O Moisés bíblico
Por
Leopoldo Pereira
Moisés, figura incontornável da Bíblia, muito presente sobretudo no Velho Testamento, foi protagonista de várias histórias, algumas das quais nunca é demais recordar, quer pela inequívoca autenticidade das mesmas, quer pelo facto de ter sido um dos raros humanos que dialogaram com Deus, por Ele protegido desde que veio ao mundo.
Mal nasceu, sua mãe (longe de imaginar uma qualquer protecção divina) temeu que algo de muito grave pudesse acontecer-lhe, porque o Egito, país onde moravam, era governado por um Faraó mau como as cobras (dizem), que decretara o assassinato de todos os bebés machos, filhos de judeus. Então ela bolou uma estratégia nunca antes testada (a vários níveis), que se revelou eficaz: Adquiriu um pequeno cesto de verga, calafetou-o primorosamente e acolchoou-o por dentro. Depois introduziu nele o menino e disse à filha: Vamos levar o cestinho até ao rio Nilo (um dos maiores rios do mundo), colocamo-lo na água e tu segue- lo pela margem, por segurança; logo que ele encalhe frente à praia privativa do Palácio Real, se tudo correr como o previsto, a filha do Faraó (em banhos de Sol no local) se encarregará de o salvar e até adotar. Tudo deu certo, com a ajuda de Deus, claro.
A faraozinha depressa percebeu que era urgente contratar uma ama para amamentar a criança e não tardou que lhe indicassem a mulher certa, por acaso a mãe do bebé! Disse à senhora que o puto se ia chamar Moisés (salvo das águas) e que a amamentação ficava a seu cargo. Posto isso, Moisés, mãe e irmã, passaram a viver tipo “penduras”, no Palácio.
Consta que foi instruído em toda a ciência dos egípcios (a mais avançada do mundo, à época). Viveu 120 anos, 40 dos quais no Egito. Nesta estada envolveu-se numa rixa, com o intuito de defender um hebreu e acabou matando o agressor (egípcio). Teve de fugir, pois arriscava a pena de morte. Terá sido nessa fase de fugitivo que Deus lhe apareceu pela primeira vez e o convenceu a retirar o Povo Judeu do Egito, onde se sentia escravizado, mas tal tarefa obrigava-o a expor-se, o que perigava a sua segurança. Porém, Deus logo o sossegou, concedendo-lhe poderes especiais, como transformar uma vara em serpente. Como isso não bastasse, como não bastou, para convencer o Faraó a deixar sair os judeus, Deus foi mais longe, enchendo a pátria egípcia de rãs, tingindo as águas do Nilo de vermelho, pondo piolhos na cabeça dos egípcios, afligindo-os com coceiras, úlceras e mais doenças, com pragas de gafanhotos e outras piores, apagou o Sol durante 3 dias, enfim, muitas maldades, a fim de vergar o Faraó.
Finalmente vergou-o mesmo, e o Faraó teve de dar luz verde ao êxodo dos judeus. Já eles iam marchando rumo à Terra Prometida, quando o Faraó se arrependeu e enviou numeroso exército com a finalidade de os capturar. Estava o exército quase a apanhá-los, encurralados entre o inimigo e o Mar Vermelho, quando sucede um milagre espetacular: As águas abriram uma passagem e todo o povo conseguiu atravessar sem se molhar; outro tanto não sucedeu ao exército perseguidor, já que as águas voltaram ao curso normal, tendo morrido afogada a maior parte do contingente militar, revés que pôs fim à perseguição.
Moisés (o libertador) seguiu viagem com seu povo, agora livre da perigosa ameaça dos militares egípcios. Cerca de 20 dias após a peripécia do Mar Vermelho, Deus combinou encontrar-se com ele ainda no Egito, no cimo do Monte Sinai (2.285 m de altitude). O povo ficou em baixo, provavelmente numa plataforma do monte onde, centenas de anos depois, viria nascer uma escadaria de 4.000 degraus, talhados no granito, que conduzem até ao pico.
