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ACREDITAR EM DEUS

Por

ONOFRE VARELA

Um dia perguntaram ao filósofo Agostinho da Silva à “queima-roupa”, sem mais nem para quê: “Acredita em Deus?” Ao que ele respondeu: “Depende. Se você me disser o que é Deus, pode ser que eu lhe diga se acredito ou não”.

Não conheço resposta mais concreta e acertada para tal pergunta! Na verdade não se pode negar a existência de Deus assim, tão simplesmente, porque logo a seguir a essa negativa se colocaria a questão: se Deus não existe, porque é que estás a falar dele? Se não existia até aqui, passa a existir a partir deste momento, caso contrário não se entenderia porque estás a nomeá-lo!

Só se pode negar ou afirmar aquilo que se conhece. E aquilo que eu conheço do conceito de Deus (o conceito, sim, existe) não merece crédito de existência real para além do conceito que é, nem fora da mente de quem o afirma.

O deus apregoado pelas religiões é definido como um ser espiritual, mas tem personalidade e forma, produz milagres e orienta os homens, castiga e premeia, dá e tira, e reina num universo paralelo onde nos espera depois de morrermos para nos premiar com felicidade eterna, ou nos condenar. Este deus, pintado assim, desta maneira tão infantil para o raciocínio de um adulto saudáveldefinitivamente, nãopode existir. As leis da física e da química não permitem a existência de um aborto com tais poderes!

As opiniões que contrariam a fé dos crentes costumam incitá-los à recusa imediata da opinião do outro, sem qualquer raciocínio crítico que os levasse, por ventura, a comparar ideias antes de negarem o “incrédulo demoníaco”. Seria mais razoável enfrentarem os factos contrários à sua fé, analisá-los com isenção, e concluírem depois. Acredito que se assim fizessem, as crenças religiosas perderiam a maioriados seus adeptos por terem adquirido conhecimento de causa.

A ignorância produz fé religiosa, e a informação, elimina-a. A fé medieval que hoje ainda habita o pensamento da maioria dos crentes não é compatível com a nossa época, na qual as Ciências Humanas e Naturais arruinaram definitivamente as premissas doutrinais e os dogmas religiosos que pertencem, cada vez com mais consciência, ao reino da fábula. Na crença entregámo-nos ao sonho mais inconcretizável, e à simulação. Somos vítimas de alucinações… e só um “cego mental” não vê!

Para o princípio da causa das coisas, os mais empedernidos religiosos defendem o Génesis contra a Ciência, e muitos crentes deixam-se enredar, não conseguindo ter um pensamento com mais substância! Para uma mudança de atitude, bastaria quese entendesse uma coisa tão simples como isto: Para produzir umrefeição tãocomum e rotineira, como é um ovo estrelado, é necessário, no mínimo, a existência de cinco elementos prévios. A saber: 1 – O ovo; 2 – Uma gordura; 3 – Um recipiente resistente ao calor; 4 – Uma fonte de calor capaz de fazer ferver a gordura; 5 – O cozinheiro, que prepara o cenário e parte o ovo sobre a gordura, esperando o momento certo para o retirar e servir.

Sem estes cinco elementos podemos ter muita vontade de comer um ovo estrelado, e por mais que rezemos na esperança de que o ovo apareça estrelado à nossa frentenunca mais saciaremos a nossa vontade, e morreremos ougados por um ovo!

Do mesmo modo, quem crê no Génesis (na Criação) negando a Evolução, pode morrer muito religioso… mas, também, muito ignorante!

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

OV

 

Perfil de Autor

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- Ex-Presidente da Direcção da Associação Ateísta Portuguesa

- Sócio fundador da Associação República e laicidade;

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- Colunista do semanário «O Despertar» - Coimbra:

- Autor do livro «Pedras Soltas» e de diversos textos em jornais, revistas, brochuras e catálogos;

- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores

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