O obscurantismo católico
Polónia – Um auto de fé atual
A Polónia, cujo Senado aprovou em 2018 a lei que pune com até três anos de prisão qualquer menção à responsabilidade direta de polacos no Holocausto – entre elas, a utilização da expressão “campos de concentração polacos” –, referida aos campos de extermínio criados pelos nazis, é o mesmo país que colaborou com entusiasmo na denúncia, captura, detenção e assassinato de judeus.
A Polónia convive mal com a democracia e com a memória. O massacre de Jedwabne não foi obra da Gestapo ou das tropas hitlerianas como, durante anos foi assinalado por uma placa. Foram os próprios polacos que, com zelo nazi, no dia 10 de julho de 1941, encerraram e queimaram num estábulo cerca de 1600 judeus, homens, mulheres e crianças, com quem conviviam em relativa harmonia. Não foi por acaso que a Igreja Católica polaca, em 27 de maio de 2001, se sentiu na obrigação de pedir “perdão a Deus pelos pecados e pelo mal causado pelos católicos durante a II Guerra Mundial”.
A Igreja católica polaca é profundamente reacionária e antissemita. Não pode ser ilibada das responsabilidades que lhe cabem na eleição dos políticos que a governam e das posições xenófobas da sua população. O próprio Papa João Paulo II era filho desse caldo de cultura, que não conseguiu ultrapassar.
Estamos em 2019, mas a Polónia de João Paulo II e dos irmãos gémeos Lech e Jaroslaw Kaczynski, este ainda vivo, mantém-se obscurantista e retrógrada, com atropelos aos direitos humanos e, em particular, à emancipação da mulher.
No último domingo, dia 31 de março deste Ano da Graça, um grupo de padres católicos realizou uma cerimónia onde queimaram livros que, segundo eles, promovem a feitiçaria. Até um livro da saga Harry Potter, escrito por J.K. Rowling, foi queimado.
A cerimónia convenientemente fotografada pela concorrência, um grupo evangélico, que a divulgou e ridicularizou, chegou ao jornal The Guardian.
Segundo o o prestigiado jornal, a cerimónia teve lugar na cidade de Koszalin, onde três padres foram fotografados a carregar um cesto de livros de dentro de uma igreja para um largo de pedras, do lado de fora, que serviu para fazer a fogueira. Enquanto os livros ardiam, foram feitas orações pelos padres, e um pequeno grupo de pessoas ficou a ver.
O obscurantismo religioso não é monopólio de uma religião, é apanágio de todas.
https://www.theguardian.com/world/2019/apr/01/harry-potter-among-books-burned-by-priests-in-poland
Perfil de Autor
- Ex-Presidente da Direcção da Associação Ateísta Portuguesa
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- Autor do livro «Pedras Soltas» e de diversos textos em jornais, revistas, brochuras e catálogos;
- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores
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