo, Deus não era ainda o mito. Era apenas mitómano, a gabar-se de ter feito o Mundo em 6 dias, quatro mil e quatro anos antes da era vulgar, nem mais, nem menos, e descansado ao sétimo.
Era um celibatário inveterado que inadvertidamente criara Adão e Eva no Paraíso, onde matava o ócio na olaria. Fez o homem à sua imagem e semelhança e a mulher a partir de uma costela do homem.
Mandou que se afastassem da árvore do conhecimento, ordem que Eva logo desprezou, tentada por um demónio que por lá andava. O senhor Deus logo os expulsou do Paraíso, recriminando a malvada e condoído do tonto que se deixou tentar, enquanto o Demónio, igualmente expulso, foi viver num condomínio privativo – o Inferno.
Entretanto, na Terra, local de exílio, o primeiro e único casal logo descobriu um novo e divertido método de reprodução que amofinou o Senhor e multiplicou a espécie.Deus era bastante sedentário, mas as queixas que lhe chegaram pelos anjos, um exército de alcoviteiros hierarquizados, decidiram-no a deslocar-se ao Monte Sinai onde ditou a Moisés as suas vontades. Ensandecido pelo isolamento e pela castidade veio ameaçar os homens e exigir-lhes obediência e submissão.
Algum tempo depois, vieram profetas – vagabundos que prediziam o futuro –, lançando o boato de que o velho, tolhido do reumático, enviaria o filho para salvar o Mundo. Foi tal a ansiedade nas tribos de Israel que alguns logo vislumbraram, no filho da mulher de um carpinteiro de Nazaré, o Messias anunciado.Com falta de empregos, algum pó e líquidos capitosos à mistura, criaram a inverosímil história do nascimento do pregador com jeito para milagres e parábolas. Puseram a correr que Maria fora avisada pelo Arcanjo Gabriel – o alcoviteiro de Deus –, de que, na permanente castidade, ficara prenhe de uma pomba chamada Espírito Santo.
Nascido o menino que nunca mijou, usou fraldas, fez birras ou fornicou, foi discreto na adolescência e dedicou-se cedo aos milagres e à pregação. Falava no pai e na obrigação espalharem todos as coisas que dizia. Acabou crucificado e culparam os judeus, desde então os suspeitos do costume. Claro que JC era judeu, mas isso foi e é irrelevante.Admite-se que foi circuncidado e era exímio em aramaico, língua em que discutiu com Pôncio Pilatos, que apenas sabia latim, sem necessidade de intérprete.
Depois de crucificado, demorou-se três dias, provisoriamente morto, antes de ascender ao Céu com o prepúcio recuperado, o que desencadearia muitas discussões teológicas.
Os judeus ainda hoje são odiados porque o mataram, mas há exegetas que admitem que foi calúnia dos que criaram a nova religião e quiseram eliminar a antiga. Ódio de trânsfugas!
O papa Francisco defendeu a “laicidade do Estado”. O papa Francisco surpreendeu claramente ao defender o Estado secular: “a coexistência pacífica entre as diferentes religiões fica beneficiada pelo estado secular, que, sem assumir como própria, nenhuma posição confessional, respeita e valoriza a presença do fator religioso na sociedade “.Como se conciliam tais palavras, que admito sinceras, com o que se passa em Portugal:
– Isenções de impostos de que beneficia a Igreja católica Apostólica Romana (ICAR);
– Pagamento pelo Estado dos capelães militares, hospitalares e prisionais;- Existência de uma disciplina de EMRC;
– Contratação de professores da EMRC, livremente nomeados e exonerados por bispos;- Presença de cavalos, músicos e militares nas procissões e em outros espetáculos pios;
– Profusão da iconografia católica nas paredes dos edifícios públicos;- Presença de sotainas em cerimónias do Estado;
– Designação pia de hospitais quando não há uma só Igreja com nome de políticos;
– Com dificuldades orçamentais, uma embaixada exclusiva para o bairro do Vaticano, havendo outra em Roma;
– Etc., etc., etc..
