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Mês: Junho 2015

30 de Junho, 2015 Carlos Esperança

B16 e um texto de 2005

O circo de Colónia

O circo de Colónia encerrou as portas. O nome – XX Jornadas Mundiais da Juventude – foi um logro bem ao gosto da ICAR -, pois a falta do adjectivo «católica» induziu os néscios e os distraídos a pensar que eram jornadas ecuménicas ou um convívio jovem para confraternização e divertimento, já que a cultura anda arredia das reuniões pias.

Foi um ajuntamento de um milhão de créus arregimentados para prestar vassalagem ao novo pastor alemão, B16, Papa vitalício da ICAR.

A penitência foi dura: 12 discursos papais, muitas orações, diversas missas e música sacra em exclusivo, demasiado monótona para melómanos eclécticos.

Para fingir o carácter universal da Igreja católica, as festividades terminaram com o Gloria in excelsis Deo, cantado em latim, por jovens de cinco continentes, com uma orquestra de violinos e instrumentos andinos. Foi o ponto alto do espectáculo antes do correr do pano.

Ficou aprazado novo festival para 2008, em Sydney, com o mesmo nome enganador – Jornada Mundial da Juventude/2008 (JMJ). O arcebispo australiano já se congratulou com a escolha, afirmando que o evento «ajudará a consolidar a fé dos católicos daquele país-continente», onde os esforços publicitários serão concentrados.

O Papa Ratzinger respirou de alívio depois da primeira actuação no estrangeiro, por sinal a sua terra natal, bastante indiferente a Deus e ao Papa. Regressou, depois, ao antro donde comanda a ortodoxia, o proselitismo e a política global da Igreja Católica.

Talvez, à semelhança do que fez nas últimas eleições americanas, prepare uma carta para os bispos de um qualquer país para advertir os crentes de que não podem comungar se defenderem o aborto ou a eutanásia ou votarem em candidatos que defendam tais abominações. Se defenderem a guerra justa ou a pena de morte, mesmo que o Papa não o faça, isso são meros pontos de vista, compatíveis com a deglutição da hóstia.

Terminou o circo. B16 mantém o traje, um alvo vestido branco e sapatinhos vermelhos.

29 de Junho, 2015 Carlos Esperança

Multiculturalismo, sim, humilhação da mulher, não

 

 

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Por cada mulher que o deseja há centenas que são obrigadas. Também houve escravos que recusaram  a liberdade que a abolição da escravatura lhes concedeu!

28 de Junho, 2015 Carlos Esperança

O fascismo islâmico

Os recentes atentados islâmicos, cada vez mais globais e selvagens, vêm aprofundar a necessidade de combater a lepra que corrói a paz e a civilização.

Não pode ser um monopólio da direita reacionária, xenófoba e populista o combate ao fascismo islâmico. É uma tarefa de islamitas, cristãos e budistas, como é uma obrigação de ateus, agnósticos, racionalistas e céticos, enfim, uma necessidade comum de crentes e livres-pensadores que não sacrificam valores do Iluminismo, os ideais da Revolução Francesa.

28 de Junho, 2015 Carlos Esperança

O medo do Inferno

Investigação com embriões: EUA quer exigir pareceres religiosos
Uma proposta da Câmara dos Representantes quer limitar ainda mais a investigação com embriões humanos e quer que os pareceres sejam revisto eticamente por especialistas religiosos.
Diário de uns Ateus – Os talibãs romanos e os evangélicos substituem os cidadãos pelos clérigos. A laicidade é um ódio de estimação, tal como no Islão.
27 de Junho, 2015 Carlos Esperança

Homilia de Frei Bento

Por

Frei Bento

(Epístola com pedido de publicação)

Caríssimos irmãos em Cristo, permiti que eu vos fale, hoje, da Eucaristia, a.k.a. Comunhão. Como sabeis, e se não sabeis devíeis saber, a Eucaristia simboliza e perpetua a Última Ceia de Nosso Senhor. De acordo com os evangelhos, a Ceia foi constituída apenas por pão e por vinho, o que não lembra nem a um penico, por muito sujo que esteja. Não faz o menor sentido treze marmanjos alaparem-se a uma mesa para a ceia sabendo-se, ainda para mais, que era a última, não faz o menor sentido, dizia eu, tratarem de apenas comer pão e beber vinho. Apenas.

