Loading

Mês: Fevereiro 2019

27 de Fevereiro, 2019 Carlos Esperança

Efeméride – Há seis anos

O dia de hoje foi o último em que Joseph Ratzinger manteve o direito a usar sapatinhos vermelhos e o alvará da infalibilidade, mantendo a Santidade, o pseudónimo de Bento XVI e o direito a qualquer outro tipo de calçado.

No helicóptero que o levou, no dia 28 do mês de fevereiro de 2013, para um estágio de ex-Papa, em Castel Gandolfo, seguiu um clérigo que trocou o poder pela longevidade.

Os caminhos de Deus são insondáveis, como se diz no jargão religioso, mas os do papa jazem no hermetismo da Cúria.

26 de Fevereiro, 2019 Carlos Esperança

A influência do Antigo Testamento

O juiz Neto de Moura tirou pulseira a homem condenado por agredir ex-mulher – lê-se hoje no JN –, de onde trago a foto do julgador e os factos.

Desta vez, apesar do cadastro, a jurisprudência pode dever-se a legislação ambígua, mas a suspeita não pode ignorar os antecedentes do venerando desembargador. A pulseira eletrónica, imposta ao delinquente pelo tribunal de primeira instância, face ao facto de, entre outras boçalidades, ter rebentado, a soco, o tímpano à mulher, era a única forma, em alternativa à prisão, de vigiar o energúmeno e permitir à vítima outra pulseira para pedir socorro, em caso de necessidade.

A lei exige autorização do condenado para imposição da pulseira, salvo se o juiz justificar a imprescindibilidade da sua utilização. Decerto o tribunal, que o puniu com o adereço, avaliou a relação conjugal “marcada pela violência e conflitos, especialmente nos últimos cinco anos, período em que o homem ameaçava constantemente de morte a mulher e repetidamente a agredia verbal e fisicamente”.

Julgado no ano passado, foi condenado a três anos de prisão, com pena suspensa, por violência doméstica agravada, ao pagamento de 2500 euros à vítima e a frequentar um programa de controlo de agressores, além da proibição de se aproximar ou contactar a ex-mulher, ficando monitorizado à distância através de pulseira eletrónica.

O juiz Neto Moura, que estuda os processos recorridos, lembrou que o homem nunca mais incomodou a sua ex-mulher, cumprindo a ordem de afastamento decretada, e ao jornal Público acrescentou que a pulseira é um instrumento de cariz intrusivo.

Não há dúvida de que a pulseira é instrumento intrusivo, só não sei se os socos e outras agressões, inclusive as que provocam a rutura do tímpano de uma mulher também o são, no caso de serem mulheres as vítimas.

Acórdãos deste jaez, não sendo raros, são menos frequentes do que mulheres agredidas, humilhadas e mortas. As portuguesas gozam do privilégio, como muito bem já notou o desembargador Neto Moura, em outro acórdão, de terem direitos que a Bíblia considera crimes e, digo eu, da sorte de o Código Penal não ser da sua autoria.

Na Arábia Saudita, o venerando desembargador seria considerado demasiado brando para as mulheres, apesar de ter um código penal mais exigente, segundo a vontade divina, como a interpretou um beduíno analfabeto com mais de mil milhões de devotos.

É uma pena, à semelhança dos treinadores de futebol, não poder exercer o múnus nessas paragens.

25 de Fevereiro, 2019 Carlos Esperança

Andar sobre as águas

Segunda a lenda houve dois homens que andaram sobre as águas em toda a história da Humanidade:

– O primeiro foi Cristo.

– O segundo foi Pedro.

Mas há um que andou mesmo – o Zé Sousa!

– Mas quem é o Zé Sousa…?!?!?!?!?!?

-É o ‘gajo’ da foto acima!… É da Terceira… dos Açores…

24 de Fevereiro, 2019 Carlos Esperança

Igreja católica

A censura está-lhe no sangue.

Inventou a senhora de Fátima e conseguiu impedir que a Senhora da Bola, do artista plástico Bruno Melo, fosse exposta no Carnaval de Torres Vedras.

23 de Fevereiro, 2019 Carlos Esperança

A exótica Universidade de Coimbra e a laicidade

A Universidade de Coimbra não é apenas uma fonte de ciência, é a fossa onde desagua a fé, onde a liturgia a coloca como exclave de uma universidade pública e a transforma em confessional, onde o cargo máximo exige missa prévia, com genuflexões, aspersões de hissope e homilia sacra.

O Professor Decano, Professor Doutor Aníbal Traça de Carvalho Almeida, encarregado da cerimónia de posse do novo Reitor, mais preocupado com a salvação da alma do que com a separação da Igreja e do Estado, quiçá ignorante da laicidade a que está obrigada a Universidade pública, quem sabe se ungido pelo Divino, introduziu na cerimónia de posse do novo Reitor uma santa missa. Vai merecer o prémio da inovação.

