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  • 4 de Novembro, 2015
  • Por Carlos Esperança
  • Ateísmo

Coisas do paraíso e mais além

Por
Paulo Franco

“O paraíso é a ausência do Homem”. Emil M. Ciora.

Em muitas ocasiões onde é referida a extraordinária capacidade que a imaginação humana tem revelado para conceber soluções tecnológicas complexas para os problemas humanos, é salientado que existe uma desproporção enorme entre as possibilidades criativas infinitas da imaginação humana e as possibilidades práticas reduzidas de concretizar essas criações imaginadas.

Desde que nos tornamos Homo-Sapiens, e isto quer dizer exactamente que a evolução dotou o nosso cérebro com capacidades nunca antes vistas, passamos a ter possibilidades infinitas de interpretar o mundo e recriá-lo, o que nos rodeia e outros mundos mentalmente imaginados. O decorrer dos milénios tornou-nos ainda mais
engenhosos e complexos a engendrar mundos imaginários, soluções possíveis, sonhos individuais ou meramente objectivos de vida. Tendo em conta que apenas uma muito reduzida percentagem de humanos tem (ou teve) meios económicos e materiais para realizar sonhos imaginados nos seus cérebros, podemos facilmente concluir que a grande maioria dos humanos alguma vez existentes sofre (ou sofreu) de enormes
frustrações por ver o fruto das suas criações mentais ou desejos mais profundos impossibilitados de se concretizarem. É verdade que a grande, grande maioria dos humanos têm (ou tiveram) como principal preocupação a subsistência básica, mas isso nunca impediu alguém de sonhar.

Ora talvez possamos imaginar também que o paraíso prometido pelas muitas religiões existentes não seja outra coisa se não um projectar do nosso imaginário colectivo para uma dimensão de existência onde todos os sonhos, de todas as pessoas (só as boas, as que obedecem Deus, claro) são potencialmente realizáveis. A ambiguidade com que as principais religiões falam desse paraíso que nos é prometido para o depois da morte revela que é uma projecção esperançosa de um mundo desejado mas desconhecido,
que nos abre um leque alargado de possibilidades imaginárias para aí finalmente sermos felizes. A glória de Deus, com a sua luz radiante do paraíso cristão, ou os rios de mel do paraíso do Islão poderão ser interpretadas como formas poéticas de designar uma outra dimensão existencial onde tudo, idealizado ou sonhado por nós, será finalmente possível de realizar.

Ser ateu é um luxo aparentemente pouco acessível à maioria das pessoas. Tendo em conta os acontecimentos trágicos, bem conhecidos da História, que têm afectado particularmente pessoas religiosas onde milhões têm sucumbido, deveria surpreender-nos a todos que não haja mais ateus no mundo.

Desde as tragédias que têm acontecido nas peregrinações gigantescas a Meca no mundo islâmico (só este ano, mais de 700 mortos); a tragédia do holocausto, na 2ª guerra mundial, que liquidou mais de 6 milhões de judeus; as milhares (ou milhões) de pessoas que morreram na Europa Cristã com as cruzadas contra o Islão e a inquisição; os milhares de hindus que têm morrido nas suas, também gigantescas, peregrinações religiosas; se nenhum dos seus múltiplos Deuses puderam evitar estas mortes, então o que seria necessário acontecer para convencer estas pessoas de que o conceito “Deus” afinal é uma ilusão, um engano?

Mas afinal qual será a razão para que uns vejam na ausência de protecção divina uma prova da sua inexistência e outros, teimosamente, permaneçam crente?

As pessoas que se mantêm crentes contra todas as evidências estarão possivelmente ainda impreparadas para abandonar a esperança de um dia vir a realizar-se e a concretizar-se enquanto projecto ambicionado e imaginado. A magia que possíveis truques de ilusionismo possam surgir de uma fada escondida ao fundo do jardim parecem conferir ao imaginário destas pessoas uma aura de sobrenaturalidade, e isso abre ao sonhador as portas para uma multiplicidade infinita de possibilidades no mundo da fantasia, e claro, é por esse fascínio inebriante e mágico, que viabiliza a realização de todos os sonhos, que anseiam encontrar no “outro mundo”.

Será talvez esta a explicação para que as promessas do paraíso pós-morte surjam como cogumelos em todos os pontos do mundo onde prolifera a religião.

“Os cães são o nosso elo com o paraíso. Eles apenas nos amam, sem condições.
Sentar-se com um cão ao pé de uma colina numa linda tarde, é voltar ao Éden onde ficar sem fazer nada não era tédio, era paz”. Milan Kundera.

“O paraíso é um conto de fadas para pessoas com medo do escuro”. Stephen Hawking

Perfil de Autor

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- Ex-Presidente da Direcção da Associação Ateísta Portuguesa

- Sócio fundador da Associação República e laicidade;

- Sócio da Associação 25 de Abril

- Vice-Presidente da Direcção da Delegação Centro da A25A;

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- Colaborador do Jornal do Fundão;

- Colunista do mensário de Almeida «Praça Alta»

- Colunista do semanário «O Despertar» - Coimbra:

- Autor do livro «Pedras Soltas» e de diversos textos em jornais, revistas, brochuras e catálogos;

- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores

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