23 de Abril, 2016 Carlos Esperança
O Batizado do Menino Dinis
Injustamente ignorado pelas primeiras páginas dos jornais, afastado da abertura dos noticiários televisivos, teve lugar no dia 19 de fevereiro de 2000 o batizado do menino Dinis de Santa Maria Miguel Gabriel Rafael Francisco João de Bragança*.
A princípio julguei tratar-se de uma lista donde os padrinhos escolhessem o nome mais bonito. Só quando percebi que todos os nomes passavam a designar o novo cristão me dei conta da relevância do evento, abrilhantado pelo Senhor Bispo do Porto, numerosos membros do cabido, proeminentes plebeus e piedosas senhoras da melhor sociedade.
Foi com alguma emoção que soube libertado dos riscos do limbo o pequeno Dinis através da água do rio Jordão, embora fosse preferível, por razões bacteriológicas, a dos Serviços Municipalizados do Porto depois de convenientemente benzida.
Escreveu Augusto Abelaira que o homem é o único animal que distingue a água benta da outra, mas nada referiu sobre a diferença da água captada no rio Jordão ou na bacia hidrográfica do Douro.
Certo, certo, é que o menino ficou mais puro, liberto que foi do pecado original que penosamente carregava desde o dia 25 de novembro do ano que findou.
Felicito os patrocinadores e as piedosas pessoas que contribuíram com mais de seis mil contos para tão auspiciosa festa. Apenas temo, por se tratar de uma virtude, que o preço elevado a que ascendeu o primeiro sacramento possa tornar incomportáveis os primeiros vícios.
No entanto, estou certo de que as excelsas senhoras, que ora acompanharam piedosamente o neófito no caminho da virtude, o não abandonarão com a sua solicitude no primeiro pecado.
* Filho do Sr. Duarte Pio, alegado duque de Bragança
Fevereiro de 2000
In Pedras Soltas (2006) – Ortografia atualizada