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Fake News

Por

ONOFRE VARELA

Está na moda a difusão de notícias falsas (referidas pelo termo inglês Fake News)… uma espécie de “informações” criadas com o propósito de enganar quem as receba por verdadeiras. 

Divulgam mentiras por verdades, para intoxicarem a opinião pública e induzirem a maioria de nós a pensar e a fazer como os seus promotores querem. Habitualmente usadas com fins políticos ou económicos para benefício de alguém ou algo, é um recurso usado por partidos políticos ou correntes de pensamento. 

As Fake News foram usadas nos EUA em benefício de Donald Trump, e no Brasil para levar Bolsonaro ao governo. Numa sociedade sã, defendendo interesses sociais colectivos e ecológicos, esses homens nunca seriam líderes se não fossem promovidos por narrativas enganosas e eleitos por gente, propositadamente, distraída. 

Para que as Fake News atinjam o alvo com eficácia, têm de ter algo de verdadeiro à mistura… algo que interesse à maioria de nós, levando-nos a aceitar todo o discurso como verdade, só porque uma parte dele é (ou parece) verídico. Repare-se nosenredos das telenovelas. Aquilo é pura ficção, mas retrata a vida social como nós a conhecemos, e muitos dos conflitos narrados nos episódios, já nós os vivemos de algum modo ou sabemos de quem os tenha vivido… mas é tudo mentira! É esta semelhança com a realidade que faz o interesse dos espectadores. 

Esta artimanha de misturar realidade com ficção, não é nova. As Fake News são velhas como o mundo, e a Bíblia é uma colecção enorme delas. À mistura com nomes de personalidades que a História nos diz terem existido, e de localidades reais, construíram-se narrativas falsas que, para além de as aceitarmos por verdadeiras, ainda se lhes acrescenta a maior falsidade que é a de terem sido ditadas por um deus!…

Um exemplo: Moisés é uma personagem do Antigo Testamento, atribuindo-se-lhe o êxodo (a fuga do povo hebreu do Egipto) e a espectacularidade das dez pragas que fizeram a rendição do faraó Ramsés II, a última das quais provocou a morte do próprio filho do faraó, o que nos mostra Deus como um ser infame, despótico e cruel. 

O problema desta narrativa está no facto de os casos que conta nunca terem existido!… Êxodos de hebreus, houve muitos… e as dez pragas narradas são tão espectaculares, provocaram tantos danos à sociedade egípcia, que, forçosamente, teriam de fazer parte da História do Egipto… que não as regista!… O que quer dizer que não existiram! 

A própria existência real de Moisés não está provada pela História, e o que se diz de, em bebé, ter sido recolhido de uma cesta abandonada no rio Nilo, e ter sido educado no palácio do Faraó… é cópia da história de vida de Sargão I, rei da Suméria, que viveu 600 anos antes de Ramsés II. Placas de argila com inscrições cuneiformes registam que Sargão I nasceu em segredo, filho de uma grande sacerdotisa que o abandonou à deriva num cesto nas águas do rio Eufrates, tendo sido resgatado por um homem que se abastecia de água e o criou. 

Esta estória do menino abandonado num rio também é contada como nota biográfica de outros poderosos da Antiguidade, como Ciro e Adashir, para sublinhar a capacidade que tiveram da superação do infortúnio, ascendendo a lugares cimeiros da sociedade, apesar de terem tido um nascimento tão miserável.

 (Artigo a publicar no jornal Gazeta de Paços de Ferreira de 18 de Abril de 2019)

Perfil de Autor

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- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores

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