Loading

Mês: Janeiro 2020

13 de Janeiro, 2020 Carlos Esperança

A Igreja católica espanhola

Filha do papa Pio XI, que concedeu à sedição de Franco o carácter de Cruzada, contra a República, é a Igreja que manteve silêncio face ao genocídio que, depois de ter ganhado a guerra, o ditador praticou contra o seu povo.

A Igreja que goza de pingues contribuições do Estado, isenções de impostos e, até há pouco, do direito à apropriação de bens públicos, é a Igreja que não tolera a democracia, humilha a mulher e esconjura os direitos humanos.

Os clérigos são ainda, na sua maioria, filhos da falange e de pai incógnito, guerrilheiros da extrema-direita e terroristas ideológicos. São talibãs romanos, com colar ao pescoço e batina sebenta a pedir a Deus que derrube o Governo, mantenha a mulher submissa e consinta aos padres o direito a decidir sobre a sexualidade.

A Igreja a quem João Paulo II criou cardeais reacionários, sagrou bispos ultramontanos e de defuntos pouco recomendáveis fez um ror de santos, continua a ser o alfobre onde germina a extrema-direita e nascem como cogumelos quadros para o VOX, saudosistas de Franco e falangistas fora de prazo.

A tomada de posse do novo primeiro-ministro, Pedro Sánchez, sem bíblia e crucifixo, deixou aquele bando de parasitas de Deus a espumar de raiva, a uivar imprecações, a ruminar vinganças, e a pedir ao seu Deus que amaldiçoe estes governantes, derrube o governo e faça ajoelhar a Espanha aos seus pés.

O cristo-fascismo está vivo na horda de clérigos saudosos da ditadura e da Reforma, a sonharem com a Inquisição e os autos-de-fé, enquanto rezam o breviário e, em êxtase, relembram bênçãos que em gozo místico lançavam aos fuzilados franquistas nas praças de touros.

É desta fauna clerical que se alimenta a contrarrevolução espanhola que só a pertença à União Europeia impede de porem em marcha.

Que choldra ignóbil!   

12 de Janeiro, 2020 Carlos Esperança

A ICAR e a mulher

Este excerto que se segue, foi retirado do livro “As Damas do Séc. XII. A Eva e os Padres” da autoria de George Duby, historiador medievalista, especialista da época designada por Idade Média. Vamos ler!

(…).

“Convidar as mulheres, pelos menos as mais nobres, a confiar-se a um homem da Igreja era tratá-las como pessoas, capazes de se corrigirem.

Mas era também capturá-las.

A Igreja apanhava-as nas suas malhas.

No limiar do segundo milénio, na época em que Burchardo de Worms* trabalhou, deu-se na Europa um acontecimento de considerável importância. Que, ao modificar as relações entre o masculino e o feminino, marcou profundamente toda a cultura europeia e as suas repercussões ainda hoje não se dissiparam por completo. Instituição de longe a mais poderosa de todas, tanto mais forte quanto depurava o seu pessoal e se desligava de qualquer outro controlo, a Igreja decidiu colocar sob o seu rigoroso domínio a sexualidade. A Igreja estava então dominada pelo espírito monástico.

A maior parte dos seus dirigentes, e dos mais empreendedores, eram antigos monges.

Os monges julgavam-se anjos.

Pretendiam, como estes, não ter sexo e viam honra na sua virgindade, professando horror pela mácula sexual. A Igreja, por conseguinte, dividiu os homens em dois grupos. Aos servidores de Deus, proibiu o uso do seu sexo; permitiu-o aos outros, nas condições draconianas que decretou.

Restavam as mulheres, o perigo, uma vez que tudo girava em redor delas.

A Igreja decidiu subjugá-las.

Para tal, definiu claramente os pecados de que as mulheres, pela sua constituição, se tornam culpadas. No momento em que Burchardo compunha a lista destes pecados específicos, a autoridade eclesiástica acentuava o seu esforço para reger a instituição matrimonial. Impor uma moral do casamento,

governar a consciências das mulheres: um mesmo projecto, um mesmo combate.

Foi longo.

Acabou por transferir para os padres o poder dos pais de entregar as mãos das filhas a um genro e por interpor um confessor entre o marido e a sua esposa” (Duby, 1996:39-40).

