Direitos Humanos e tradição
Quando vejo invocar a tradição, como argumento para qualquer iniquidade, apetece-me sacar da Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) que a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas proclamou em 10 de dezembro de 1948, ainda com a tímida designação de Direitos do Homem, e o rancor das madraças e sacristias que lhe denunciavam o pendor ateu. Já eu sabia ler.
Foi em 1893, no dia de hoje, apenas 55 anos antes, que a Nova Zelândia foi o primeiro país a ‘permitir’ o voto das mulheres (JN, hoje, Efemérides, pág. 51). Repare-se no verbo, como se um direito, embora inédito, fosse uma autorização, uma concessão, um consentimento masculino que deixava de proibir o que Deus tinha por desígnio.
Refiro o direito que então foi ‘concedido’, não para exultar com a ‘generosidade’, mas para execrar a iniquidade da demora. Não foi pequeno o salto civilizacional do facto, o seu pioneirismo, a abertura para a igualdade que ainda hoje não está conseguida, mas é motivo de reflexão tão tardia marcha para a civilização.
Que preconceitos atávicos, que raio de tradição, ou devoção, levou a que se perpetuasse a infâmia, a que metade da Humanidade fosse afastada dos direitos humanos?
Que caminho será preciso ainda percorrer para que a moral das sociedades patriarcais da Idade do Bronze seja erradicada do Planeta?
Quando me justificam as iniquidades com a tradição apetece-me esfregar nas ventas dos argumentadores a DUDH, e quando me dizem que é a vontade do Deus que os patriarcas inventaram, para benefício dos homens, apetece-me abrir-lhe a cabeça com os livros sagrados com que ofendem, humilham e exploram metade da Humanidade.
Perfil de Autor
- Ex-Presidente da Direcção da Associação Ateísta Portuguesa
- Sócio fundador da Associação República e laicidade;
- Sócio da Associação 25 de Abril
- Vice-Presidente da Direcção da Delegação Centro da A25A;
- Sócio dos Bombeiros Voluntários de Almeida
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- Colaborador do Jornal do Fundão;
- Colunista do mensário de Almeida «Praça Alta»
- Colunista do semanário «O Despertar» - Coimbra:
- Autor do livro «Pedras Soltas» e de diversos textos em jornais, revistas, brochuras e catálogos;
- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores
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