Apenas? Não!

Aquando das escavações para as fundações do que viria a ser, posteriormente, a nossa Abadia, foram encontrados documentos que a própria Ciência, com quem estamos de costas voltadas desde aquela cena de a Terra andar à volta do Sol, pois bem, a própria Ciência, contra o seu costume, considerou tais documentos como autênticos – e não me refiro, naturalmente, aos cientistas que analisaram o Santo Sudário, refiro-me a cientistas MESMO. Tais documentos afirmam, sem margem para dúvidas, que a Ceia de Nosso Senhor não consistiu nos triviais pão e vinho. A ementa era farta, posso garantir, embora a ética religiosa me impeça de divulgar o menu. Quem sou eu, ou quem somos nós, frades Neo-Goliardos, para desmentir os Evangelhos, por muitas dúvidas que estes possam suscitar? Posso, no entanto, garantir que da ementa não faziam parte nem as tapas de presunto nem os camarões “al ajillo”. Por razões biblicamente compreensíveis.

Pois bem, rezam, literalmente, os documentos em poder da nossa Abadia, que, depois de todos bem comidos e melhor bebidos, Jesus se levantou para fazer um brinde, habitual naquelas e em similares circunstâncias. Mas Jesus era, e continua a ser, Filho de Deus. Filho e Pai, mas isso fica para outra ocasião. Pois bem, Jesus entendeu, e eu vou-lhe ao entendimento, que deveria fazer um brinde diferente. Nada do corriqueiro “Et fosses, et esgharabet et bitta tu”, nada disso. Daí que, pegando no pão que ainda estava na mesa, e que não seria descontado na conta, porque tendo vindo para a mesa tinha de ser pago mesmo que não consumido, distribuiu-o por entre os comensais e disse: “Tomai e comei, já que tenho de o pagar.”, embora neste ponto haja divergências quanto ao sentido de “tenho de o pagar”. Por exemplo, o nosso irmão Hermeneuta entendia que devia ser traduzido por “isto é o meu corpo”, mas o Abade de Priscos, nosso superior hierárquico, afirma que a tradução literal é “isto sai-me do corpo”, já que quem convida é que paga e Judas, que era a Maria Luís da época, garantia que havia almofada financeira para o evento, mas sem descurar a austeridade. “Nihil sub sole novum”, como se depreende. Os documentos falam, também, num episódio parecido, mas envolvendo vinho, só que, entretanto, já ninguém estava em condições de dizer, e muito menos escrever, fosse o que fosse. O que aparece escrito já é passível de muitas especulações.

Ora, e é aqui que eu quero chegar, a Igreja Católica decidiu-se pela apropriação da tradução do nosso irmão Hermeneuta, que Deus tenha em eterno descanso. E como se não bastasse, ainda tiveram a lata de garantir uma coisa que nunca foi minimamente provada, que é essa merda – Deus me perdoe! – da transubstanciação. Ou seja, uma rodela de farinha amassada com água dá direito a garantir que aquilo é o corpo e sangue de Cristo. E toda a gente – os que comem aquela mistela – nem se apercebem de que estão a praticar canibalismo. Antropofagia, que é pior! E o ministério público mudo e quedo. Porque se a antropofagia não é considerada crime, acho eu, já o mesmo não se pode dizer da profanação de cadáver. Quer dizer: andam há quase dois mil anos a comer Cristo, e ninguém mexe uma palha, ninguém faz a ponta de um corno!

Caríssimos irmãos em Cristo, a Eucaristia é um acto simbólico. É uma forma de os crentes “confraternizarem” com Jesus, e nada tem a ver com o comer-lhe o corpo às rodelas, já que o “sangue” é bebido pelos vampiros sacerdotes. Nós, na nossa Abadia, praticamos, naturalmente, a sagrada Eucaristia. Distribuímos pão ázimo, que mandamos vir diariamente da comunidade judaica de Belmonte e, contrariamente ao que se pratica na Igreja Católica, damos a beber aos crentes, vinho. Poiares maduro, colheita de 1967, para que conste! Aos menores de 16 anos (18, a partir de Julho) damos a escolher entre sumos ou Coca-cola. É uma cerimónia bonita, que se desenrola ao som de “In Taberna Quando Sumos”, entoada pelo nosso grupo coral.