“Os padres tinham que ajudar os pecadores a purgar-se inteiramente, portanto, submetê-los ao questionário, forçá-los à confissão. Assim que o penitente começava a reconhecer os seus pecados, seria bom atiçar nele a vergonha, instá-lo a ir mais longe, a examinar lucidamente o mais profundo da sua alma” (Duby, 1996:21).

“O «Decretum» apresenta-se como ferramenta indispensável de purificação geral. Dos vinte livros que o compõem, os cinco primeiros tratam do clero e dos sacramentos, que ele distribui, isto é, dos agentes deste saneamento necessário. Vem a seguir um catálogo exaustivo dos pecados que há para extirpar punindo-os conforme a sua gravidade” (Duby, 1996:20).

“Burchardo de Worms insta o padre a interrogar directamente as mulheres. Depois de ter enunciado cento e quarenta e oito perguntas, o «Medicus» avisa:

«Se as perguntas supracitadas são comuns às mulheres e aos homens, as seguintes destinam-se especialmente às mulheres»” (Duby, 1996:23).

Transcrevo a seguir algumas perguntas que estava instituído fazer às mulheres durante a confissão, segundo as orientações fornecidas pelo penitenciário Decretum, obra do bispo Burchardo de Worms, um dos “fabricantes” e perpetuadores do pecado e dos interditos.

“«Fizeste o que certas mulheres têm o costume de fazer, fabricaste uma certa máquina do tamanho que te convém, usaste-a no lugar do teu sexo ou de o de uma companheira e fornicaste com outras ruins mulheres ou outras contigo, com esse instrumento ou com outro?»;
«Fizeste como essas mulheres que «para extinguirem o desejo que as atormenta se juntam como se pudessem unir-se?»;
«Fornicaste com o teu menino, isto é, pousaste-o sobre o teu sexo imitando assim a fornicação?»;
«Ofereceste-te a um animal, provocaste-o para o coito com algum artifício?»;
«Provaste a semente do teu homem para que ele arda mais de amor por ti?»;
«Misturaste, para o mesmo fim, no que ele bebe, no que ele come, diabólicos e repugnantes afrodisíacos, peixinhos que puseste a marinar no teu interior, pão de massa batida sobre as tuas nádegas nuas, ou então um pouco de sangue dos teus mênstruos, ou ainda uma pitada de cinzas de um testículo torrado?»;
«Exerceste o proxenetismo, de ti ou de outras? Quero eu dizer, vendeste, como as putas, o teu corpo a amantes para que dele gozassem? Ou, o que é mais maldoso e culpado, o corpo de outra, quero dizer, a tua filha ou a tua neta, outra cristã? Alugaste-a? Alcovitaste?»;
«Fizeste o que certas mulheres têm o costume de fazer quando fornicaram e querem matar o que trazem? Actuam para expulsar o feto da matrix, seja com malefícios, seja com ervas? Assim matam e expulsam o feto ou, se ainda não conceberam, fazem o que for preciso para não conceber»;
«Foi por pobreza, por dificuldade em alimentar a criança, ou por fornicação e para esconder o pecado?»” (Duby, 1996:24-26).
“Por outro lado, e é a principal razão, o homem é a cabeça da mulher. É responsável pelos actos e pensamentos daquela que desposou. O que a vê fazer abertamente, o que a ouve dizer abertamente e que desagrada a Deus, é seu dever proibir-lho. E se outras mulheres da sua casa, as suas filhas, suas irmãs e até serventes da cozinha, repetem em coro os refrãos que a Igreja reprova, terá que, de cacete em riste, as calar. (…) O homem é o seu «dono e senhor». Elas estão à sua mercê e, ao longo de todo o Decreto, muitas referências aos textos conciliares reforçam este postulado. Cito duas. No livro XI, Burchardo transcreve os termos do juramento que o marido e a sua cônjuge eram chamados a prestar quando o bispo os reconciliasse.

O homem diz simplesmente:

«Tê-la-ei doravante como um marido segundo o direito deve ter a sua mulher, acarinhando-a na necessária disciplina; não me separarei dela e não tomarei outra enquanto ela viva».

A mulher fala durante mais tempo porque se compromete mais.

