15 de Dezembro, 2015 Carlos Esperança
Joana D’Arc brasileira
A indústria dos santos continua.
Igreja Católica devolve direitos sacerdotais a Padre Cícero
A indústria dos santos continua.
Dacar – O presidente da Gâmbia, Yahya Jammeh, declarou a nação da África Ocidental uma república islâmica, argumentando que a decisão foi tomada porque o Islamismo é a religião da maioria dos cidadãos e para romper com o passado colonial do país.
Até o momento, não há indícios de que o anúncio muda as leis da Gâmbia. A declaração de Jammeh tampouco busca aliar o país à organização jihadista conhecida como Estado Islâmico. O presidente fez o anúncio na sexta-feira, em um evento na cidade costeira de Brufut, cerca de 15 quilômetros a oeste da capital do país, Banjul.
“Em linha com a identidade e os valores religiosos do país, eu proclamo a Gâmbia um Estado islâmico”, disse o líder. Os muçulmanos representam cerca de 90% da população do país, de 1,8 milhão de pessoas. “A Gâmbia não pode se dar ao luxo de dar continuidade ao legado colonial”, acrescentou Jammeh. A nação conquistou a independência da Grã-Bretanha em 1965.
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Nós, ateus, não somos contra as uniões de facto nem contra o matrimónio do clero católico. Eventualmente somos contra o seu excessivo património cuja proveniência seja suspeita. E, em absoluto, somos contra a obrigatoriedade do seu casamento. Esse ato que os padres católicos têm o hábito de benzer, e que em nenhuma circunstância permitiam repensar [agora com um expediente, anulação], deve ser-lhes permitido e nunca imposto.
As uniões de facto entre padres, ou entre estes e freiras, ou de freiras entre si, é um direito que nós, ateus, defendemos, sem imposições. Temos simpatia pelos casamentos mistos, um padre e um padeiro, uma freira e uma professora, um bispo e um torneiro mecânico, uma madre superiora e um alfaiate, por exemplo. Mas, repito, sem que seja obrigatório.
Em coerência, defendemos igualmente uniões entre mullahs e cónegos católicos, rabis e monges ortodoxos, freiras e pastores evangélicos, arcebispos e suicidas islâmicos, entre dignitários de ambos os sexos e de qualquer religião, embora desconhecendo os riscos do cruzamento de um bonzo com uma freira carmelita e muitas outras combinações que não têm sido objeto de ensaios duplo-cegos estatisticamente significativos.
Os papas modernos perderam o hábito da procriação, contrariamente aos seus santos antecessores da Idade Média cujos rebentos algumas vezes ocuparam a cadeira do progenitor. Ultimamente a provecta idade e os preconceitos têm-nos impedido da multiplicação que a bíblia deles preconiza.
Se um Papa romano quiser tomar por companheiro/a um chofer de táxi ou a superiora das Reparadoras do Imaculado Coração de Maria, o geral do Opus Dei ou um gerente do IOR é um direito que não lhe deve ser coartado. Mas sempre, repito, se for da livre e espontânea vontade de ambos.
Já quanto ao preservativo deve ficar ao critério dos casais eclesiásticos. Se acham que ofende ao seu Deus, enjeitem o adereço e rezem para que nada lhes aconteça. O Senhor, na sua infinita misericórdia, há de poupar os ministros do culto à sífilis, à hepatite, à blenorragia e à SIDA que os frequentadores dos bares de alterne arriscam.
Quanto à interrupção da gravidez, deve ser respeitada aos casais clericais a renúncia, ainda que o feto resultante de uma piedosa cópula entre um cónego sexagenário e uma freira balzaquiana mostre sinais ecográficos de malformações congénitas ou uma análise aponte para o nascimento de um mongoloide.
Em suma, os ateus respeitam a vontade do clero católico sem pretender impor-lhe os seus valores, respeitando as suas convicções e autodeterminação sexual.
Em troca, os ateus exigem que a ICAR respeite as suas convicções e valores.
A carta ao ministro mereceu o apio incondicional de todos os sócios que se manifestaram.
Aqui fica um de um ilustre jornalista, escritor e desenhador do Porto, Onofre Varela.
«Apoio incondicionalmente a decisão da AAP em pedir explicações ao Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.
