Até os católicos se envergonham
Católicos e judeus criticam filme que defende papa Pio 12
Católicos e judeus criticam filme que defende papa Pio 12
Por Philip Pullella
CIDADE DO VATICANO (Reuters) – Um novo filme italiano que tenta defender o papa Pio 12 contra acusações de que ignorou o Holocausto foi criticado pelo Vaticano, assim como por mídias católicas e judaicas.
“Shades of Truth” (Sombras da Verdade, em tradução livre) conta a história de um jornalista norte-americano fictício nos tempos atuais, que começa como crítico a Pio 12 e muda sua opinião após pesquisas em Israel, Roma e outros lugares da Europa.
Alguns judeus acusaram Pio, que comandou a Igreja Católica de 1939 até 1958, de falhar em se posicionar para chamar atenção à exterminação de judeus.
O Vaticano afirma que Pio 12 trabalhou ativamente nos bastidores para salvar milhares de judeus e não falou publicamente por medo de que suas palavras pudessem levar a mais mortes de judeus e cristãos nas mãos dos nazistas.
Após uma exibição na segunda-feira perto do Vaticano, o filme, que chama Pio de “a pessoa mais incompreendida do século 20” foi criticado mundialmente.
O jornal do Vaticano L’Osservatore Romano disse que o filme, cujo diretora Liana Marabini quer exibir no Festival de Cannes neste ano, era “ingênuo”, “sem credibilidade” e uma “tentativa indelicada” de defender o pontífice do período de guerra.
A revista católica italiana Famiglia Cristiana disse que o filme iria prejudicar a já frágil reputação de Pio, porque era exageradamente apologético e sem bases históricas suficientes para o defender.
O Pagine Ebraiche, jornal online da comunidade judaica de Roma, chamou de “uma novela desajeitada de qualidade duvidosa, repleta de estereótipos”.
O jornal também criticou o filme por uma cena na qual o jornalista sonha que vê Pio usando uma estrela de Davi amarela em sua batina, como o símbolo que os nazistas forçavam os judeus a usar.
O filme conta com o ator norte-americano David Wall e inclui participações de Christopher Lambert e Giancarlo Giannini.
No último ano, o papa Francisco defendeu seu antecessor em entrevista com um jornal espanhol, dizendo que Pio “tem que ser visto no contexto daquela era”. Os arquivos do Vaticano da época da guerra iriam trazer à tona o que Pio fez para ajudar judeus italianos, disse o Papa.
Grupos judeus pediram ao Vaticano para interromper o processo que poderia levar Pio à santidade até todos os arquivos de guerra serem completamente abertos a historiadores, dizendo que relações entre católicos e judeus poderiam ser feridas se o processo continuasse.
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