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Mês: Março 2015

2 de Março, 2015 Carlos Esperança

A demência da fé e a boçalidade dos crentes

O Estado Islâmico divulga um vídeo em que destrói estátuas milenares

Na gravação, vários milicianos dão golpes de marreta em esculturas de um museu na cidade iraquiana de Mossul
Parece uma advertência depois do anúncio de um plano dos EUA para retomar o controle da cidade

Um grupo de jihadistas destrói esculturas em um museu em Mosul (Iraque).

Armado com grandes martelos e brocas, um punhado de seguidores do Estado Islâmico (EI) em Mosul destrói com fúria várias estátuas que descrevem como “ídolos” e que arqueólogos de todo o mundo temem que sejam peças assírias e acádias. O vídeo, cujo conteúdo foi confirmado nesta quinta-feira pela UNESCO, é a mais recente provocação desse grupo extremista sunita que aspira a governar todos os muçulmanos do mundo, mesmo que tenha de suprimir a história e exterminar todos os que se opuserem a seu projeto. Na semana passada o EI destruiu a biblioteca central dessa cidade, situada no norte do Iraque.

“É um ataque deliberado contra a história e a cultura milenares do Iraque e uma incitação à violência e ao ódio”, declarou a diretora-geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), Irina Bokova, antes de pedir uma reunião urgente do Conselho de Segurança.

1 de Março, 2015 Carlos Esperança

O Islão e a teologia do cabotinismo

Pegue-se numa cópia grosseira do cristianismo, com laivos de judaísmo, e faça-se um manual terrorista ao gosto de um beduíno boçal de há 14 séculos. Intoxiquem-se nele os povos e constranjam-se, torturem-se os réprobos e aliciem-se os devotos com rios de mel e virgens ansiosas. Produzem-se dementes fanáticos, embrutecidos pela fé.

Algures, no que resta do Iraque, entre os rios Tigre e Eufrates, onde nasceu a escrita e a civilização teve berço, despertaram selvagens em estado místico, primatas adestrados no uso de utensílios e armas sofisticadas, aptos a recriarem o habitat da Idade do Bronze.

Um dia servem-nos decapitações; no outro, assassínios; depois, homens enjaulados a arder lentamente ao som de gritos selvagens: “Deus é grande e Maomé o seu Profeta”.

É fácil identificá-los pelo aspeto simiesco, desprezo das fêmeas, comprimento dos pelos nas trombas e, sobretudo, pelo desprezo da vida e ódio à modernidade.

Bandos ensandecidos, suspeitando da inspiração do demo na arte assíria, destroem, com marretas e martelos pneumáticos, obras únicas, três milénios de arte preservados no Museu de Mossul, com a sanha com que queimaram milhares de manuscritos e de livros raros na Biblioteca Municipal. Viram infiéis nos sumérios e assírios e quebraram tábuas de gesso com escrita cuneiforme, com mais de cinco mil anos; na cabeça esculpida, da época suméria, imaginaram o busto de Maomé com um turbante carregado de bombas e partiram-na; e, no boi alado com três mil anos, divindade assíria, adivinharam escárnio ao arcanjo Gabriel fabricado na rotativa do Charlie Hebdo, e reduziram-no a cacos.

Há, nesta tragédia cultural, na metáfora do mais perverso monoteísmo, um apelo à raiva, à revolta e ao repúdio civilizacional contra a barbárie.