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Violência doméstica na cultura judaico-cristã

No início deste mês, um homem de 33 anos matou a mulher de 29 e, a seguir, atirou-se da Ponte 25 Abril, deixando o filho de 3 anos que assistiu ao crime. A monótona notícia que se repete, à média de 40 mulheres por ano, é um ferrete de ignomínia que nos marca com o estigma da brutalidade, um desmentido feroz da brandura que alardeamos.

Sei que também há homens que são vítimas da violência doméstica e que o assassinato não é a única forma de violência, mas são as mulheres que estão na vanguarda destacada da estatística das vítimas.

Falar do ‘país de brandos costumes’, expressão cunhada pelo frio ditador que deixava os adversários entregues às mãos criminosas dos esbirros ou o ao gatilho rápido da polícia política, e sabermos que, nos últimos dez anos, a violência doméstica deixou 700 órfãos, é sermos percorridos por um frémito de desconfiança e revolta, sentirmos em cada órfão o filho que a violência abandonou aos baldões da sorte e o remorso da indiferença.

Que raio de genes conservamos ainda das cavernas da nossa ancestralidade, da miséria de um povo que foi sempre pobre e onde o pão se disputava numa leira de terra ou num rego de água para a cultivar, à custa da vida de um irmão ou do pai que teimava em não morrer?

É deste povo que somos que nasce a violência que nos envergonha, a morte que nasce na ponta de uma faca, na lâmina de uma sachola ou no gume de uma foice por motivos que a inteligência repudia ou ciúmes que a educação há muito devia ter erradicado.

Que raio de genes e de gentes, moles com os fortes e violentos com os fracos, incapazes de pensar nos outros, descarregando frustrações e impotência em quem se habituou a ser culpada pela família, Igreja e sociedade que mais facilmente desculpam algozes do que protegem as vítimas.

Fonte: Comissão de Proteção às Vítimas dos Crimes (CPVC)

Perfil de Autor

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