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Mês: Janeiro 2015

11 de Janeiro, 2015 Carlos Esperança

O proselitismo e a violência

O pior que algumas religiões encerram é o seu proselitismo. Não lhes bastam os crentes próprios, exigem a conversão dos alheios ou a sua eliminação. A evangelização cristã é hoje, felizmente, uma tara acalmada com a repressão política sobre o clero. Abandonou há muito os métodos cruéis de evangelização que usou em vários continentes e, de forma particularmente violenta, na América do Sul.

Na Europa , a paz de Vestefália, pôs fim à sangrenta Guerra dos 30 Anos e a Igreja católica só aceitou a liberdade religiosa na década de 60 do século passado, no concílio Vaticano II. O azedume de João Paulo II e de Bento XVI apenas fez mal aos próprios e foi irrelevante para a liberdade religiosa europeia onde o secularização dos países tornou impensável qualquer perseguição.

O Islão, pelo contrário, na cópia grosseira do cristianismo introduziu a guerra como um instrumento de contágio e submissão, agravado pela decadência da civilização árabe e o ressentimento dos crimes de que foi alvo por países saqueadores de matérias primas, em especial o petróleo.

É incontestável que os crentes não são piores nem melhores do que os não crentes mas ninguém faz o mal com tanto entusiasmo e satisfação como os que são movidos pela fé.

Não é inocentando os crimes sectários das religiões que se estabelece um modus vivendi num mundo onde as diferenças deviam ser fatores de enriquecimento e não motivos de conflito.

Quando os crentes se convencerem de que as suas religiões refletem as formas de pensar da época em que surgiram e não palavras ditas por um ser ilusório, sem aparelho fónico, podem cumprir os preceitos que se habituaram a observar, desde crianças, e deixar no templo a obsessão de submeter os outros às suas próprias convicções.

Ao proselitismo não se podem tolerar outras armas para além da palavra e do exemplo e as armas devem ser banidas da evangelização. As democracias, por mais que sangrem, não podem ultrapassar os limites do Estado de Direito contra o terrorismo, sob pena de perdermos o Estado e o direito e ficarmos apenas reféns do terrorismo recíproco.

10 de Janeiro, 2015 David Ferreira

Prefiro morrer de pé

“Prefiro morrer de pé do que viver ajoelhado”, disse o director do Charlie Hebdo, como que a antecipar o fatídico destino.

De pé! Não como um cobarde e muito menos como um traidor. De pé!

Após a sua profetizada morte, logo saíram à rua todos os hipócritas, cobardes, inocentes e idiotas úteis da sociedade a gritar – Eu sou Charlie Hebdo! A pensarem que são Charlie Hebdo.

Não, não são. Gostariam de o ser, porventura, mas não o são. Nunca o serão. Muitos estarão nos antípodas de Charlie Hebdo. Muitos serão responsáveis pela necessidade de um Charlie Hebdo.

Stéphane Charbonnier foi o paradigma da coragem. Deu a vida pela liberdade. Não por uma liberdade patética e anárquica. Deu a vida pela sua liberdade de expressão e pela liberdade dos outros de não concordarem com ela. Teve nas veias o calor do sangue que a transfusão do iluminismo nos legou. Mesmo sabendo que a sua vida corria perigo. E muito poucos dos que se auto-intitularam Charlie Hebdo seriam capazes de o fazer. Palavras leva-as o vento, assim dizia Florbela Espanca. E assim o vento levará todas as pias mensagens de tolerância para com os intolerantes que muitos ímpios lhe atiram de joelhos.

Morreu Stéphane Charbonnier. Um ateu como tantos outros. Um cidadão como tantos outros. Mas diferente de tantos outros. Feriu com o som das palavras, morreu ao eco das espingardas. Morreu às mãos de intolerantes. E há quem tenha o cinismo de o apelidar de intolerante. Ateus inclusive. Porque há ateus que apenas o são para justificar a sua incapacidade de integração na sociedade. Para manifestar o seu desprezo pela sociedade. Tal como os intolerantes que mataram Stéphane Charbonnier.

