Enquanto a Europa continua a afundar-se perante a crise dos refugiados construindo aqui e acolá ‘mini-trincheiras’ que se dispõe a pagar a preço de ouro, a Turquia o seu mais abonado parceiro desta estratégia vai consolidando um regime islamita cada vez mais fechado e autoritário.
Nos últimos dias foi o caso do jornal “Zaman” voz da oposição ao governo de Erdogan.
Zaman é um jornal turco de grande expansão com ligações ao ‘pregador’ Fethullah Gullen antigo aliado de Erdogan mas actualmente um seu inimigo figadal.
Sendo as questões muito antigas e as divergências profundas o imã vive exilado nos EUA porque receia pela vida em Istambul e há cerca de 2 anos lançou nos media que controla um violento ataque onde incrimina o Governo turco e a família Erdogan de atos de corrupção. Os meios de comunicação sociais que deram guarida a estas acusações tornaram-se imediatamente proscritos.
A recente intervenção (encerramento) no jornal Zaman é por si só intolerável mas infelizmente é complementar de vasto plano outras acções (contra a liberdade de Imprensa e de Expressão) que têm sido silenciadas no Ocidente como: os canais de televisão privados Kanalturk e Bugün TV (encerrados na 3º. Feira), bem como os diários Bugün Gazetesi, Millet Gazetesi e a emissora Kanalturk Radyo.
A aproximação com a Turquia tem sido uma das pedras de toque da política da UE para tentar resolver ou pelo menos suster a questão dos refugiados. A visita de Merkel a Erdogan largamente noticiada na imprensa europeia
link é uma dessas démarches. A solução da criação de Estados-tampão não é uma solução é um remendo. Pode rapidamente transformar o Médio Oriente num imenso campo de concentração.
Mas a questão dos refugiados é indissociável do Daesh e desde há muito que existem dúvidas – nunca cabalmente esclarecidas – sobre o papel da família Erdogan e de outros oligarcas turcos no negócio de comercialização do petróleo oriundo das regiões ocupadas pelo Estado Islâmico situação denunciada por Putin
link após o derrube de um caça russo junto à fronteira sírio-turca e imediatamente esquecida. Saber por onde passam os canais de financisamento do Daesh é fundamental na luta anti-terrorista. Mas essas evidencias estão (en)cobertas pelo opaco manto dos negócios.
Embora complexa toda esta situação no Médio Oriente fica a sensação de que a União Europeia decidiu seguir o aforismo popular de ‘vender a alma ao diabo’. O diabo é uma criação das religiões monoteístas mas será por assim dizer um ‘falso-deus’. Na mesma medida que Erdogan é um muçulmano onde colocaram a vinheta de ‘falso moderado’.
Por este caminho a democracia na Europa não só é espezinhada como durará pouco. Os políticos europeus mostraram uma tremenda incompetência em lidar com a última crise financeira. Agora revelam-se além de incompetentes, desastrados, a tratar do problema dos refugiados sequela das inauditas ‘Primaveras árabes’, que tanto aplaudiram em nome da Democracia.