Igreja católica – E pur si muove
Só no início da década de sessenta do séc. XX, durante o Concílio Vaticano II, com João XXIII, a Igreja católica admitiu pela primeira vez o direito à liberdade religiosa. Desde então, pode ter perdido em coesão o que ganhou em humanidade.
A polissemia do catolicismo é um dos aspetos mais fascinantes da crença que se esforça por ser tolerante e procura a modernidade, numa saudável tentativa de conciliar a fé, que respeita apenas aos crentes, com a cidadania e os direitos humanos, que são de todos.
É certamente nesta diversidade que vai desde o trogloditismo da República das Filipinas ou de Salvador, até ao arejamento do atual pontificado, contra a Cúria, sem cura, que o catolicismo se torna a mais tolerante das crenças e uma aliada da paz.
A diocese de Viseu é um bom exemplo. Depois do 25 de Abril, foi a mais firme reserva do salazarismo, destacando-se de 1988 a 2004 o bispo António Ramos Monteiro, sólido primata paramentado, que rugia contra os políticos e demonizava a democracia.
Desde 2006, é titular o bispo Ilídio Pinto Leandro, democrata e humanista. Em janeiro de 2007, declarou que votaria SIM se o que estivesse em causa no referendo de 11 de fevereiro fosse a despenalização da mulher que pratica o aborto; em março de 2009 defendeu o divórcio nos casamentos em que um dos cônjuges é vítima de violência doméstica, num debate sobre o tema, realizado em Viseu. Foi também um defensor do preservativo para casais em que um cônjuge tivesse sida.
Ontem, 6 de abril, li no DN: «Bispo autoriza padre que assumiu paternidade a continuar a exercer». É o mesmo bispo, em relação ao pároco de Santa Cruz da Trapa, que foi pai há três semanas e que os paroquianos aceitam com a normalidade de que são feitos os afetos e a procriação.
Entre o honesto e corajoso bispo de Viseu, Ilídio Pinto Leandro, e o bispo de Lisboa, vai a distância que percorre o catolicismo romano e o torna numa religião capaz do melhor e do pior, mas seria ingénuo não estar atento a vozes que anunciam a liberdade e, por preconceito ateu, ostracizar quem pode promover uma sociedade tolerante e inclusiva.
Perfil de Autor
- Ex-Presidente da Direcção da Associação Ateísta Portuguesa
- Sócio fundador da Associação República e laicidade;
- Sócio da Associação 25 de Abril
- Vice-Presidente da Direcção da Delegação Centro da A25A;
- Sócio dos Bombeiros Voluntários de Almeida
- Blogger:
- Diário Ateísta http://www.ateismo.net/
- Ponte Europa http://ponteeuropa.blogspot.com/
- Sorumbático http://sorumbatico.blogspot.com/
- Avenida da Liberdade http://avenidadaliberdade.org/home#
- Colaborador do Jornal do Fundão;
- Colunista do mensário de Almeida «Praça Alta»
- Colunista do semanário «O Despertar» - Coimbra:
- Autor do livro «Pedras Soltas» e de diversos textos em jornais, revistas, brochuras e catálogos;
- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores
http://www.blogger.com/profile/17078847174833183365
http://avenidadaliberdade.org/index.php?content=165