23 de Janeiro, 2016 Carlos Esperança
Liberdade e/ou Religião?
Convidado, há algum tempo, para um colóquio em Miranda do Corvo, pelo Dr. Jaime Ramos, presidente de uma notável Fundação – ADFP – julguei-o adiado por falta de um programa que esperava receber. Afinal teve lugar (ontem) e, desfeito o equívoco, acabei por chegar com uma hora de antecipação.
À entrada do cinema, havia folhetos a anunciar o «Debate», que ali se realizaria, com o título em epígrafe. Aproveitei para escrever um texto que serviria de orientação para o «debate» com um professor universitário de História das Religiões, moderado pelo Dr. Jaime Ramos.
Aqui fica o texto, neste dia de reflexão eleitoral:
A liberdade contempla necessariamente as religiões, estas raramente consideram aquela. As religiões têm em comum o facto de serem criações humanas e diferenciam-se pelas tradições, cultura e estádio civilizacional das sociedades onde se inserem.
Atualmente, das religiões do livro, é o Islão a mais implacável na defesa dos princípios em voga nas sociedades tribais e patriarcais da Idade do Bronze, onde todas mergulham as raízes.
Foi nas sociedades cristãs, embora contra a vontade do clero, que os direitos humanos floresceram. Nas sociedades islâmicas verifica-se hoje a mais obstinada ofensiva contra as liberdades individuais, tendo encontrado nas armas ultramodernas o instrumento de eleição para a evangelização. A moral da Idade do Bronze é imposta à bomba.
O que está em causa não é tanto a puerilidade das convicções religiosas mas o espírito totalitário que as impregna e de cuja perversidade não têm o exclusivo.
Na religião, como na política, na crença ou na sua ausência, a tragédia é a obsessão em impor aos outros as suas crenças ou descrenças, sobretudo quando à discussão de ideias se sobrepõem as bombas e a demência suicida e assassina.
Na Europa, vivemos hoje uma época pós-cristã, secular e laicizada, sem uma vigilância adequada aos extremismos endógenos e à violência pia que sobrevive ao acolhimento de uma cultura estranha, que exige a rotura com a civilização europeia, outrora tributária dessa mesma cultura, hoje em choque. Tudo o que nos desvie do percurso renascentista, iluminista, da Revolução Francesa e das modernas democracias políticas, numa deriva teocrática, necessariamente obscurantista, é uma tragédia a que não sobreviveremos se a não contivermos.
Em nome da liberdade teremos de respeitar todas os crentes e na sua defesa teremos de combater todas as crenças que a ameacem.