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Mês: Abril 2020

29 de Abril, 2020 Carlos Esperança

A RELIGIÃO E A CIÊNCIA.

Por

Firmino Silva

O jogo mais importante, foi travado por força das mais imprevisíveis circunstâncias, não entre o Benfica e o Porto, o Real Madrid e o Barcelona, mas entre Deus e a Ciência.
O Estádio, o Universo; a assistência, o mundo inteiro, ;o árbitro os povos. As equipas alinharam: do lado de Deus, padres, rabinos e imans; do lado da ciência, médicos, enfermeiros, farmaceuticos, cientistas vários.

A ideia de um tal embate era velha, velha desde Galileu e Giordano Bruno, que não chegaram a ir a jogo, perderam logo na secretaria.

Desta vez, o jogo teve lugar disputou-se mesmo.

Deus perdeu, e uma vez mais, recusou conformar o resultado. Perdeu por falta de comparência. A equipa, constituida por padres, rabinos e imans, pela perimeira vez postos de acordo, regressaram de cabaeça baixa a Igrejas, Sinagogas e Mesquitas, deixando em pleno campo o velho nunca desistente adversário: A ciência.

Um facto histórico que não resisti a registar.

28 de Abril, 2020 Carlos Esperança

Sobre Anticlericalismo (2)

Por

ONOFRE VARELA

“Tal como aconteceu no último artigo, obrigo-me a começar este aludindo atitudes de sacerdotes da Igreja Católica. No Minho, houve um que promoveu o “beija cruz” tradicional da Páscoa, num lar de idosos, indiferente ao perigo de contágio do Coronavírus! Para salvar esta atitude negativa, houve duas positivas: um sacerdote da Trofa doou 80 000 € (que tinha reservado para obras em duas igrejas) ao Hospital de S. João para ajudar nas despesas de tratamento dos afectados com o vírus; e o padre da Igreja do Marquês, no Porto, distribuiu kits com refeições a quem perdeu o emprego em consequência da pandemia que nos assola. Os meus parabéns aos dois últimos. 

Voltando às razões do anticlericalismo de Tomás da Fonseca, lembro que o presente tem origem no passado. No caso do tempo de Tomás da Fonseca, vamos ter de recuar 23 anos. Apanhamos o comboio de viajar no tempo e apeamo-nos no dia 8 de Dezembro de 1854, o dia em que o Papa Pio IX proclamou em Roma o dogma da Imaculada Conceição, a cuja cerimónia assistiu o cardeal-patriarca de Lisboa, D. Guilherme Henrique de Carvalho. 

O Papa satisfazia os pedidos da Igreja Portuguesa, no sentido de Portugal obter alguma importância na definição dogmática, e decidiu-se construir um templo em Braga, no Sameiro, dedicado a “Maria que engravidou sem mácula”. Por todo o reino a coroa ofereceu património à Igreja, o que se reflectiu no sentimento religioso das populações que rejubilaram com os novos templos e recintos religiosos, tal como hoje se rejubila com a vitória de Portugal num campeonato de futebol.

Ao mesmo tempo reforçava-se a concórdia existente entre o Reino e a Igreja, de tal modo que, em muitos sectores da sociedade, clamava-se por mais intervenção do poder eclesiástico na vida social. Naquela época ainda não se tinham curado totalmente as feridas abertas nas lutas entre liberais e miguelistas, que haviam conduzido a uma guerra civil terminada 20 anos antes, em 1834. A Igreja, sempre atenta às reacções do Povo, teve consciência da sua força espiritual, e reafirmou-se perante o mesmo Povo que clamava por glórias celestes. 

A Igreja era detentora de uma soberania transcendente, situando-se acima de tudo quanto é puramente humano, colocando a realeza terrena num patamar insignificante perante o reino celeste, do qual o Papa e os bispos se intitulavam altos dignitários na Terra. Deste entendimento e da força do Clero, resultou a multiplicação dos institutos religiosos dispersos por cidades e vilas, sob a forma de escolas, hospitais, asilos e creches, onde (cito da História de Portugal, de Joaquim Veríssimo Serrão) era obrigatório “observar e propagar a Religião Católica Apostólica Romana, que é a Religião do Estado, procurando praticar as virtudes que ela ensina”.

Neste panorama, com a religião a invadir a esfera da política do Reino, não tardou que a paz entre o Estado e a Igreja sofresse alterações, alimentando focos de tensão com aqueles que não comungavam dessa aproximação da Igreja ao poder político.”