Morreu Charlie Hebdo. Morreu um jornal. O símbolo máximo da liberdade de expressão. E há cobardes que se dizem Charlie Hebdo. E há fanáticos que apoiam outros fanáticos, que negam outros fanáticos, porque não conseguem admitir que os seus dogmas ideológicos possam estar errados e desadequados da civilização.

Morreu Charlie Hebdo.

Viva Charlie Hebdo!

E quanto aos cobardes… Os cobardes já morreram. De joelhos. Porque os cobardes morrem muitas vezes antes de morrer. E sempre de joelhos.

10 de Janeiro, 2015 Carlos Esperança

VERSÍCULOS CORÂNICOS

Por

João Pedro Moura

II- 8 a 10: “Entre os homens há os que dizem: “ Cremos em Deus e no Último Dia”, mas não são crentes.

Esses querem enganar a Deus e aos que crêem, mas só se enganam a si mesmos, embora não o saibam.

Em seus corações existe uma enfermidade, que se agravará, terão um castigo doloroso por terem mentido.”

II-24: “Se não o fizerdes, e não o fazeis, temei então o fogo que tem por alimento os ídolos, e que foi preparado para os incrédulos.”

II-39: “Os que forem infiéis e recusarem a verdade contida nos nossos versículos irão para o Inferno, onde viverão eternamente.”

II-193: “Matai-os até que a perseguição não exista e esteja no seu lugar a religião de Deus. Se eles se converterem, não haverá mais hostilidade; esta não cessará senão para os injustos.”

V-33: “A recompensa dos que combatem Deus e o seu Enviado e se esforçam em espalhar pela Terra a corrupção, consistirá em serem mortos ou crucificados, ou no corte de sua mão e pé oposto, ou na expulsão da terra em que habitam. Isto será a sua recompensa neste mundo. Na outra terão um tormento enorme.”

V-36, 37, 38: ”Se os que não crêem tivessem tudo o que está na Terra e incluso outro tanto para com ele se resgatarem do tormento no Dia da Ressurreição, não se lho aceitaria: terão um castigo doloroso.

Quererão sair do fogo, mas não sairão. Terão um tormento permanente.

Cortai as mãos do ladrão (quer seja homem ou mulher) como castigo e aviso de Deus. Deus é poderoso, sábio.”

VIII-7: “…enquanto Deus queria que se tornasse patente a verdade das Suas palavras e exterminar até ao último dos incrédulos.”

VIII-12,13, 14, 15: “…Lançarei o pânico no coração dos que não crêem! Batei-lhes acima do pescoço! Batei-lhes nas pontas dos dedos!

Isto porque eles estão afastados de Deus e do seu Enviado, e os que se afastam de Deus e do seu Enviado são castigados, pois Deus é terrível no castigo.

Isso é vosso: saboreai-o e sabei que os incrédulos terão o castigo do fogo.

Ó vós que credes! Quando encontrardes os que descreem a avançar, não lhes volteis as costas.”

VIII-17: “Crentes! Não os matastes: Deus matou-os. Não atiras quando atiras: Deus é quem atira a fim de experimentar os crentes, pela sua parte, com uma bela prova.”

VIII-50: “Se pudésseis ver o momento em que os anjos chamam os que não crêem! Batem-lhes na face e nas costas, dizendo: “Saboreai o tormento do fogo!””

X-4: “…Os que não crêem terão uma bebida de água a ferver e um tormento doloroso, porque terão sido ímpios.”

XVIII-29: “…Preparamos um fogo para os injustos: as suas labaredas os rodearão. Se pedirem auxílio, serão socorridos com uma água semelhante a ácido, que queimará os rostos. Que péssimo refrigério! Que mau apoio!”