«Doravante tê-lo-ei e enlaçá-lo–ei e ser-lhe-ei submissa, obediente, no serviço, no amor e no temor, como segundo o direito deve a esposa ser sujeita ao marido. Não me separarei mais dele e, sendo ele vivo, não me ligarei a outro homem por casamento ou adultério»” (Duby, 1996:33-34).

Conclusão

“Do lado feminino, a servidão, a tremura, a vergonha; deste lado, e só deste lado, o adultério e as terríveis sanções que o castigavam” (Duby, 1996:34).

* Burchardo de Worms – Bispo de Worms, antes monge de Lobbes, elaborou o Decretum, “que mostra onde está o direito reunindo, classificando os «cânones», as decisões tomadas ao longo da história nos concílios, nas assembleias de bispos, e as prescrições contidas nesses livros chamados «penitenciários», porque indicavam, para cada pecado, a pena que haveria de resgatá-lo” (Duby, 1996:18-19).

Bibliografia

DUBY, Georges. (1996). As Damas do Séc. XII. 3 Eva e os Padres. Teorema. Lisboa.

10 de Janeiro, 2020 Carlos Esperança

O proselitismo e a violência

O pior que algumas religiões encerram é o seu proselitismo. Não lhes bastam os crentes próprios, exigem a conversão dos alheios ou a sua eliminação. A evangelização cristã é hoje, felizmente, uma tara acalmada com a repressão política sobre o clero. Abandonou há muito os métodos cruéis de evangelização que usou em vários continentes e, de forma particularmente violenta, na América do Sul.

Na Europa , a paz de Vestefália, pôs fim à sangrenta Guerra dos 30 Anos e a Igreja católica só aceitou a liberdade religiosa na década de 60 do século passado, no concílio Vaticano II. O azedume de João Paulo II e de Bento XVI apenas fez mal aos próprios e foi irrelevante para a liberdade religiosa europeia onde o secularização dos países tornou impensável qualquer perseguição.

O Islão, pelo contrário, na cópia grosseira do cristianismo introduziu a guerra como um instrumento de contágio e submissão, agravado pela decadência da civilização árabe e o ressentimento dos crimes de que foi alvo por países saqueadores de matérias primas, em especial o petróleo.

É incontestável que os crentes não são piores nem melhores do que os não crentes mas ninguém faz o mal com tanto entusiasmo e satisfação como os que são movidos pela fé.

Não é inocentando os crimes sectários das religiões que se estabelece um modus vivendi num mundo onde as diferenças deviam ser fatores de enriquecimento e não motivos de conflito.

Quando os crentes se convencerem de que as suas religiões refletem as formas de pensar da época em que surgiram e não palavras ditas por um ser ilusório, sem aparelho fónico, podem cumprir os preceitos que se habituaram a observar, desde crianças, e deixar no templo a obsessão de submeter os outros às suas próprias convicções.

Ao proselitismo não se podem tolerar outras armas para além da palavra e do exemplo e as armas devem ser banidas da evangelização. As democracias, por mais que sangrem, não podem ultrapassar os limites do Estado de Direito contra o terrorismo, sob pena de perdermos o Estado e o direito e ficarmos apenas reféns do terrorismo recíproco.

8 de Janeiro, 2020 Carlos Esperança

O Vaticano e a liberdade

Há quatro anos, o Vaticano “acusou o Charlie Hebdo de não ser capaz de respeitar todos os crentes de todas as religiões”. Tem absoluta razão e o direito inalienável de exprimir a sua opinião. Não se pode negar-lhe a liberdade que as democracias reivindicam, mas teme-se que o Vaticano, se pudesse, o obrigaria a respeitar “todos os crentes de todas as religiões” ou, de preferência, os crentes da sua.

A coerência não é uma virtude teologal nem a liberdade uma epifania eclesiástica. Por que motivo há de alguém respeitar quem não respeita a vida dos outros, a igualdade de género e a liberdade individual? Que legitimidade têm as religiões para impor os seus dogmas, excentricidades e mitos de que se alimentam? Pode alguém, em seu perfeito juízo, pedir respeito por quem degola, lapida, aterroriza e impõe normas de conduta a quem despreza o deus que os homens da Idade do Bronze inventaram a partir das tribos de então e à semelhança dos seus patriarcas?