No próximo 1 de março, a missa é a novidade da posse do Magnífico Reitor, Professor Doutor Amílcar Celta Falcão Ramos Ferreira, mas na posse do posterior Reitor será já uma tradição, um uso que se perpetuará para maior glória do cargo e deleite pio. Espera-se que o capelão seja experiente e não dê a comunhão ao novo Reitor e a extrema-unção ao piedoso Professor Decano ou vice-versa.

Não há coisa tão bonita como ver o corpo docente de joelhos e a Universidade pública a desfilar ao som do cantochão, com professores em vestes talares, de borla e de capelo.
Se a moda for contagiante a tomada de posse do presidente do Conselho de Reitores vai abrir com solene Lausperene e Te Deum, seguidos de procissão com o Senhor Exposto, passando sucessivamente de igreja para igreja, por entre aplausos dos profanos.

Nos Politécnicos há de ser também a missa a preceder a posse de diretores. Em escolas integradas a posse exigirá, pelo menos, uma novena e na creche o terço há de preceder a entrada em funções de cada novo diretor.

Os juramentos de fidelidade à Constituição e ao cumprimento das leis da República são obsoletos. O futuro está na Bíblia, na Tora e no Corão, e a Universidade de Coimbra na vanguarda das cerimónias pias.

Do Vale dos Caídos, onde ainda jaz Francisco Paulino Hermenegildo Teódulo Franco Bahamonde Salgado-Araujo y Pardo de Lama, doutor honoris causa pela Universidade de Coimbra, só não mandou felicitações pela cerimónia pia porque, felizmente, continua morto.

22 de Fevereiro, 2019 Carlos Esperança

Portugal – Catolicismo, pedofilia e fisco

A Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR), apesar do pecado da gula, goza da absolvição fiscal do Estado laico, contra a Constituição, e mesmo sem apoio na Concordata assinada por Durão Barroso, bem pior do que a salazarista, que o ditador fascista não rubricou porque era omisso o nome do papa e ele não aceitava ser equiparado a um mero cardeal.

Em Portugal, onde o clero é tradicionalmente casto, só raramente um obscuro padre acaba na prisão. Aconteceu ao padre Frederico, na Madeira, por ter assassinado um jovem por quem teria uma paixão não correspondida, e alguém o ajudou a fugir para o Brasil, onde regressou ao múnus, e ao vice-reitor do seminário do Fundão, condenado por vários casos de pedofilia.

O Diabo não inquieta muito o clero nacional, mas Deus protege a sua Igreja de forma obscena, e a comunicação social está mais empenhada na exploração da luxúria do que na denúncia da gula irrefreável que a ICAR manifesta em Portugal. É mais fácil explorar a homossexualidade de cardeais, bispos e monsenhores do que as nebulosas finanças da sua Igreja. As isenções fiscais e alguns outros privilégios são um segredo mais bem guardado do que o da confissão.

A denúncia da isenção fiscal da Universidade Católica, concedida na lei, em 1971, inadmissível com uma Constituição que impõe a separação do Estado e das Igrejas, foi revogada em 1990, através de decreto-lei, com a insólita exceção da alínea que lhe concedia a isenção, bem como a de taxas municipais e custas judiciais, apesar de cobrar 65 milhões de euros aos privilegiados alunos, e gozar ainda da anómala exceção de o seu reitor ter assento no conselho de reitores das universidades públicas portuguesas.
Resta dizer que o decreto-lei, cuja imoralidade é gritante, foi assinado por Cavaco Silva, Miguel Beleza e Roberto Carneiro, todos docentes dessa Universidade, o que, aparentemente, foi um caso de flagrante nepotismo.

A TVI, cujo alvará foi iniquamente concedido à ICAR por Cavaco Silva, preterindo outros e mais idóneos projetos, denunciou agora a indecorosa situação. Curiosamente, a Comunicação Social prefere a sexualidade dos padres à gula da instituição, e mistura o ignóbil crime de pedofilia às opções homossexuais que só a ICAR considera crime. É incrível que o caso da U. Católica tenha morrido logo, tal como o caso da rede de corrupção dos autarcas do PSD denunciada na Visão. O condicionamento da opinião pública não é aqui mera suspeita, é uma evidência clara. Deus é pouco exigente e a ICAR recusa dar a Centeno o que os leigos pagam.

A Universidade Católica, tal como os colégios privados, não deve ter privilégios. Os governos receiam a ICAR, e cedem às suas exigências. Temem ver um cardeal, com docentes e discentes da Universidade Católica, a descerem a Av. da Liberdade com coletes amarelos.

Que desçam! A subida é mais difícil. Quanto à subida ao Céu é apenas uma metáfora em que nem os padres acreditam. As sotainas não têm asas e os padres não voam.

20 de Fevereiro, 2019 Carlos Esperança

Fundamentalismos

Por

ONOFRE VARELA

As relações entre os homens não são simples nem fáceis. Manifestam-semais complicadas na política, que é a arte de governar os povos, e nunca são pacíficas. Cada grupo social tem a “sua” verdade que é, sempre,oposta à “verdade” do outro. Todos os partidos políticos, em princípio, querem o bem para o país, mas estão em total desacordo com as práticas dos outros partidos que também procuram o mesmo “bem”, mas cujo modelo não coincide com o “bem” do seu entendimento. Cada um considera-se detentor da verdade que imagina ser única… e sua!