Um membro do Comité para a Promoção da Virtude e Prevenção do Vício (CPVPV), antigo Comité para a Propagação da Virtude e Eliminação do Pecado, (CPVEP) a orientar um pintor.
Uma vez que chegámos ao final da semana e preparamo-nos para descontrair, partilhamos hoje o documentário Hell’s Angel, que retrata a vida de Madre Teresa de Calcutá, narrado pelo ateu Christopher Hitchens (1949-2011).
Este documentário, que é um clássico do movimento ateísta, pretendeu apresentar uma outra perspetiva, mais negra, mas também mais real e menos romanceada, da Madre Teresa, apresentando-a como uma mulher que incitava os pobres a aceitarem a sua condição social e negando-lhes cuidados de saúde essenciais, ao mesmo tempo que angariava quantias avultadas de dinheiro, por vezes junto de pessoas com percursos menos éticos. Este documentário antecedeu o livro “The missionary position: Mother Theresa in theory and practice” (1995).
Boa sessão!
Texto da autoria de Vítor Oliveira.
Liguei à enfermeira chefe do meu serviço, a tremer de excitação, assim que recebi a notícia.
“Boa noite, chefe. Soube que vamos receber doentes de COVID-19. É verdade?”
“É verdade, sim.”
Desde o início da pandemia, dizia aos meus colegas: “quero ir para a linha da frente”. A ideia era estimulante, o desejo dessa experiência altamente apetecível. Para um auxiliar de ação médica, como eu, os dias são bastante rotineiros e os novos desafios são escassos, especialmente depois de mais 10 anos no mesmo serviço. Não me interpretem mal, eu adoro o meu trabalho e, aliás, não me vejo a fazer outra coisa que não seja aquilo que faço. A desgraça que nos assolou a todos trouxe a perspectiva da possibilidade de me colocar à prova num novo ambiente, numa nova realidade que nunca havia experimentado. Estava ansioso por poder fazer parte da linha da frente e a voz do outro lado da linha dizia que o desafio havia sido lançado e eu havia sido chamado. Aceitei, mesmo sabendo os riscos que me esperavam e não estou arrependido. Tive (e ainda tenho) a oportunidade de assistir a extraordinários exemplos de superação humana.
Hoje, depois de quase 3 meses de batalha, o meu sangue ferveu quando me deparei com a notícia que me levou a escrever estas palavras.
Segundo o jornal Agência Ecclesia, realizou-se no Hospital de Gaia, dia 17 de julho, uma celebração de ação de graças pelos recuperados de COVID-19, onde as palavras do bispo auxiliar do Porto, D. Armando Esteves, foram de que o Serviço de Assistência Espiritual pretende “proporcionar um momento de manifestação de fé, renovando a esperança e reafirmando a confiança em Deus, agradecendo-lhe pela dedicação e pela coragem daquelas e daqueles que servem a nobre tarefa do cuidado dos doentes infetados”.
Reafirmar a confiança em Deus, agradecendo ao mesmo (Deus) a dedicação e a coragem dos que estiveram na linha da frente? Compreendi bem as suas desafortunadas palavras, caro D. Armando Esteves? Vossa Excelência não estará, acaso, a romantizar excessivamente os acontecimentos através de uma óptica que é favorável à sua fé naquilo que “está” no céu? Se esse é o caso, permita-me que eu, mísero mortal, o traga de volta à realidade na terra.
Dedicação e coragem vi eu, quando colegas meus deixaram de ver a família por semanas com medo de os infetar e mesmo assim, a enxugar lágrimas de receio e saudade, continuaram a trabalhar zelosamente, todos os dias, sem faltar ao trabalho. Deus não vi, não compareceu para os ajudar.
Dedicação e coragem vi eu, quando olhos atentos e mãos extremosas ajudavam na colocação dos fatos de proteção, tapando qualquer abertura nos mesmos de forma a manter protegidos os colegas que iam entrar. Deus não vi, não compareceu para os ajudar.
Dedicação e coragem vi eu, quando desgastados após horas a suar devido ao abafo dos fatos claustrofóbicos, com sede e fome e vontade de se aliviarem dos despojos das suas funções corporais, colegas meus continuavam a ser caridosos para com os utentes que estavam a cuidar. Deus não vi, não compareceu para os ajudar.