(Continua) 

Texto de Onofre Varela (O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

26 de Abril, 2020 Carlos Esperança

26 de abril de 2009 – A canonização de Santo Pereira, há 11 anos

Uma onda de entusiasmo varreu a Pátria, mas não havia necessidade de adjudicar um milagre ao beato D. Nuno, para ser elevado a santo, pois «Urbano II abriu uma exceção para quem há mais de 200 anos fosse prestado culto e reconhecida, pelo povo, a santidade», exceção que o patriarca Policarpo tinha já confirmado aplicar-se-lhe.

Nuno Álvares Pereira renunciou, porém, à prerrogativa que o dispensava do milagre, para não ser acusado de favoritismo. Recusou a passagem administrativa. Iniciou-se no ramo dos milagres e logrou a cura do olho esquerdo da senhora Guilhermina de Jesus, de Ourém, danificado com óleo fervente de fritar peixe.

Assim, o intrépido guerreiro revelou-se um poderoso antídoto contra as queimaduras e passou por mérito próprio no exame de admissão à santidade, com prova de mérito e a mesma indómita vontade de subir aos altares que o levou a maltratar castelhanos em Aljubarrota.

Com quase seiscentos anos de defunção, conseguiu a santidade para maior glória da Pátria, vaidade do clero e euforia dos créus. Durante séculos foi o terror das crianças de Castela que recusavam a sopa, agora é o orgulho dos portugueses e a cunha para tirar bilhete para o Céu, na Agência de Turismo Celeste da ICAR.

Surpreende que os papas anteriores tenham apagado o beato Pereira, que as sucessivas levas de bispos e cardeais tenham esquecido um santo desta dimensão, que desde 1431 os devotos o tenham ignorado nas novenas e que milhares de soldadores a quem caiu um pingo de solda num olho tenham recorrido àquelas horríveis obscenidades, em vez de dizerem «valha-me Santo Pereira», e aliviado a dor em vez de perderem a alma.

Foi preciso o olho clínico de JP II, a diagnosticar milagres e descobrir taumaturgos, para criar este grande santo. Teve várias nomeações no passado, e foi sempre preterido pela bajulação dos papas a Espanha e escrúpulos por alguns milhares de mortos e estropiados em Aljubarrota, minudências que lhe atrasaram a promoção.

Nun’Álvares não merecia que lhe ultrajassem a memória com um milagre tão tosco nem que transformassem o herói em colírio bento, para ser canonizado como São Nuno de Santa Maria pelo papa Bento XVI, às 09H33min (hora de Portugal) de 26 de abril de 2009.

22 de Abril, 2020 Carlos Esperança

Milagre que eu conheci

Volto ao milagre da D. Emília dos Santos para que as mentiras não se tornem verdades sem contraditório. E pode faltar-me o tempo para denunciar as fraudes.

Não cometo a ofensa de pensar que todos os meus leitores acreditam em milagres nem a injúria de acusar de semelhante ingenuidade o Papa e os bispos.

Sabe-se que a criação de beatos e santos é um negócio idêntico ao dos aviários e que os milagres estão para a indústria da santidade como as rações para a criação de frangos. Por essa razão estão encomendados milagres para João Paulo II, o papa de que há fortes suspeitas de ter acreditado em Deus, e para a Irmã Lúcia e outros bem-aventurados destinados a tornarem-se patronos de outras tantas caixas de esmolas.

O que aborrece, neste negócio, é o embrutecimento a que condena as pessoas simples, o cinismo com que as torna tolas, o impudor com que a ICAR tenta impor paradigmas medievais e sobrepor a irracionalidade da fé à virtude da razão.

A beatificação dos pastorinhos de Fátima – Francisco e Jacinta – criaram mais dúvidas aos crentes e ridicularizaram mais a sua Igreja do que os escândalos sexuais que minam os estabelecimentos de ensino que lhe estão confiados.

A cura da D. Emília dos Santos que, de vez em quando, ficava paralítica e cujo processo clínico parece ter desaparecido do serviço de psiquiatria dos Hospitais da Universidade de Coimbra, é um embuste tão primário que até os padres envergonha.

A D. Emília de Jesus tinha no Hospital de Leiria, no serviço de Medicina, uma mesinha de cabeceira cheia de santinhos e vasta quinquilharia religiosa que impressionavam o diretor. Quando, uma vez mais, voltou a andar e foi preciso rubricar um milagre, para a beatificação dos pastorinhos, logo foi atestada a intercessão no prodígio feito a meias.

O Vaticano apressou-se a dizer que o milagre foi certificado por três médicos diferentes, embora espante a convicção de que foram os pastorinhos os autores do milagre obrado. E a D. Emília, que em breve morreria curada, nunca andou bem das pernas e da cabeça.

