A marcha dos alinhados
Não sei se a manifestação que teve lugar em França foi contra o terrorismo, a favor da tolerância ou uma catarse em grupo. Sei que não me recordo de ver tanta gente gritar “Não temos medo!” com o coração nas mãos.
Sei que de tanto se gritar por liberdade acabámos por ensurdecê-la e amordaçá-la. Uma manifestação pacífica em nome da tolerância que necessita da escolta de um exército armado por questões de segurança não é uma manifestação, é uma procissão alinhada de condenados com síndrome de Estocolmo a recitar auto censura.
Decorrida a homilia, retiraram-se em silêncio. Em silêncio, a recalcar as fobias de que lhes dizem padecer. À noite colocarão o silício e rangerão os dentes de dor enquanto sussurram: “Por minha culpa, por minha grande culpa.”
Amanhã, quando acordarem, voltarão a ser tentados. As tentações são mais que muitas. E vão continuar a recalcar os pecados que alguém disse que têm. Até à próxima homilia. Porque vai haver uma próxima homilia. Que ninguém duvide. Então voltarão a tomar a hóstia e a engolir em seco. Em silêncio. Sempre em silêncio.