Não se deve apenas desacreditar as religiões, mas procurar salvar todos os crentes dos seus venenos, através da instrução. Devemos aceitar a imposição do horror ao toucinho, a direção das micções, o ódio à música, a misoginia, a xenofobia e a vontade pia?

Quem se pode escarnecer e ofender? Os ateus, os livres-pensadores, os sátiros, o Diabo? E porque não os bombistas, os que se ciliciam, os que rezam o terço dentro ou fora de água, os que fazem retiros espirituais, apedrejam Satanás ou os distinguem a água benta da outra?

Em 2008, o patriarca Policarpo, um dos mais atilados bispos da Igreja católica, afirmou: “A maior tragédia do nosso tempo é o ateísmo”. Nem a guerra, a fome, as epidemias, os tsunamis ou os crimes religiosos lhe pareciam piores! Nesse mesmo ano, um cardeal português, Saraiva Martins, colocado no Vaticano, a rubricar milagres para a criação de beatos e santos, presidiu à peregrinação do 13 de maio, em Fátima, a maratona anual, sob o lema “Contra o Ateísmo” e não “a favor da conversão dos ateus”, com uma carga menos belicista e mais tolerável, embora de resultados igualmente duvidosos.

O horror que as religiões têm pelo ateísmo é o mesmo que os ateus têm pela superstição e pelas mentiras pias. Podemos detestar opções filosóficas alheias, o que não podemos é perseguir quem as perfilha. De um lado e do outro.

Pôr cornos ao Diabo ou meter-lhe um tridente nas garras é um exercício de imaginação igual ao de Jeová com uma bomba às costas. Deus não costuma importar-se com essas ninharias e depois de o terem acusado da criação do mundo, sem o qual ele próprio não teria sido criado, jamais fez prova de vida.

Se Deus estivesse inscrito no desemprego nunca teria recebido qualquer subsídio.

7 de Janeiro, 2020 Carlos Esperança

Vamos lá ver se nos entendemos

Por

Fernando Rodrigues (publicado no Faceboock em MR5O)

Para mim a pior Ditadura a mais criminosa e terrorista que existe é a Ditadura Religiosa , seja de que Religião ou seita comercial religiosa seja.
Um Extremista Fundamentalista, fanático Religioso, seja Cristão ( com todas as suas vertentes, Romana, Protestante, Ortodoxa, etc) Muçulmano, Judeu, Hindu, Budista e como é lógico de todas as seitas comerciais que se dizem religiosas é o pior que pode existir, porque só a sua verdade conta, não admite contraditório e tudo o que o rodeia que não pense como ele é inimigo e se possível para eliminar.

Por Isso sou adepto de os Países deverem ter Estados Laicos. Só pode existir Democracia verdadeira se o Estado for Laico , pois é o único onde TODOS os seus cidadãos têm exactamente os mesmos direitos e deveres, sejam Religiosos ou Ateus e o Estado trabalha para TODOS de forma Igual.


Estado Laico significa liberdade total Religiosa, mas como assunto privado e só nos lugares de culto ou nas suas casas como é lógico, Resumindo a Religião é um assunto Privado e onde o Estado não tem religião oficial e a Religião não interfere nos assuntos do Estado, o Estado não financia Religiões sejam elas quais forem e TODAS as religiões são obrigadas a cumprir as Leis do País e todas as religiões são tratadas em pé de Igualdade e podem existir desde que cumpram as leis do País.

6 de Janeiro, 2020 Carlos Esperança

Deus e a liberdade

Em 2016, já com este Papa, o Vaticano considerou desonesta a caricatura de ‘deus assassino’ na edição do Charlie Hebdo, quando assinalou um ano em que o sangue dos seus desenhadores foi derramado em nome da fé e do biltre que a fundou.

O diário da teocracia católica, «L’Osservatore Romano», tem o direito de condenar a linha editorial do Charlie Hebdo, mas não podia exigir-lhe, em nome da vontade do clero romano, que expressasse a condenação da violência em nome da fé. Quem não é obrigado a ler o jornal de compra facultativa, não tem o direito de lhe exigir normas de conduta.

A linha editorial dos jornais, satíricos ou sisudos, não pode nascer nas sacristias ou nas madrassas. O que o Vaticano exigia era a censura a quem descrê do Deus do papa, do dos celerados islâmicos ou de qualquer outro.