Quando se trata de entender a verdade sobre qualquer tema, eu só encontro uma verdade… que é a explicação científica. Mas mesmo essa está submetida a uma certa dúvida, cuja porta nunca é fechadadefinitivamente, já que a todo o momento pode haver uma investigação, um achado ou uma observação que pode comprometer aquilo que até aí era conhecido como verdadeiro.

As religiões são as “filosofias da Verdade”. Com maiúscula, porque sagrada!… Esta verdade com inicial maiúscula, é das verdades mais mentirosas que eu conheço!

Não é verdade que Maria engravidou sem relações sexuais, porque a natureza da gravidez só dispensa o acto sexual quando é conseguida em laboratório por inseminação artificial (o que não podia ter sido o caso de Maria).

Não é verdadeira a ressurreição de Jesus Cristo, se ele estava, deveras, morto… e não em coma.

Não é verdadeira a transformação da água em vinho, nem a multiplicação dos pães, nem o caminhar sobre as águas… que são fábulas puras… e, por aí… até é bonito!… Mas não é verdadeiro.

Não é verdade que os santinhos intermedeiam curas levando o recado a Deus que, com o seu poder sulfamida curativo, resolve o problema do olho da senhora Guilhermina que foi estragado com azeite a ferver. Seesta intermediação fosse verdadeira, tinhamos, no céu, o mesmo efeitoparasitário das “cunhas” que tão bem conhecemos… o que, convenhamos, não é digno de um Deus! (Ou será?!) E depois há aprópria ideia de Deus… que, assim, tal e qual como é pintado pelas religiões que o inventaram e adoram, não passa de um aborto de existência impossível de se concretizar.

O Fundamentalismo é isto… é o afirmar de “verdades” impossíveis de confirmação, mas sempre apregoadas com o estatuto de “única Verdade”.E o Ateísmo também tem os seus fundamentalistas… não se pense que só os profundamente crentes podem ter o estatuto de fundamentalista… os profundamente descrentes também podem sê-lo! Estive com um deles, numa varanda de uma associação em Lisboa, no intervalo de uma reunião de ateus. Na rua passava uma senhora muçulmana trajando de acordo com a prática típica do seu grupo social. O meu amigo insurgiu-se contra aquele modo de vestir… desconhecendo que vociferava contra uma vestimenta regional… que podia ser a de uma vianesa, ou a de um campino!… Fundamentalismos!…

(Artigo a sair no jornal Gazeta de Paços de Ferreira, na edição do dia 21 de Fevereiro de 2019)

18 de Fevereiro, 2019 Carlos Esperança

Giordano Bruno – Há 419 anos (17 de fevereiro de 1600)

Ia a Igreja católica no 8.º Clemente, homólogo do antipapa de igual nome, de Avinhão, quando lançou o veredicto da morte pela fogueira. A Santíssima Inquisição, depois de tentar que renegasse as suas ideias, cumpriu com regozijo, em êxtase pio, a incineração do réprobo.

O filósofo, matemático e teólogo, defendia a teoria heliocêntrica, afirmava a existência de outros mundos e ainda questionava a natureza divina de Jesus Cristo. Como poderia um clérigo transformar em absurdos os dogmas, néscios os padres e ignorante a Igreja? Que merecia, aliás, o filósofo que considerava infinito e inacabado o Universo?

Depois de um julgamento de oito anos, o filósofo italiano, escritor e religioso, Giordano Bruno, excomungado por protestantes e católicos, foi obrigado a ouvir de joelhos a sentença, que o condenou a arder vivo perante o gáudio da pia multidão, que não perdeu o espetáculo de ver arder um livre-pensador que se atreveu a afirmar, perante os santos algozes: “Talvez sintam maior temor ao pronunciar esta sentença do que eu ao ouvi-la”.

Acusado de heresia, o horrível delito do cosmólogo que considerava o Universo infinito e inacabado, que não respeitava os mestres escolásticos, que ensinavam que, se a Terra se movesse, as nuvens ficariam para trás, as folhas mortas voariam sempre para o mesmo lado e uma pedra caída do alto de uma torre se afastaria sempre da sua base.

O cardeal Belarmino, que viria a ser santo, acompanhou o processo onde a heresia e a blasfémia eram tão evidentes que a queima do herege não podia ser senão saudada pelas almas dos bem-aventurados para quem a ignorância e a fé eram condição essencial para a salvação da alma.

Hoje, 419 anos após o auto-de-fé, permanece de pé a estátua em sua honra, num desafio ao Vaticano de onde numerosos papas, com incontida azia, quiseram derrubá-la.

Lá está na praça onde foi imolado, onde devotos da ciência e do livre-pensamento, não deixam de ir em peregrinação. Ir a Roma sem visitar a estátua de Giordano Bruno é como ir a Atenas e não subir à Acrópole e ver o Pártenon. Está na única praça de Roma onde não há nenhuma igreja.