É inconcebível que uma República Laica esqueça que o é, e que os responsáveis pelo esquecimento fiquem imunes, sem, sequer, serem chamados a dar explicação pelo acto anacrónico desempenhado fora das suas funções.
A demissão seria a opção.
E receio que nesta HRL (Hilariante República Laica) presidida por um católico assanhadíssimo crente e temente da senhora de Fátima, tenhamos, na mesma presidência após as eleições, um outro papa-missas temente a Deus e à navegante das estrelas que aterrou inopinadamente sobre uma azinheira em 1917.
De facto somos uma República Laica… mas não muito… porque hilariante!
Onofre Varela
Por
Carlos Tavares*
Orar não faz sentido
Quando não há altruísmo na fé
Os lúcidos, só os lúcidos, conseguem enxergar quão vazia de virtude e sentido é a fé. Só a desnudando, imunizado com a racionalidade – por conta de sua peçonha e perigosa toxidade – para que sua fragilidade lógica nos salte aos olhos…
Vejamos como a fé é tóxica e nos reduz à irracionalidade. Não há cidadão honesto sequer que não se indigne ao saber que o concurso público do qual participa não passa de um jogo de cartas marcadas, ou seja: que, por critérios escusos e criminosos, alguns concorrentes apadrinhados foram previamente escolhidos para as limitadas vagas anunciadas, em ludíbrio de todos os outros que pagaram inscrição, horas de cursos e se dedicaram aos estudos para disputar legitimamente, pelo intelecto e a competência, o cargo que acreditavam estar disponível, não loteado.
Injustiça! Desonestidade! É o brado comum de protesto dos vilipendiados. É que quando um cidadão concorrente, seja a qualquer pleito, busca meios extraordinários de privilégios para conquistar seu intento, ele está cometendo desonestidade e crime. Isso independe da importância do que se pleiteia. Quando se oferece ou se aceita, de forma facilitada, uma vaga funcional – que deveria ser disputada pública e democraticamente por meio de concurso intelectual de aptidão -, constrói-se um fosso de injustiças. Joga-se na lata do lixo o direito inalienável à liberdade, os sonhos, o esforço e a competência de muitas pessoas. Além de ser uma atitude de extrema arrogância – da parte de quem oferece a facilidade -, por se julgar no direito de interferir numa livre disputa; e de patético egoísmo – da parte de quem aceita ou suborna -, por se considerar mais merecedor do que os outros.
Porém quando esses mesmos indignados cidadãos se revestem da fé para, na prática, buscarem favorecimentos sobrenaturais, o senso de indignação transforma-se em louvores. Analisemos agora esse argumento à ótica da fé. João é um homem de fé. Acredita tanto em deus que o classifica como o ser mais poderoso de todo o universo. Sua fé é tão grande que ele não se constrange de, em determinados momentos, invocar o seu deus para interferir em negócios ou contendas particulares, enquanto tragédias humanitárias acontecem pelo mundo. João sempre acha que suas causas são mais justas para invocar ajuda divina. Desempregado, João se inscreve num concurso público. À função que lhe compete, poucas vagas estão disponíveis. O desolador é que centenas de candidatos também pleiteiam uma dessas vagas. João sabe que, dentre estes, muitos são mais competentes; muitos estão mais preparados. Sozinho, sem um pistolão, um apadrinhamento, sabe que não conseguirá uma dessas vagas. Mas tem João uma esperança, ainda. A fé. A sua inabalável fé. É por ela e em nome dela que João dispensa os livros, o aperfeiçoamento. “Eles podem estar mais preparados, mas eu tenho o meu deus, que é mais poderoso do que qualquer um deles. Vamos para a batalha, e deus está comigo! Tudo posso, naquele que me fortalece.” Nos trinta dias que faltam para o concurso, João se reveste da fé. Ora, jejua, participa de correntes, de vigílias, faz propósitos, chora, implora, bajula o seu deus, o todo poderoso, o maior pistolão, a maior autoridade do universo. Vai, à prova, convicto de que o seu deus a fará por ele, ou então que há de soprar-lhe aos ouvidos as questões corretas. Ignora João, porém, fato perturbador: para deus lhe dar a classificação, terá que fazer muitos outros concorrentes seus errarem. Inclusive os competentes. Diante de tanta fé, os mesmos cidadãos dirão: “Que exemplo de fé, João, que coisa linda, deus é bom, deus é fiel etc, etc”. A fé entorpece. Cega.