XXII-19 a 22: “Esses – os crentes e os descrentes – são dois inimigos que combatem acerca do seu Senhor. Aos incrédulos preparar-se-lhes-á uma vestimenta de fogo; do cimo da sua cabeça verter-se-lhes-á água a ferver.

Com ela se derreterá o que há em seu ventre e na sua pele.

Serão açoitados com barras de ferro.

Cada vez que, angustiados, quiserem sair do fogo, dir-se-lhes-á: “Provai o tormento do fogo!””

XLVII-4: “Quando encontrardes os que não crêem, golpeai-os no pescoço até os deixardes inertes; depois, concluí os pactos. Depois concedei-lhes favor ou libertai-os quando a guerra haja deposto as suas cargas. Assim agireis. Se Deus quisesse, vencê-los-ia sem combater, mas põe-vos à prova uns com os outros. As obras dos que sejam mortos na senda de Deus não se perderão.”

LIX-4: “Será assim, porque eles se afastaram de Deus e do seu Enviado. Quem se afasta de Deus sofre um castigo. Deus é duro no castigo.”

LXVI-9: “Ó Profeta! Combate os incrédulos e os hipócritas! Sé duro para com eles! O seu refúgio é o Inferno. Que péssimo destino!”

ultima imagem

Último cartoon do Charb, publicada no próprio dia 7, em que o assassinaram.

9 de Janeiro, 2015 Carlos Esperança

Carlos Brito, um grande cartunista francês, emigrante português

Droits de l'homme

 

Por acasos da vida conheci Dino Monteiro, um quadro do Partido Socialista Francês e um dos fundadores do PS português. Fugiu à fome e à ditadura, ilustrou-se e tornou-se um quadro de uma grande empresa a cujo serviço o conheci e de quem me tornei amigo.

Foi ele que me pôs em contacto com Carlos Brito, um amigo seu, e que me autorizou a usar os seus desenhos no Diário de uns Ateus.

Ouvi-o há pouco, numa entrevista da SIC-N, emocionado com a morte dos 3 colegas e amigos íntimos de 4 cartunistas do Charlie Hebdo que o fascismo islâmico assassinou.

Deixo aos meus leitores um desenho de Brito, «politicamente ateu e filosoficamente agnóstico», dos vários que me enviou e conservo numa pasta com o seu nome.

9 de Janeiro, 2015 Carlos Esperança

A miopia de alguma esquerda e um manual terrorista

A confusão entre os pacíficos seguidores de um credo anacrónico, nocivo e perigoso – o Islão –, com os produtos tóxicos desse mesmo credo – os terroristas –, tem conduzido a extrema-direita a aproveitar o pântano da confusão e a tirar dividendos políticos.

A má consciência dos cruzados que invadiram o Iraque e que a força das armas impediu que fossem sujeitos ao julgamento do TPI, conduziu à benevolência com que o terror da concorrência é tratado e ao pretexto que conduziu à desforra. Em 8 de janeiro de 2004, há 11 anos, quatrocentos técnicos da equipa norte-americana especializada em busca de armas de destruição maciça abandonaram o Iraque, sem que alguma arma proibida tenha sido descoberta. Não é o remorso que leva à condescendência para com a Arábia Saudita que fomenta e subsidia o terrorismo, mas os interesses do petróleo.

Teimosamente, há quem prefira conformar-se com a espiral de ódio xenófobo a tratar as religiões como associações privadas, sujeitas às mesmas normas. O incitamento ao ódio é crime, quer seja promovido pelo cardeal Rouco Varela na catedral de Madrid, por um rabino-chefe da grande sinagoga de Jerusalém ou por um xeque, mulá ou aiatola de uma qualquer mesquita onde destile veneno ou por uma associação ateísta.

A fé não pode ser ópio que promova o terror. Mais importante do que a fé individual é o livre-pensamento universal. A herança de Voltaire é mais generosa do que a de Abraão.