O que está em causa é a liberdade de expressão, o direito de criticar e ridicularizar todas as doutrinas e mitos, do ateísmo à bruxaria, de Jeová a Shiva, do Boi Ápis a Maomé, no país onde «A República [Francesa] assegura a liberdade de consciência » e «garante o livre exercício dos cultos» (Art.º 1) mas «não reconhece, não remunera nem subvenciona nenhum culto» (art.º 2 ) da lei de 11 de Dezembro de 1905, texto que Pio X condenou e que João Paulo 2 e Bento 16 se esforçaram por remover.

As religiões dão-se mal com a liberdade, mesmo as que a repressão política ao seu clero submeteu à democracia. A abolição da inquisição, censura e conversões forçadas custou demasiado sangue. A cura da demência fascista islâmica custará rios de sangue e não é o respeito a facínoras medievais que impõe a liberdade de expressão.

Seria estulto que o Charlie Hebdo desse indicações sobre a liturgia da missa, tal como foi para o Vaticano perorar sobre a forma como o semanário satírico devia exercer o direito à sátira, ao sarcasmo e à blasfémia.

Os jornais satíricos devem abster-se de dilatar a fé e as religiões de limitar a liberdade.

3 de Janeiro, 2020 Carlos Esperança

A Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR) lava mais branco

Embora tenha recorrido mais ao fogo do que à água, prefira a incineração ao banho e se dedique à superstição mais do que à ciência, a ICAR está longe da boçalidade do islão.

Os padres da ICAR, libertos da tonsura que os marcava como propriedade da Empresa, à semelhança do ferro que as ganadarias usam, os padres – dizia –, comportam-se hoje como pessoas normais enquanto não são solicitados a debitar os horrores eternos que o patrão reserva para os hereges, sacrílegos e apóstatas.

Aliás, a civilização atenuou-lhes o ímpeto purificador que, na ânsia de salvar almas, os levava a estorricar corpos. E, assim, foi esmorecendo o desejo de converter ímpios, à custa da tortura, e a pia intenção de espalhar a boa nova eliminando os relapsos.

A ICAR não é o bando de santos que fabrica com desvelo, a máquina de obrar milagres oleada com emolumentos das dioceses que submetem à santidade bem-aventurados, é uma empresa que vive do negócio da fé, da fábula de Cristo e da ameaça do Inferno.

Pior do que o clero católico são os judeus de trancinhas à Dama das Camélias, pastores evangélicos dos EUA e os mullahs. Pior do que bispos espanhóis são os talibãs do islão e só o califa pede meças aos ayatollahs.

O defeito dos monoteísmos está no espírito dos mais pios, na cabeça dos prosélitos e na ação dos cruzados obsoletos que querem expandir a fé.

É por isso que a ICAR conta na galeria dos horrores, alguns com milagres averbados e lugar reservado nos altares, sórdidas criaturas de escassa virtude e santidade.

Stepinac e Pavelic, Escrivà e Franco, Videla e Pinochet, Salazar e Moussolini, Bernard Law e Hans Hermann Groer, Marcincus e Rouco Varela, Voityla e Rätzinger, são grãos da seara arroteada pela ICAR.

Stepinac esteve ligado ao campo de extermínio de Jasenovac, dirigido pelo franciscano Miroslav Filipovic, o Frei Morte, no lúgubre testemunho dos sobreviventes ortodoxos sérvios. JP2 canonizou o carrasco católico e desprezou os mártires sérvios vítimas do campo de horror de Jasenovac.

É esta gente, este bando de fanáticos e assassinos que a Igreja vai procurando branquear como se fossem beneméritos ou, pelo menos, cidadãos recomendáveis.

Nem o Papa Francisco parou a onda de santidade que percorre cadáveres de perversos.

2 de Janeiro, 2020 Carlos Esperança

Deus, os padres e os crentes

Deus é acusado de ter criado o Mundo e não consta que, depois disso, tenha feito algo mais. Não fez obra asseada nem mostrou bom senso, mas não faltam voluntários a enaltecer a obra nem candidatos a testamenteiros da vontade divina.

Quem se julga feito à imagem e semelhança de Deus tem direito a essas e outras tolices, mas não tem o direito de impor a vontade à força, de converter incréus pela violência, de purificar os pecadores pelo fogo, com lapidações e outras formas de pedagogia ativa de que as religiões gostam.