Ao orar e fazer penitências a uma divindade para conquistar uma vaga num concurso público, estou renunciando o esforço próprio pela comodidade de pedir, a uma suposta autoridade, uma forma de facilitar minha aprovação, mesmo que, em tese, isso signifique claro prejuízo a todos os outros concorrentes que preferiram se dedicar aos estudos a buscar apadrinhamentos, sejam eles de que instância forem. E isso serve até para aqueles que estudaram diligentemente as matérias, mas não abrem mão de acender uma vela, ofertar promessa ou dirigir orações ao objeto da crença de sua fé. Se houve dedicação ao estudo, por que pedir favores a forças ocultas? Se não me qualifiquei, tal pedido passa a ser corrupção. O simples ato de acreditar que através de orações seu deus pode sim interceder a seu favor para garantir sua vaga faz de João um desonesto. E, por que não, também criminoso. É que, independentemente da divindade invocada existir ou não, João impiedosamente ignora o sacrifício e a competência dos outros. Ele atropela a ética, não respeita a isonomia de direitos, para fazer valer a sua vontade, quando pelo simples fato de acreditar que, com sua fé, pode ser merecedor da vaga, mesmo sem possuir a competência exigida, porque o seu deus, autoridade maior, que tudo pode, manipulará o resultado do concurso em seu benefício. A fé impede João de enxergar que a sua atitude também é uma forma de suborno, tanto quanto a outra, quando apenas agentes humanos estão envolvidos. E ainda traz um gigantesco embaraço para a sua divindade adorada, que não deixa claro quando interfere e quando tibetanamente respeita a liberdade de decisão (o famigerado livre-arbítrio, criado, no século 5, pelo cristianismo) de suas criaturas. É com essa singela lógica distorcida que a fé constrói, de oração em oração, a legitimidade para se odiar gays e ateus, lapidar mulheres e queimar inocentes nas santas fogueiras de deus.
Carlos Tavares*
7 de janeiro de 2010
* Jornalista brasileiro (cidade de Três Rios – Estado do Rio de Janeiro – Brasil)
Exmo. Senhor
Prof. Dr. Manuel Heitor
Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior
C.C. Reitor da Universidade de Coimbra
Senhor Ministro,
A Associação Ateísta Portuguesa (AAP), tomou conhecimento de um insólito convite que a Universidade de Coimbra endereçou aos corpos docente e discente para uma “Missa de Homenagem à Padroeira da Universidade, a Imaculada Conceição”, missa celebrada no dia 8 de dezembro, pelas 11H00, na Sé Nova.
A AAP, alheia a missas e à Imaculada Conceição, ficou estupefacta com o convite do Reitor e do Capelão, função esta que desconhecia numa Universidade do Estado, cuja laicidade data de 1910 e que a atual Constituição da República Portuguesa tornou irreversível.
Não surpreende que o Sr. Capelão, existindo, perfilhe o dogma da Imaculada Conceição que o papa Pio IX decidiu em 1854, o que surpreende é a inédita cumplicidade do Reitor de quem se espera a defesa da laicidade, uma conquista civilizacional e uma obrigação constitucional.
Por considerar que o Reitor da Universidade de Coimbra violou os deveres de isenção a que é obrigado em matéria religiosa e que, como Reitor, não pode assumir como seu o Deus do Sr. Capelão, vem protestar junto de V. Ex.ª contra a grave violação do espírito e da letra da Constituição da República Portuguesa.
A AAP, confiando na defesa da neutralidade do Estado em matéria religiosa, pelo Governo que V. Ex.ª integra, espera ser esclarecida sobre este lamentável incidente e sobre as medidas que a tutela pretende tomar para evitar futuros atropelos ao carácter laico das instituições do Estado.
Aguardando a resposta de V. Excelência,
Apresentamos-lhe os nossos melhores cumprimentos,
Odivelas, 9 de dezembro de 2015
a) A direção da AAP
Publicado no Diário as Beiras ontem dia 9 de dezembro
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