Fátima – a feira dos embustes
No dia 13 de agosto repetiu-se a feira anual da fé, dedicada aos emigrantes. O santuário ficou juncado de lágrimas, preces e velas a arder. Só os óbolos foram recolhidos.
Na caixa das esmolas caíram cordões de oiro que estiveram durante várias gerações na família, as arrecadas que a avó usou para pagar a cura do filho que a penicilina ajudou. Ficou o anel do defunto marido, para que seja mais célere a passagem pelo Purgatório e euros destinados a pagar o peixe ou a trocar o vestido que o tempo e o uso deliram.
Iam pelas estradas, bandos de peregrinos carregados de fé e cansaço, roucos de cânticos e de rosários gritados para que Deus, na sua infinita surdez, pudesse ouvir os mistérios gozosos, luminosos, dolorosos e gloriosos dirigidos à defunta mãezinha de Jesus.
Creem os devotos que a maratona pia é um complemento das orações, que Deus aprecia exercício físico e bolhas nos pés e que as chagas o comovem. Sofreram para chegar ao lugar onde bailou o Sol e a Virgem poisou nas azinheiras sem encontrar um pastor faminto de amor que a demovesse da obsessão do terço e da conversão da Rússia.
Pelas estradas e caminhos poeirentos viram-se peregrinos que a fé empurrou. Não se viu um bispo a fazer a profilaxia do enfarte ou um simples cónego a acompanhar a clientela e a partilhar o sacrifício. Para tão grandes canseiras é preciso acreditar na existência de Deus, hipótese que os prelados moderadamente admitem.
O ritual foi copiado dos anos anteriores, a liturgia repetida e o espetáculo, com entradas gratuitas, foi preparado para as televisões ampliarem o efeito das emoções coletivas.
Fátima é o altar da fé e o palco da pantomina. No dia 13, bispos, monsenhores e párocos lá estavam a gozar o espetáculo confrangedor de peregrinos a viajar de joelhos à volta da capela, em périplos de sofrimento e oração.
Deus ficou muito feliz com as esmolas, as orações, o ror de pedidos e as cinco toneladas de velas queimadas. O Deus dos senhores padres pela-se pelo cheiro de velas ardidas.
Não houve milagres. A comunicação social estava lá e cobriu as cerimónias.
Perfil de Autor
- Ex-Presidente da Direcção da Associação Ateísta Portuguesa
- Sócio fundador da Associação República e laicidade;
- Sócio da Associação 25 de Abril
- Vice-Presidente da Direcção da Delegação Centro da A25A;
- Sócio dos Bombeiros Voluntários de Almeida
- Blogger:
- Diário Ateísta http://www.ateismo.net/
- Ponte Europa http://ponteeuropa.blogspot.com/
- Sorumbático http://sorumbatico.blogspot.com/
- Avenida da Liberdade http://avenidadaliberdade.org/home#
- Colaborador do Jornal do Fundão;
- Colunista do mensário de Almeida «Praça Alta»
- Colunista do semanário «O Despertar» - Coimbra:
- Autor do livro «Pedras Soltas» e de diversos textos em jornais, revistas, brochuras e catálogos;
- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores
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