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O ridículo não mata

É (ainda) isto que escondem das massas crentes, que os alimenta e se alimentam de obscurantismo, dogma, medo e servidão!

Foto de Telmo Vaz Pereira.
Telmo Vaz Pereira

A IGREJA DOS “PRÍNCIPES” CONTRA O PAPA FRANCISCO
– UM VÍDEO INIMAGINÁVEL E QUASE IRREAL

O vídeo que este post apresenta é, talvez, a mais condensada e simbólica representação da oposição conservadora ao Papa Francisco e seu projecto. A cena aconteceu na nova Basílica do Santuário de Fátima, em Portugal. O personagem é o ultraconservador cardeal americano Raymond Burke, líder da oposição a Francisco.

São 14min15 impressionantes, e o vídeo pode ser visto clicando no link que deixo mais abaixo, no final.

Mais da metade do tempo dedica-se a mostrar o cardeal sendo paramentado, em pleno altar com pompa medieval – o vídeo começa quando a vestição e tomada de hábito de Burke já havia sido iniciada –, o que leva a crer que a montagem completa talvez se tenha prolongado por mais de 10 minutos.

O ambiente da cena oscila entre o surreal e o macabro, algo como um filme dos anos 1970/80 sobre a realeza decadente. O “príncipe” cercado por uma corte de homens de cenho cerrado, vestido com capas negras ou púrpuras, algo como um retrato em negativo da klu klux klan, sem os capuzes.

Aos 3min25 há uma cena para a qual peço a vossa melhor atenção, difícil de acreditar que tenha acontecido, depois de todos os escândalos de pedofilia e abuso de menores da Igreja: um menino talvez entre 10 a 12 anos de idade, leva ao cardeal seu barrete cardinalício, um chapéu que é um símbolo de caráter evidentemente fálico do poder dos hierarcas da Igreja. O menino ajoelha-se diante de Burke um sem-número de vezes e é orientado a beijar uma das pontas do barrete e da capa magna — um verdadeiro fetiche dos conservadores – e não deixa de ser simbólico que um homem, adulto, fique todo o tempo conduzindo o menino no ritual de ajoelhar e beijar variadas vezes.

Este é o projecto de uma Igreja imperial e demasiado conservador que a oposição a Francisco tem a apresentar ao mundo. Chega a ser inacreditável que eles tenham ainda alguma expressão. E que gigantesca diferença com a extrema simplicidade de Francisco e sua Igreja pobre com os pobres!

Uma descrição magistral desse projecto foi resumida em apenas um parágrafo que cito mais abaixo, por um dos maiores nomes da Igreja católica contemporânea, o teólogo dominicano e cardeal francês Yves Congar, falecido em 1995 e considerado um dos maiores eclesiólogos do século XX que abriu a eclesiologia católica ao ecumenismo, e que sofreu por mais de 30 anos perseguições e punições de toda ordem pela Cúria romana e seus prepostos.

Foi escrita em 11 de outubro de 1962, em pleno Concílio Vaticano, do qual Congar foi talvez o principal protagonista, em confronto com os Burke da época, liderados pelo cardeal Ottaviani e pelo reacionaríssimo arcebispo Marcel Lefebvre – os dois, como os conservadores de hoje, repudiaram o Concílio em menor ou maior grau.

Leiam a descrição de Ives Congar que transcrevo já a seguir e constatem como ela antecipou aquela cena de Burke no Santuário de Fátima, que verão no vídeo:

“Vejo o peso daquilo a que nunca se renunciou, do período em que a Igreja se comportava como um senhor feudal, quando detinha poder temporal, quando o papa e os bispos eram lordes que tinham suas cortes, eram mecenas de artistas e pretendiam uma pompa igual à dos Césares. A isso a Igreja nunca repudiou em Roma. Deixar o período Constantino para trás nunca fez parte de seu programa”.

Vídeo : https://www.youtube.com/watch?v=bC-AqvxX6-o

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