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Mês: Junho 2017

2 de Junho, 2017 Carlos Esperança

Re-conversão de um crente

Por

Paulo Franco

Um homem muito religioso, muito cristão, rezava constantemente a Deus pedindo-lhe que terminasse com a guerra, as doenças e a fome no mundo.

Com o passar dos anos, constatou que tudo permanecia na mesma: milhões de mortos devido à guerra, às doenças e à fome. Esta situação deixou-o tão desgostoso que acabou por deixar de acreditar em Deus.

Passados uns anos, numa noite de inquietação e turbulência, sonhou que tinha, por razões mágicas e enigmáticas, subido aos céus para se encontrar com Deus, e então disse-lhe:

– Meu Deus, aquilo lá em baixo está espetacular, não faças nada, não mexas uma palha, aquilo lá em baixo está mesmo, mesmo uma maravilha. Quando acordou, constatou que de facto Deus estava finalmente a fazer aquilo que lhe pediu: Guerra, fome e doenças continuavam a dizimar milhões de vidas.

No dia seguinte, este homem tornou-se cristão outra vez.

1 de Junho, 2017 Luís Grave Rodrigues

No…!

1 de Junho, 2017 Carlos Esperança

Um texto oferecido por um jornalista brasileiro

A moral divina é impossível

Há alguns impedimentos filosóficos no dogma de pecado e salvação que se sustenta na construção do divino onipotente das três teologias monoteístas. Embora saibamos que paradoxalmente o deus judaicocristãoislâmico tenha personalidade divergente em cada uma dessas mitologias, no aspecto escatológico parece o mesmo.

Portanto, para simplificarmos, analisemos esses impedimentos pela ótica da teologia do deus abraâmico Javé, o absoluto.

Com o poder supremo elementar que engloba a onisciência e a misericórdia infinita, Javé, também conhecido por Cristo ou Alá, segundo a teologia triunfante, por ser perfeito e não tolerar a imperfeição em suas criações está moralmente legitimado em punir os imperfeitos com um inapelável castigo eterno de torturas em sua satânica fornalha incandescente depois do tribunal do juízo.

O primeiro impedimento nos salta aos olhos: a troco de quê uma entidade onisciente – e a prova está até mesmo nas suas escatológicas profecias apocalípticas de dor e provação -, prestar-se-ia ao papel de carrasco impiedoso daqueles que a contrariam? É que se deus é perfeito, e, por lógica inerente, impedido de dar existência a algo imperfeito, por que sua criação apresentase imperfeita, a ponto de merecer punição marcial? Segundo os crentes, deus concede a cada um o direito de buscar a perfeição. Há aqui outro impedimento.

Deus é perfeito porque escolhe ser perfeito ou é impossível para deus cometer imperfeição? Se deus escolhe sempre ser perfeito, ele não dispõe da onisciência, assim como também não poderia ter o poder supremo e único da criação, já que a possibilidade de imperfeição fugiria aos seus desígnios por ser concomitante ou anterior a ele. E por tabela desconstrói a lógica da moral absoluta. E se deus também criou a possibilidade da imperfeição implode-se a teologia da perfeição moral suprema divina, aquela que legitima a punição do imperfeito porque deus é moralmente perfeito para tal. Mas se para deus é impossível criar a imperfeição – e ainda assim suas criaturas a sujeitam-,temos um imenso problema às prerrogativas divinas, já que o poder supremo e absoluto é incompatível nesse cenário.

Há então que se admitir: algo imponderável escapa à vontade de deus e nem lhe é impossível criar algo imperfeito. Se segundo a teologia, o deus perfeito criou cada humano com a liberdade de escolher, ainda assim a onisciência divina invalida essa tese. Isso porque mesmo com o fabuloso privilégio de prever, deus só permitiu a possibilidade do imperfeito vir à existência, ao que parece, apenas para justificar uma sádica prerrogativa de punição que poderia ser evitada se a máxima de que o perfeito não produz imperfeição fosse uma verdade absoluta. Deus, nesse caso, é um sádico. Ou não dispõe da onisciência, e por isso rende-se a compulsão criativa na tentativa patética de alcançar a perfeição, ou não tem o menor controle da perfeição e da mesma forma vai criando sempre na busca inalcançável da obra perfeita. Mas se até de deus escapou a perfeição, que sentido moral tem a punição eterna a uma criação imperfeita?

O que se abstrai, portanto, dessa teologia é que se deus é perfeito fica impedido de parir – e consequentemente punir – criaturas com a capacidade de escolher entre o perfeito e o imperfeito por essa razão lógica: é que diante da onisciência de um observador absoluto toda e qualquer decisão humana reduz-se a um determinismo irrevogável. Punir a criatura imperfeita que nunca usará a plenitude da liberdade, posto que sua decisão já está definida na eternidade dos tempos, é moralmente inaceitável.

a) Carlos Tavares, jornalista, livre pensador da cidade de Três Rios – RJ – Brasil