Aqui ficam os nomes dos médicos, diferentes, que confirmara o milagre: Felizardo Prezado dos Santos, diretor do serviço de Medicina, no hospital de Leiria, Maria Fernanda Brum, médica do mesmo serviço e esposa do primeiro e uma psiquiatra que, por insondável coincidência, é filha de ambos. Última indiscrição: todos os três médicos diferentes eram servitas em Fátima.

Diz a ICAR que os ateus ridicularizam os milagres. Não se vê que é ela que escarnece a inteligência e envergonha os crentes com reiterados embustes?

20 de Abril, 2020 Carlos Esperança

Crenças e crentes

Não respeito crenças, apenas crentes e, mesmo estes, sem perder a vigilância cívica que as suas associações exijam. Abdicar da defesa da liberdade democrática e da civilização, é um suicídio que deixa livres as mãos de quem as usa para as combater.

O respeitinho é muito bonito, se queres ser respeitado respeita os outros, as crenças são sagradas, graças a Deus muitas e graças com Deus poucas, são algumas das frases com que se pretende embotar o espírito crítico, limitar o direito de expressão e perpetuar as mais intoleráveis tradições.

Se a crença, por mais tola que seja, é uma inofensiva convicção pessoal, merece apenas um sorriso, mas se à crença corresponde uma ação, devemos avaliá-la e, eventualmente, combatê-la.

Não se pode condescender com crenças alternativas sobre a higiene ou a epidemiologia. Por que motivo hão de aceitar-se crenças que defendem o assassinato para a apostasia, o trabalho ao sábado, a blasfémia, o adultério feminino ou que exigem a conversão ao seu Deus, nem que seja à bomba?

Pode condescender-se com quem recusa uma transfusão de sangue e põe em risco a sua vida, mas não se pode tolerar quem recusa as vacinas e põe em causa a vida dos outros.

Há um eterno conflito entre os direitos individuais e os interesses coletivos que cabe aos Estados compatibilizar de acordo com os avanços civilizacionais. A Humanidade ganha sempre quando enfrenta os dogmas e perde quando os aceita.

Tudo o que é afirmado sem provas pode igualmente ser contestado sem elas. A alegada vontade de Deus não pode ser aceite se alguém a tentar impor aos outros. Deus pode ter criado o mundo em seis dias, ter descansado ao sétimo e nunca mais ter feito o que quer que fosse, mas ninguém tem o direito de impor semelhante crença a quem a recuse.

A autoridade das religiões em questões morais depende da comprovação dos factos em que a sua doutrina assenta. Se a fé é a única razão invocada, não há razão para substituir por outros, os modelos de racionalidade elaborados por quem cultiva a razão e confia na ciência, sem recurso a seres hipotéticos ou à espera de outra vida para além da morte.

Estamos a viver um tempo em que as crenças e os vírus ameaçam a sobrevivência da Humanidade.

19 de Abril, 2020 Carlos Esperança

Do Pogrom de Lisboa à violência islâmica de hoje

Há 514 anos, abril era mês e 19 dia, de um domingo do ano 1506 da era vulgar. Reinava el- rei D. Manuel I e no convento de S. Domingos, em Lisboa, rezava-se com fervor pelo fim da seca, da fome e da peste. Um crente, embrutecido pela fé e, certamente, pelo clero, viu no altar o rosto iluminado de Cristo, milagre que os devotos julgaram de bom augúrio.

Um cristão-novo, a quem a astenia da fé não estiolara a razão, tentou explicar o prodígio com o reflexo da luz mas, calado pela multidão, foi espancado até a morte. Em Portugal, nove anos depois da conversão forçada, os judeus ainda eram os suspeitos habituais da heresia que incitava a vingança divina, aplacada com a morte dos hereges, acusados de deicídio e de todos os males.

Com a corte em Abrantes, para fugir à peste, a populaça, instigada por dominicanos que prometiam a absolvição, a quem matasse hereges, fez a «Matança da Páscoa». Homens, mulheres e crianças foram chacinados e queimados em fogueiras improvisadas, junto ao largo de São Domingos. No alvoroço, o escudeiro do rei, João Rodrigues Mascarenhas, um cristão-novo, foi morto por engano por crentes exaltados, entre milhares de pessoas que Deus se encarregaria de descobrir quais eram judias.

A barbaridade de há 514 é uma nódoa indelével cujo enforcamento, por ordem do rei, dos frades beneditinos que incitaram ao crime, não apagou. A Inquisição viria depois para prolongar até à náusea a infâmia da demência cristã.

