31 de Outubro, 2017 Carlos Esperança
500.º aniversário das Teses de Lutero – 31 de outubro de 2017
Há quinhentos anos, Martinho Lutero enviou as famosas 95 Teses anexadas a uma carta a Alberto de Mainz, Arcebispo de Mainz, tornando-se este monge agostiniano na principal referência da Reforma Protestante.
Ter posto em causa dogmas da Igreja católica e, sobretudo, a autoridade do Papa, foi a heresia que fez mais pelo progresso e pela emancipação do pensamento do que todas as verdades aceites até aí.
É hoje irrelevante que o Paraíso se possa comprar a retalho ou por junto, que os pecados possam ser perdoados em euros ou orações, que o Papa seja infalível ou mero CEO de uma multinacional da fé. Uma heresia é sempre mais fecunda do que qualquer verdade absoluta. E a forma de conquistar o Paraíso, para os que sonham com uma vida para além da única e irrepetível que nos cabe, é mera opção de quem tem fé.
Depois de Lutero, excomungado pelo Papa, que viu prejudicados os seus negócios com as indulgências e fugir-lhe a clientela, agora repartida por outras obediências, a Europa ganhou o hábito de pensar e, sobretudo, a capacidade de contestar as ideias feitas.
Lutero não perdeu os tiques autoritários do clero nem se curou do antissemitismo que o cristianismo transporta ao atribuir aos judeus a morte do seu Deus, mas transmitiu para o futuro o espírito crítico como hábito e a reflexão como método.
Não cabe a um ateu julgar o intelectual que abriu novos caminhos à fé, mas enaltecer o homem que acabou por abrir novos horizontes para a razão.
Seria injusto deixar passar uma data que marcou a História e esquecer o homem que fez História.