Dedicação e coragem vi eu, quando vários enfermeiros que ficaram com úlceras de pressão devido ao uso dos equipamentos de proteção, voltaram de novo a entrar quando chamados em situação de urgência, ignorando a ferida que lhes doía. Deus não vi, não compareceu para os ajudar.
Dedicação e coragem vi eu, quando imensos grupos de voluntários se uniram para, com o seu tempo e dinheiro, nos fazerem de raiz o material de protecção que não possuíamos. Foi-me impossível não ficar emocionado ao ver redes imensas de genuína empatia humana a expandirem-se pelo ciberespaço e a conseguir arrecadar milhares de euros para esta causa. Deus não vi, não compareceu para os ajudar. Vi uma tremenda força terrenal, todos os dias, a brotar de locais onde a esperança parecia perdida… no entanto, rejubilem-se os fiéis! Foi Deus! Deus, o maior interveniente nas acções fantásticas destes seres menores! É para ele que vai o agradecimento maior! Nunca as mãos humanas, nutridas apenas pela filantropia, conseguiriam materializar assim a esperança que parecia perdida! Aleluia! Aleluia! Manifestemos a nossa fé, renovemos a esperança! O Homem é secundário e a confiança está sempre em Deus!
Poderei perguntar que Deus é esse que, embora seja capaz de facilmente intervir e guiar a natureza humana, se demonstra ser incapaz de exterminar um pequeno vírus da mãe natureza? Que permite que esse mesmo vírus possa infectar e adoecer e matar e afectar a vida de milhões de pessoas? Onde lhe anda a pujante omnipotência, bíblica em proporções, nos dias de hoje? Será que a perdeu? Não existirá um fármaco celeste que lhe trate tal problema?
Eu tinha um preconceito que seguia a esta linha, “aquele que através da fé vislumbra a ilusão da bondade celeste, dificilmente deposita os olhos na verdadeira bondade humana”. Hoje, o preconceito desapareceu e tornou-se facto, ao perceber que os meus companheiros e companheiras ficaram desprovidos dos méritos que lhes são devidos, pois os louros acabaram predados a favor de um Deus ausente.
Descobriu-se finalmente quem ditou o Corão a Maomé.
1. Só teve uma publicação relevante;
2. Estava escrita em aramaico em vez de língua inglesa;
3. Não possuía referências;
4. Não foi publicada numa revista com revisão por pares;
5. Há dúvidas se foi Ele o autor;
6. Se assumirmos que foi Ele quem criou o mundo, o que é que fez para além disso?
7. Trabalho em equipa reduzido;
8. A comunidade científica tem tido dificuldade em replicar os seus resultados;
9. Praticou não só testes em animais como também em humanos, não seguindo as regras éticas estabelecidas;
10. Quando as experiências corriam mal, Ele tentava esconder o sucedido afogando os seus sujeitos de estudo;
11. Quando os sujeitos não se comportavam como previsto, Ele eliminava-os da amostra;
12. Raramente comparecia nas aulas, apenas mandava os Seus alunos lerem o livro;
13. Há quem diga que mandou o Seu filho dar as aulas;
14. Expulsou os seus primeiros dois alunos por obterem o conhecimento;
15. Apesar de só haver 10 objetivos, os seus alunos falharam o exame;
16. Passou a maior parte do tempo a fazer gazeta no topo da montanha.
Adaptado de: Atheist jokes
Por
Onofre Varela
Abraão, o patriarca das três principais religiões monoteístas, teria vivido entre 1812 aC e 1637 aC. Foi exaltado por Moisés que só aparece na estória bíblica 500 anos depois. Hoje, Abraão é venerado por mais de metade da Humanidade, como pai espiritual da fé (cerca de 2000 milhões de Cristãos, 1300 milhões de Muçulmanos e 15 milhões de Judeus). Oriundo da família de Sem (filho de Noé, e de cujo nome deriva o termo “Semita”), teria nascido em Ur, cidade da Suméria a sul de Bagdad, na Mesopotâmia, local do nascimento da civilização cerca do ano 5000 aC.