Hoje, depois do Renascimento, do Iluminismo e da Revolução Francesa, o cristianismo comemora o mito da ressurreição pacificamente e em festa, enquanto a cegueira da fé e do Corão espalham o medo e a morte. Há 5 anos, no Iémen, a Cruz Vermelha Internacional pediu uma trégua de 24 horas para prestar cuidados de saúde a 1700 feridos que sobreviveram a 519 mortos. Numa universidade do Quénia, mais de 800 estudantes foram atacados por jihadistas da Al-Shabab que indagavam se eram cristãos ou muçulmanos. Mataram 148 que não sabiam ler em árabe os preceitos muçulmanos. Na Nigéria, continuam os raptos e um ex-ditador islamita ganhou as eleições. Prometeu eliminar o terrorismo mas é adepto da ‘sharia’. Naturalmente. Os Estados norte serão submetidos à lei islâmica e o sul, cristão, ficará também dominado por um muçulmano democraticamente eleito. Passados 5 anos o número de vítimas do Islão não parou de crescer.

Al-Qaeda, Boko Haram ou Estado Islâmico são metástases do mesmo cancro. Não se fala em matanças da Páscoa porque os facínoras não têm Páscoa nem fazem tréguas às matanças e infundem o terror e a violência de que são portadores lembrando os tempos mais sombrios do passado cristão das Cruzadas e da evangelização.

E nós, livres-pensadores, cristãos, ateus, ou crentes de qualquer outra religião menos violenta e implacável, esperamos que a ‘verdadeira interpretação’ do Corão, o manual terrorista, o torne humanista e defensor da laicidade.

18 de Abril, 2020 Carlos Esperança

A tradição, a laicidade e a traição

A Igreja católica goza de privilégios incompatíveis com a laicidade a que o Estado está obrigado. Há situações bem piores, e trágicas, onde as teocracias se mantêm instaladas, mas isso não exonera o Estado português da obrigação de defender a igualdade entre os cidadãos e de se declarar incompetente em questões de fé.

A ausência de sentido de Estado e de respeito pela Constituição permitiu ao atual PR ter sido presidente da Comissão de Honra da canonização de Nun’Álvares Pereira, a cuja intercessão se deve a cura do olho esquerdo de uma cozinheira que o queimou com óleo fervente de fritar peixe. Não descubro como o economista de Boliqueime soube que foi D. Nuno e não Afonso Costa, por exemplo, o autor do milagre.

É um abuso de qualquer religião a interferência na esfera pública, tal como a ingerência do Estado nas religiões.

A neutralidade do Estado é condição sine qua non para evitar conflitos religiosos. A própria Espanha, onde a Igreja conta com um Governo amigo do peito e da hóstia, já se encontra em litígio por causa das leis da família. O cardeal Rouco deseja o regresso ao franquismo e Rajoy pretende manter um módico de sentido de Estado.

Sabemos o que custou à Europa a liberdade religiosa. Só após a Guerra dos 30 Anos, graças à paz de Vestefália, foi possível viver sem acreditar ou crer de forma diferente do Papa. A Igreja católica só aceitou a liberdade religiosa durante o concílio Vaticano II, reconhecimento que Bento XVI aceitou com azedume e ranger de dentes antes da sua jubilação. Do papa Francisco ainda não conhecemos as intenções.

Não se percebe que em época de crise o Estado português continue a pagar o ensino religioso em escolas oficiais, a professores livremente nomeados e exonerados pelo bispo da diocese, ou a subsidiar escolas religiosas onde a coeducação é proibida e as leis da família, votadas livremente pelos portugueses, combatidas pelo proselitismo beato de quem cumpre a vontade divina sem prescindir da remuneração profana.

No período de reconstrução da economia destruída pelo COVID- 19 que sentido faz ter duas embaixadas em Roma, uma para Itália e outra para o Vaticano, esta última certamente para proceder à importação de bênçãos e exportação de óbolos gerados em Fátima.

Invocar a tradição é apelar à traição. Só a laicidade garante a liberdade religiosa.

«O Estado também não pode ser ateu, deísta, livre-pensador; e não pode ser, pelo mesmo motivo porque não tem o direito de ser católico, protestante, budista. O Estado tem de ser céptico, ou melhor dizendo indiferentista» Sampaio Bruno, in «A Questão religiosa» (1907).

17 de Abril, 2020 Carlos Esperança

Como procurar o caminho do Céu

De como um professor republicano podia impedir a carreira da santidade. Antes analfabeta toda a vida do que um dia de aulas com um professor republicano.

«O professor não era grande coisa… era republicano. E só ensinava a ler, não ensinava a escrever.»

(Irmã Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado)