A Turquia, a Europa e a democracia
As recentes eleições turcas deram a vitória ao AKP, partido de Erdogan, sem a maioria absoluta. Foi um revés para o presidente, um Irmão Muçulmano que pretendia alterar a Constituição, para mudar a natureza parlamentar do regime e reforçar os seus poderes, transformando-o em presidencial e capaz de acelerar o processo de reislamização.
A propaganda a favor do seu partido, violando os mais elementares deveres de isenção de PR, não surtiu efeito. A entrada do partido secularista, HDP, no Parlamento, foi uma proeza num regime eleitoral que exige o mínimo de 10% dos votos.
A Turquia tem o mais numeroso exército da NATO fora dos EUA, um exército que foi garante da laicidade do Estado e que Erdogan, um político que viu sucessivamente o seu diploma de “muçulmano moderado” rubricado pelos EUA e UE, conseguiu neutralizar em nome da democracia e com depurações cirúrgicas, tal como fez com a magistratura.
O desfecho eleitoral resultou do medo do seu crescente autoritarismo, neutralizando a intensa propaganda das mesquitas e madraças. A ameaça islâmica foi adiada, mas pode tornar-se precária a vitória da laicidade e da democracia.
Erdogan conta com o AKP, partido lhe que fez perder a mais ténue neutralidade, e com o MHP, partido nacionalista secular que o apoiou mas impede um regime confessional. A laicidade só tem um único partido com acesso parlamentar garantido, o CHP, partido republicano kemalista, herdeiro do fundador da Turquia moderna, Kemal Atatürk.
Um desastre eleitoral do HDP, sensível às minorias, ou do MHP que o próprio Erdogan pode desgastar com a dificuldade de manter o Governo liderado pelo AKP, pode levar a novas eleições que deem ao falso moderado islamita Erdogan a embalagem para mandar num Governo virado para Meca. A previsível instabilidade política é propícia ao projeto autoritário e confessional do velho político que não enjeita ser um novo califa.
O interesse geoestratégico da Turquia é decisivo para a Europa. A paz ou a guerra estão na sua dependência. O futuro da civilização europeia pode jogar-se no mar de Mármara e, sobretudo, no Estreito de Bósforo.
Não há democracias vitalícias e, no Islão, as ditaduras perpetuam-se teocraticamente.
Perfil de Autor
- Ex-Presidente da Direcção da Associação Ateísta Portuguesa
- Sócio fundador da Associação República e laicidade;
- Sócio da Associação 25 de Abril
- Vice-Presidente da Direcção da Delegação Centro da A25A;
- Sócio dos Bombeiros Voluntários de Almeida
- Blogger:
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- Colaborador do Jornal do Fundão;
- Colunista do mensário de Almeida «Praça Alta»
- Colunista do semanário «O Despertar» - Coimbra:
- Autor do livro «Pedras Soltas» e de diversos textos em jornais, revistas, brochuras e catálogos;
- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores
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