Consta que Deus lhe falou em sonhos, incentivando-o a partir para Canaã (actual Israel), cujas terras lhe seriam oferecidas para nelas fundar a sua nação, e aí poderem nascer, crescer e trabalhar, os seus descendentes. Canaã é a terra dos Cananeus, cujo termo significa “comerciantes activos”, o que conjuga com as actividades profissionais dos judeus.
As estórias que se contam de Abraão não passam de lendas. Uma delas diz que nasceu numa gruta, e um dia depois de nascer já tinha envelhecido um mês, e fez 12 anos quando completou o seu primeiro aniversário! Talvez por isso (diz-se) viveu 175 anos!… Outra lenda diz que Abraão, levado pela fé que tinha na existência de um único deus, terá destruído figuras das divindades e de ídolos com culto no seu tempo. O rei Nimrod ficou furioso e condenou-o à morte na fogueira. No momento em que ateavam fogo à lenha sobre a qual Abraão estava amarrado, formou-se um enorme lago que neutralizou as chamas transformando-as em peixes, e estes libertaram o condenado. Ainda conforme a narrativa bíblica, Abraão estava velho e não tinha filhos. A sua mulher Sara não engravidava, o que impedia o povoamento daquelas terras que Deus programou para serem o país da sua prole.
Na sua viagem pelo Egipto, Abraão combinou com sua mulher dizerem-se irmãos, para que não zombassem de um homem velho ter uma mulher nova e, eventualmente, decidirem matá-lo para ficarem com a mulher. Foi assim que o faraó soube que Sara não era sua esposa, e gostando da sua beleza tomou-a para si. Mas Deus, que não dorme, através do sonho (o modo de difundir notícias preferido pela divindade) alertou o faraó para o parentesco de Sara com Abraão. Ao acordar, o faraó reuniu a corte, chamou Abraão, confessou não saber que Sara era casada e, devolvendo-a ao marido, declarou não lhe ter tocado sexualmente, mas expulsou o casal do Egipto.
Abraão e Sara regressaram a Canaã, mas na companhia de Agar, uma escrava egípcia que os servia. Confrontada com a impossibilidade de ser mãe, Sara sugeriu a Abraão que fizesse um filho na criada Agar, cumprindo os desígnios de Deus. Assim se fez, e Agar terá sido a primeira barriga de aluguer da história! Mas as coisas não são assim tão fáceis quando o espírito feminino entra em funções específicas de confronto com uma rival, como se verá na próxima edição.
(Continua)
(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)
OV
A propósito de um convite feito pelo Conselho de Administração do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho para a realização de uma Missa, enquanto Presidente da AAP, escrevi uma carta dirigida à instituição a demonstrar o meu desagrado (ver abaixo). Assim, a AAP junta-se à Associação República e Laicidade, que também enviou um comunicado, para protestar contra um convite que consideramos ferir o princípio do Estado Laico.
Exmo. Sr. Presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho, Doutor Rui Nuno Machado Guimarães,
A Associação Ateísta Portuguesa, tendo conhecimento da realização de uma missa católica no Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho, a ter lugar hoje, dia 17 de Julho, vem por este meio protestar por a mesma ter sido convocada pelo Conselho de Administração, em conjunto com a Capelania.
Esclarecemos que não está em causa a realização da missa ou ainda os vários direitos que assistem aos funcionários do Hospital, pacientes e familiares na participação do culto a título individual e no âmbito do exercício da sua liberdade religiosa. O que para nós está em causa, é que a mesma não deveria ter sido convocada pelo Conselho de Administração, uma vez que, como dita a Constituição da República Portuguesa, vivemos num país laico onde o Estado, e portanto os seus serviços, não pode privilegiar uma religião em particular.
Aproveitamos a oportunidade para relembrar a nossa oposição à remuneração pública dos sacerdotes das capelanias, resultado do acordo entre o Estado e a Igreja Católica, porque, uma vez mais, fere o princípio da Laicidade.
Com os melhores cumprimentos,
João Monteiro (Presidente da Direção)
Associação Ateísta Portuguesa
Lisboa, 17 de julho de 2020
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.