O Estado democrático deve defender o direito à crença e à descrença, sem tolerar que os incitamentos ao ódio fiquem impunes. A liberdade é um bem universal, a crença é um aconchego individual. Não cabe ao Estado pronunciar-se sobre a fé, mas a caça ao voto leva os partidos a postergarem a laicidade e a concederem privilégios que exoneram as sotainas das exigências legais.

A tragédia de ontem, em França, só admite o cumprimento da laicidade consagrada na lei e não a tergiversação face aos incitamento ao ódio destilado nas madraças, mesquitas e através da Internet ou pelo catolicismo da menina Le Pen.

8 de Janeiro, 2015 Carlos Esperança

Carta de Frei Bento, com pedido de publicação

Caríssimo irmão em Cristo, com a minha bênção e os desejos de Bom Ano, aqui lhe envio mais uma cartinha, com o pedido de publicação.

Amém.

O Jornal de Notícias, diário de inspiração católica e, portanto, insuspeito, refere, na sua edição de 5 de Janeiro deste ano, que o cancro pode seroriginado pela má sorte. Ou seja, os cientistas não passam de uma data de ateus! Eu explico.

Aqui mesmo, neste portal, um ilustrérrimo irmão, que eu considero o mais crente dos ateus, ou o mais ateu dos crentes, vá-se lá saber,  tem defendido que para haver algo criado, tem de haver um criador. E eu assino por baixo, como nem podia deixar de ser, de contrário o Abade de Priscos f… lixava-me. Mas não sou só eu, também há um relojoeiro que afina pelo mesmo diapasão. Aliás, até há uma figurinha muito querida, de um menino a fazer ondinhas, que deve ser o mesmo que… Bom mas isso já foi dito. Ora, o que interessa é essa cambada de cientistas ateus continua a defender a cena patética do mero acaso, e agora até o filh… o raio do cancro acontece “por sorte”!

Como se Deus Nosso Senhor não tivesse uma Palavra a dizer ou, até, como se não existisse. Isso não se diz, e muito menos se escreve! Queria deixar aqui a minha indignação, se o irmão Esperança não se importasse… Pode ser? É que é preciso que essa gente se convença de que nada acontece sem a Vontade de Deus.

Saúde e merda, que Deus não pode dar tudo.

a) Frei Bento

 

7 de Janeiro, 2015 José Moreira

O Friorento

Para descontrair…

 

Albino e Albano eram primos. Mais que primos, eram amigos. Inseparáveis. Não vivia um sem o outro. Acontece que Albino era friorento. Muito friorento. Mesmo no Verão, andava encasacado, quando toda a gente andava em mangas de camisa.

Um dia, num inverno mais rigoroso, Albino morreu. De frio, naturalmente. E lá se foi.

Albano ficou, compreensivelmente, inconsolável. Entrou em depressão, deixou de se alimentar. Acabou por morrer, também.

Pois ainda o médico não tinha assinado a certidão de óbito, eis que Albano bate à porta do Céu. Atendido por S. Pedro, como não podia deixar de ser, perguntou pelo primo.

– Olha, meu filho, ele esteve cá, porque merecia. Mas era muito friorento, e dava-se mal. Estava sempre a queixar-se do frio. Ele mesmo pediu para ir para o Purgatório, para ver de lograva melhores condições de temperatura. Lá sempre é mais quentinho…

Sem mais, Albano desceu ao Purgatório. S. Gabriel, o arcanjo, dilucidou-o:

– Sim, realmente esteve cá, mas não aguentava o frio. Foi ele mesmo que pediu para ir para o Inferno, coisa que não merecia, mas que se há-de fazer? Lá , não lhe há-de faltar calor.-  completou com ironia.

Albano fez como o outro, e desceu aos Infernos. Bateu à porta, e atendeu-o o Diabo em pessoa:

– Faxavor…?

– Vinha à procura do meu primo Albino, disseram-me que ele estaria aqui…

– Albino…? Assim pelo nome. não estou a ver…

Nesse momento, vinda algures de lá de dentro, ouviu-se uma voz:

– Eh pá, porra, fechem-me essa porta…!