EUTANÁSIA
Por
Onofre Varela
(Gazeta Ateísta)
Está na ordem do dia discutir-se a eutanásia, no sentido de se decidir legalizar, ou não, o direito à morte para aquele que a reivindica quando se encontra numa situação de doença irreversível com o anúncio de uma morte sofrida a acontecer em breve.
Aqui fica o que penso sobre o assunto, começando por uma declaração de interesse: Gosto muito de estar vivo e só me dá jeito morrer depois de ultrapassados, largamente, os 100 anos!… Agora vamos ao resto.
A vida de cada um só a ele pertence. Nem a família, nem o Estado e muito menos a Igreja, tem direito sobre a vida de qualquer cidadão, porque ela configura uma propriedade pessoal inalienável.
Se eu, quando enfermo e numa situação terminal (ou não terminal, mas que me deixa incapacitado de viver a vida como a programei, e não aceitando vivê-la de outro modo), entendo não ter condições dignas para continuar a viver, e, em consciência, decido sair da vida de um modo mais digno do que aquele que o suicídio me confere, tenho o direito de o reivindicar, e o Estado deveria estar habilitado para me conceder a concretização da minha última vontade.
O direito à eutanásia não configura nenhuma violência, pois ela só será aplicada a quem a deseja. Violência é alguém obrigar-me a viver contra a minha vontade, arvorando-se em dono do meu corpo e do meu pensamento. A legalização da eutanásia não obriga ninguém a morrer antes do seu tempo, pelo que quem não a aceita, não a terá. Mas quem não a aceita, contraria a minha vontade de a desejar e quer ver-me impossibilitado de usufruir dela, só porque ele não quer!… E esta posição é profundamente imoral, por muita “moralidade de cartilha” que se diga conter.
Não legalizar a eutanásia é que configura uma violência por obrigar alguém a viver sofridamente contra a sua vontade.
As vontades religiosas que preferem ter o doentinho ali, para lhe fazer carinhos até ao momento da partida, podem ser muito bem intencionadas… mas antes de tudo precisam da aceitação do paciente, porque este é quem sofre, tem vontade própria e o direito de a ver cumprida. Contrariar esta vontade alicerçando-se em fantasias religiosas, pode encher o ego do familiar ou do amigo religioso, mas não resolve o problema do doente, se este quer sair da vida sem sofrimento nem medidas paliativas.
A vontade do paciente é que deve fazer lei, se, em consciência e no gozo de todas as suas faculdades de raciocínio, ele deseja sair da vida pela porta da eutanásia. Cumprir o desejo do outro, quer seja para o confortar até à morte natural minimizando-lhe a dor, ou para lhe conceder a realização do desejo de sair da vida quando esta já não lhe interessa, é atitude profundamente humana e fraterna.
Obrigar alguém a viver sofridamente, só porque sim… contrariando a sua vontade em nome de uma moral quase sempre alicerçada no divino e, por isso mesmo, divorciada da realidade, é que me parece horrivelmente mau. Quem ataca o direito à eutanásia, não tem em atenção a vontade do outro, mas apenas a sua que quer ver privilegiada e decretada como lei, numa atitude egoísta e prepotente, querendo que toda a sociedade afine pelo seu pensamento, à boa maneira fascista. O que, no mínimo… não é democrático…
(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)
Perfil de Autor
- Ex-Presidente da Direcção da Associação Ateísta Portuguesa
- Sócio fundador da Associação República e laicidade;
- Sócio da Associação 25 de Abril
- Vice-Presidente da Direcção da Delegação Centro da A25A;
- Sócio dos Bombeiros Voluntários de Almeida
- Blogger:
- Diário Ateísta http://www.ateismo.net/
- Ponte Europa http://ponteeuropa.blogspot.com/
- Sorumbático http://sorumbatico.blogspot.com/
- Avenida da Liberdade http://avenidadaliberdade.org/home#
- Colaborador do Jornal do Fundão;
- Colunista do mensário de Almeida «Praça Alta»
- Colunista do semanário «O Despertar» - Coimbra:
- Autor do livro «Pedras Soltas» e de diversos textos em jornais, revistas, brochuras e catálogos;
- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores
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