Origem do terrorismo
Texto de Sam Harris retirado do livro “O fim da Fé”
No mundo árabe atual, a pobreza e a falta de instrução desempenham aqui um papel fundamental, o que não deixa antever soluções fáceis para os seus graves problemas. Esta região encontra-se hoje económica e intelectualmente estagnada a um ponto que teria sido impossível imaginar, tendo em conta o papel histórico que desempenhou no desenvolvimento e na preservação do conhecimento humano.
No ano de 2002, o PIB do conjunto dos países árabes era inferior ao da Espanha. Ainda mais preocupante, em Espanha são traduzidos mais livros que o mundo árabe traduziu para arábico desde o século IX.
Este grau de insularidade e retrocesso é chocante, mas não nos deve levar a acreditar que a pobreza e a falta de instrução estão na raiz do problema.
O facto de uma geração de crianças pobres e iletradas estar a ser alimentada na máquina fundamentalista das madraças (escolas religiosas financiadas pela Arábia Saudita) seria suficiente para nos deixar aterrorizados. Mas os terroristas islâmicos não provêm tendencialmente dos pobres sem instrução; muitos são cidadãos da classe média, educados, e sem qualquer disfunção óbvia nas suas vidas pessoais.
John Walker Lindh, o jovem norte-americano que se juntou aos talibãs, distinguia-se por ser menos instruído.
Ahmed Omar Sheik, que organizou o rapto e assassínio do repórter do Wall Street Journal , Daniel Pearl, estudou na London School of Economics. Tendencialmente, os militantes do Hezbollah que morrem em operações violentas são menos pobres e mais instruídos (muitas vezes com um nível de ensino superior) do que os seus contemporâneos não militantes. Todos os líderes do Hamas têm formação superior, sendo alguns deles pós-graduados.
Estes dados sugerem que mesmo que todos os muçulmanos gozassem de um nível de vida comparável ao da generalidade dos americanos de classe média, o Ocidente poderia ainda assim continuar em perigo de colidir com o Islão.
Pessoalmente, desconfio de que a prosperidade islâmica poderia tornar as coisas ainda mais difíceis, porque a única coisa que parece suscetível de persuadir os muçulmanos de que a sua visão do mundo é problemática é o malogro evidente das suas sociedades. Se a ortodoxia islâmica fosse tão económica e tecnologicamente viável como o liberalismo ocidental, estaríamos provavelmente condenados a testemunhar a islamização do Planeta Terra.
Como vimos na pessoa de Ossama Bin Laden, o fervor religioso e assassino é compatível com a riqueza e a instrução. Mais, a eficiência técnica de muitos terroristas demonstra-nos que é compatível com uma instrução cientifica. É por isto que não há substituição cognitiva ou cultural possível para a dessacralização da própria fé. Enquanto se aceitar que uma pessoa acredite saber como é que Deus pretende que toda a gente viva na Terra, continuaremos a assassinar-nos uns aos outros em nome dos nossos mitos.
Nas nossas relações com o Islão, temos de reconhecer que os muçulmanos não encontraram nada de substancial para dizer contra os atentados do 11 de Setembro, para além dos boatos muito difundidos de que os seus autores eram judeus. O discurso islâmico atual é um emaranhado de mitos, teorias da conspiração e exortações para recapturar as glórias do século XVII.
Não temos razão nenhuma para acreditar que os progressos económicos e políticos no mundo muçulmano servissem em si, e só por si, para remediar esta situação.
(Enviado por Paulo Franco)
Perfil de Autor
- Ex-Presidente da Direcção da Associação Ateísta Portuguesa
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- Colaborador do Jornal do Fundão;
- Colunista do mensário de Almeida «Praça Alta»
- Colunista do semanário «O Despertar» - Coimbra:
- Autor do livro «Pedras Soltas» e de diversos textos em jornais, revistas, brochuras e catálogos;
- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores
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