O presente capítulo é de tradução livre, já que não houve testemunhas, e o idioma da altura caiu em desuso há milénios: “Moisés foi monte acima e ao chegar pensou alto: Até aqui chegam os pirómanos. Ouviu-se uma voz de trovão: Não foi nenhum pirómano, a Chama que vês no arbusto a arder sou Eu. Que linda Chama. Deixa-te de piropos, trouxeste as lousas? Que lousas? Avisei que ia ditar-te uns preceitos. Esqueci-me. Pois, Eu é que tenho de fazer tudo”.
Estavam uns pedregulhos perto e Deus esculpiu neles os 10 Mandamentos, posto o que Moisés devia carrega-los até onde o povo ficou. Feitas as despedidas, o pobre homem iniciou a descida, brutalmente carregado mas, mais ou menos a meio do percurso, escorregou e, além da aparatosa queda, partiu as pedras. Teve de voltar atrás, para que Deus lhas substituísse. Ele ainda lá estava e substituiu-as. Moisés gastou nestas andanças 40 dias.
Ao regressar, estafado e maldizendo a sua sorte, deparou com o pessoal num ferró-bó-dó do caraças, inclusive adorando uma estatueta de ouro, com a forma de bezerro. Ficou fulo e diz quem viu que muitos dos foliões pagaram com a vida os excessos cometidos.
Reposta a ordem, Moisés (considerado em certos meios como impiedoso guerreiro) disse-lhes que a partir dali adorariam um só Deus, o verdadeiro, a bem ou a mal. Parece que aceitaram a bem, mas logo se recusaram a avançar na direcção certa, alegando medo das criaturas que iriam encontrar na Terra Prometida. Bom, não há paciência que aguente e Deus castigou-os, fazendo com que vagueassem pelo deserto durante quase 40 anos; poucos foram os que chegaram vivos à meta, registo que coube aos descendentes.
(Esclarece-se que a distância a percorrer se faria em pouco mais de 20 dias!)
Quanto aos Dez Mandamentos (Lei de Deus), de importância incontestável, achamos que não vale a pena referi-los todos, uma vez que são sobejamente conhecidos. Contudo julga-se interessante citar ao menos o Primeiro, já que costuma aparecer truncado.
1.º Mandamento: “Eu sou o Senhor, vosso Deus, que vos tirei do Egito, da casa da servidão. Não tereis, diante de Mim, outros deuses estrangeiros. – Não fareis imagem esculpida, nem figura alguma do que está em cima do Céu, nem em baixo na Terra, nem do que quer que esteja nas águas sob a terra. Não os adorareis e não lhes prestareis culto soberano, porque Eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que puno a iniquidade dos pais nos filhos, na terceira e na quarta gerações daqueles que me aborrecem, e uso de misericórdia até mil gerações daqueles que Me amam e guardam os Meus Mandamentos.”
Cremos que não será correto imaginar Moisés a passar por momentos de stress extremo, em todas as suas intervenções, ou de surtos psicóticos! Estamos firmemente convictos de que tudo se passou como fica assinalado e igualmente estamos certos de que histórias destas têm o poder de converter até o mais obstinado incréu.
Perfil de Autor
- Ex-Presidente da Direcção da Associação Ateísta Portuguesa
- Sócio fundador da Associação República e laicidade;
- Sócio da Associação 25 de Abril
- Vice-Presidente da Direcção da Delegação Centro da A25A;
- Sócio dos Bombeiros Voluntários de Almeida
- Blogger:
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- Avenida da Liberdade http://avenidadaliberdade.org/home#
- Colaborador do Jornal do Fundão;
- Colunista do mensário de Almeida «Praça Alta»
- Colunista do semanário «O Despertar» - Coimbra:
- Autor do livro «Pedras Soltas» e de diversos textos em jornais, revistas, brochuras e catálogos;
- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores
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