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Mês: Junho 2019

3 de Junho, 2019 Carlos Esperança

Abraão do caraças! (Humor)

Abraão levou o filho para o deserto…. amarrou-o a uma árvore e acendeu uma fogueira debaixo dos seus pés.

De repente, uma voz diz:

– Abraão, Abraão, que é isso????

– Senhor, Senhor eu estou sacrificando o meu filho, conforme a Vossa ordem!!!!

– Não, Abraão, eu só queria medir a tua fé!!

– Mas Senhor…!!!!

– Abraão, solta o menino!!!!!

Abraão soltou o filho. O menino saiu disparado…correu, correu, correu, e Abraão gritava:

– Filho volte, filho volte, o Senhor libertou-te!!!!

O menino parou, longe, e gritou:

– Libertou o caraças!!! Se eu não fosse ventríloquo, estava bem lixado!!!

2 de Junho, 2019 Carlos Esperança

O patriarca, as eleições europeias e o silêncio dos bispos

O séquito do presidente da CEP

Esperava-se, não do arcaico bispo de Lisboa, mas de alguns dos outros 20 titulares, dos 7 auxiliares ou dos 17 eméritos e dois eméritos-convidados, que defendessem a honra da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), que o seu presidente achincalhou com a reincidência perturbadora ao serviço de partidos reacionários e fascistas.

Nem o vice-presidente da CEP, também ornamentado com barrete cardinalício, nem um emérito, onde consta o nome honrado de Manuel Vieira Pinto, nenhum teve a coragem de limpar a nódoa que o patriarca lançou sobre a Igreja de todos eles.

O Sr. Manuel Clemente, que o país julgou ter recebido o Prémio Pessoa pela sua grande intelectualidade e, afinal, deve a imagem ao prémio, com influência de António Barreto e de toda a direita portuense, podia pedir ao Vaticano a restituição do ouro a que deve o título de patriarca, que lhe afaga o ego.

De cada vez que é tratado por Sr. Patriarca, devia lembrar-se de quanto esse título para o bispo de Lisboa e o de Senhor Fidelíssimo para o rei custaram a Portugal, com ouro do Brasil enviado ao Vaticano, quando D. João V era apenas Fidelíssimo nas deslocações ao Convento de Odivelas, bordel da nobreza, onde a troca da madre Paula, amante de um nobre, custou duas freiras ao rei para ser a sua favorita.

O sr. Manuel Clemente é mais rápido a abanar a mitra, agitar o báculo, colocar o anelão na boca dos crentes e a mão na gamela do Orçamento, em defesa dos colégios privados, do que a penitenciar-se por se imiscuir nas eleições e condicionar o voto dos eleitores.

O respeito que exige para si e para a religião que representa perdeu-o há muito. Restam-lhe as genuflexões dos incondicionais, o desprezo dos próprios crentes e a humilhação dos resultados eleitorais dos partidos que apoiou.

O Sr. Manuel Clemente deve ter perdido as eleições em todas as paróquias da diocese e resta-lhe ciliciar-se no próximo retiro espiritual.

O silêncio dos bispos não é distração de inocentes, é cumplicidade de quem se habituou aos privilégios da Concordata e pressente a falta coragem dos partidos hostilizados para a denunciarem.

1 de Junho, 2019 Carlos Esperança

A Europa, o véu islâmico e a liberdade

Há 3 anos, a advogada-geral do Tribunal Europeu de Justiça, Julianne Kokott, considerou que as empresas podem não aceitar símbolos religiosos no interior das suas unidades e, assim, proibir o véu islâmico, porque vulnerabiliza a neutralidade religiosa.

Foi a primeira vez que a justiça comunitária se pronunciou sobre o que, aparentemente, se afigura como interferência nas liberdades individuais. Não faltará, pois, quem considere abusiva a medida e perigoso o precedente que mais não pretende do que evitar o desafio à laicidade e ao carácter secular da civilização europeia.
É um facto que algumas muçulmanas, por hábito e tradição, se sentem confortáveis com o adereço, mas, por cada uma que o aprecia, há centenas obrigadas a conformar-se.

Os constrangimentos sociais de guetos, onde as mulheres são a mercadoria que cabe aos homens transacionar, deve levar uma sociedade civilizada a evitar que comportamentos misóginos se perpetuem. O véu é o símbolo de submissão onde alguns veem um direito e quase todos a perpetuação de uma humilhação em função do sexo.

Foi primeira vez que, perante um despedimento numa empresa que proíbe a exibição de símbolos políticos, religiosos ou filosóficos, se vai pronunciar o Tribunal Europeu de Justiça, que habitualmente acolhe a posição da sua advogada-geral.

A exibição de símbolos religiosos como manifestação pública de comunitarismo que se perpetua terá de dar lugar à cidadania integradora. A identidade que se preserva na luta contra a igualdade de género e na afronta às sociedades abertas e cosmopolitas não é um direito, é uma provocação.