O clero é uma classe parasitária que vive da venda de uma mercadoria cuja existência não pode provar, que exerce poder e influência graças a truques de utilidade duvidosa, que promete o Paraíso a preços insuportáveis com o álibi de que tem o monopólio e o alvará da única agência de transportes. O que me surpreende é a clientela que mantém, a fidelidade dos fregueses e a sua dedicação.

Em 2005, o Grande Oriente Lusitano – Maçonaria Portuguesa entregou na Torre do Tombo um dossiê de 121 folhas, em papel almaço dactilografado, com agentes daquela organização fascista que recolhia informações sobre os democratas. Ora, na cáfila de delatores e gente de mau porte, havia duas páginas de párocos. Sucedia o mesmo na PIDE onde bufos de sotaina denunciavam democratas antes ou depois da confissão.

Como cidadão lamento que os esbirros não tenham sido julgados e os crimes da PIDE e da Legião Portuguesa tenham ficado impunes mas, como ateu, – é isso que ora interessa –, fico perplexo com a boa fé dos crentes que se genufletem aos seu pés e lhes osculam as mãos. Sempre me nauseou a bajulação de quem é capaz de beijar a mão de um padre, a fragilidade de quem é capaz de confessar atos cuja indignidade uma reta consciência devia impedir de cometer.

Claro que não são todos. Pudera! Mas alguém duvida da poderosa arma que constitui a confissão e das numerosas vezes que foi, é e será usada para benefício da santa máfia que se dedica aos negócios de Deus e à conquista metódica e persistente do poder?

Comemorou-se em 2005, em França, o centenário da separação do Estado e da Igreja. Esta, sem a laicidade comportar-se-ia em Portugal de forma diferente do que em Timor? Em Espanha, durante o Governo do PSOE, a ICAR respeitou a legalidade democrática?Em Espanha as leis sobre a família regrediram depois de o Opus Dei ter infiltrado os Governos do PP. Não vitupero os crentes mas acuso as crenças que são nefastas.

1 de Janeiro, 2020 Carlos Esperança

Cristo e Maomé

Naquele tempo o arcanjo Gabriel era o alcoviteiro celeste. Foi ele que anunciou a Maria a gravidez o que qualquer mulher teria notado. Foi ainda ele que, seis séculos depois, se encontrou com Maomé para lhe dizer qual era a sua missão.

Os anjos viviam muito tempo embora poucos conhecessem a notoriedade, levando uma existência discreta e anódina. Gabriel distinguiu-se. Fora criado por judeus, que faziam anjos como os papas fazem santos, que acreditavam em milagres com a mesma fé com que alguns padres acreditam na existência de Deus.

Maomé nasceu em Meca durante o ano de 571 e viria a morrer em Medina em 632. O Corão e as agências de turismo pio fizeram santas as duas cidades e há períodos do ano em que uma chusma de fanáticos aí acorre, apesar dos perigos que os espreitam.

Muito parecidas com as largadas de touros, um espetáculo ainda em uso no concelho do Sabugal e noutras localidades portuguesas, as peregrinações têm perigos idênticos. O apedrejamento ao Diabo, um ódio transmitido de geração em geração, salda-se sempre por várias mortes enquanto o Diabo fica incólume, à espera do próximo apedrejamento.

Maomé teve uma vida pouco recomendável, um casamento com uma menina de seis anos, coisa que a Igreja católica também não via com maus olhos, e um casamento com a rica viúva Cadija cuja fortuna lhe permitiu dedicar-se à guerra, à religião e ao plágio grosseiro do cristianismo.

Depois aconteceu-lhe o mesmo que a Cristo. Começou a ser adorado, correu o boato de que tinha nascido circuncidado, de que tinha ouvido Deus, de que foi para o Paraíso em corpo e alma, enfim, aquele conjunto de coisas idiotas que se atribuem aos profetas.

Hoje já ninguém pergunta se tomavam banho, se sofreram prisão de ventre ou foram vítimas das salmonelas, se urinavam virados para Meca ou para o Vaticano, que hábitos sexuais ou manifestações de lascívia tinham.

Cristo e Maomé tornaram-se defuntos adorados e os incréus cadáveres apetecidos.