Por isso, irmãos: se quereis participar numa eucaristia CDS (Como Deve Ser), vinde até nós.

Saúde e merda, que Deus não pode dar tudo.

26 de Junho, 2015 Carlos Esperança

A garantida canonização de Pio XII

A garantida canonização de Pio XII

Mesmo com o atual Papa de que a ICAR teve necessidade, como as nódoas de benzina, depois de dois pontífices que perderam clientela, os milagres continuam a fazer parte do arsenal de produtos pios para o exercício ilegal da medicina por cadáveres com muitos anos de defunção.

Os santos continuam a nascer como cogumelos em noite de orvalho e Pio 12 parece ser dos que estão bem colocados no concurso e nos milagres.

Pio 12 não foi um celerado que arrancasse olhos aos sérvios, um carrasco que estivesse nos campos de concentração a assassinar judeus, um biltre que usasse as próprias mãos para despachar hereges a caminho do Inferno.

Pio 12 foi apenas um Papa católico, amigo da ordem e da paz, antissemita como os seus pios antecessores e anticomunista como os sucessores. Foi com muita mágoa – dizem os panegiristas de serviço –, que assistiu em silêncio ao extermínio dos judeus e, depois da guerra, para compensar, converteu conventos e seminários em refúgios nazis, enquanto a diplomacia do Vaticano arranjava passaportes para a América do sul.

Não se pode condenar Pio 12 pelo antissemitismo. É um dever que o Novo Testamento impõe, é o culto de uma tradição que alimentou as fogueiras do santo Ofício e um preito de gratidão a todos os santos que perseguiram judeus, moiros e hereges e dilataram a fé.

Pio 12 apenas queria celebrar concordatas com os Estados fascistas, proteger as famílias cristãs dos malefícios do divórcio e assegurar às crianças o ensino obrigatório da sua fé. Haverá odor que mais agrade a Deus do que o de um herege a ser queimado? Ou maior delícia do que a tortura de quem siga uma religião falsa?

Claro que Pio 12 deve ser canonizado. Quantos biltres o não foram já? O problema que lhe complica a vida é não ser incluído em levas de centenas e, na sua singularidade, ter ainda quem se lembre de que o Vaticano foi um antro de conivência com o fascismo a que deve o Estado em que se transformou.

Mas não aconteceu o mesmo com JP2, um papa que fazia milagres em vida, apesar de só os mortos terem alvará para o negócio?

Ora, canonize-se o cadáver. Com os anos que já leva de morto, há muito que não fede.

25 de Junho, 2015 Carlos Esperança

As religiões e o proselitismo

Nada tenho contra os crentes e tudo contra as crenças, sobretudo quando os fiéis querem impor aos outros a sua fé e, muito especialmente, se recorrem à violência.

O ateísmo também merece igual censura se for sectário e violento. As guerras santas são devastadoras e a Europa tem longa tradição nesse desvario. Por mais que a componente económica influencie os conflitos, é o ódio religioso que aparece como o mais violento detonador de guerras.

Que raio de deuses inventaram os homens que precisam de religiões como agências de promoção e instrumento de coação?

A laicidade é a vacina que interessa a crentes de todas as religiões não dominantes, no espaço em que se inserem, bem como a todos os não crentes, e não pode ser descurada.

É tão perverso um Estado ateu como um confessional. O Estado deve ser neutro e evitar intrometer-se na vida das associações cuja liberdade lhe cabe respeitar e defender. Só o código penal deve limitar a demência do proselitismo e a violência dos prosélitos.

Não posso deixar de recordar Voltaire no leito da morte, a quem, como era hábito, para terem o troféu «converteu-se na hora da morte», pretendiam que «negasse o Diabo», ao que respondeu com fina ironia: «Não é o momento apropriado para criar inimigos».

Mais sarcástico, Christopher Hitchens, influente escritor e jornalista britânico, autor do livro «Deus não é grande», quando soube que, na sequência do cancro que o consumia, se faziam apostas na NET sobre se se converteria antes de morrer, declarou: «se me converter é porque acho preferível que morra um crente do que um ateu».