3 ARGUMENTOS CONTRA A ORAÇÃO
Por
João Pedro Moura
A propósito da nova aplicação informática para “orar”, oriunda da ICAR, exponho aqui as contradições do ato de rezar.
O que é rezar?
Rezar é pedir a uma entidade divina, duma forma livre ou estereotipada, mental e/ou vocal, pública ou privada, que dê uma benesse, isto é, que modifique uma situação desfavorável, convertendo-a em favorável ou que nos dê um bem, simplesmente.
Rezar é, também, agradecer à entidade divina determinada situação.
Reza-se, portanto, em variadas circunstâncias.
Em suma, rezar é coisa muito antiga e vulgar, inerente à religião.
Todavia, seguidamente, eu vou demonstrar que rezar é uma contradição antitética e intrínseca e, como tal, não tem ponta por onde se lhe pegar.
PRIMEIRO ARGUMENTO:
O “ser absoluto” não tem defeitos, logo, a sua criação também não.
Admitir, por exemplo, que uma seca é um defeito e, portanto, clamar pela intervenção divina, é admitir que deus errou e que deverá, então, reparar o seu erro.
Ora, um deus, por definição, não erra, nunca.
Portanto, a seca, a inundação, a desgraça humana, o defeito físico, os seres virtuosos, a doença, a saúde, etc. são tudo criações de deus, por inerência concetual da doutrina religiosa. E, de acordo com tal doutrina, a criação é o que é. Pronto!
Os crentes deverão conformar-se, portanto.
Donde decorre que a oração impetrante contradita, antiteticamente, a perfeição divina. Intrinsecamente.
SEGUNDO ARGUMENTO:
Se deus é, por definição, imutável, não pode modificar o curso das coisas.
Os crentes têm o péssimo hábito de fazerem, do seu deus, uma espécie antropomórfica, a quem se pedem coisas e se chama a atenção, como se esse deus fosse uma pessoa distraída, que não soubesse o que se passava.
Ora, segundo a doutrina, deus criou e, concomitantemente, determinou há biliões de séculos (reparai no que eu disse: há biliões de séculos…) que o curso das coisas fosse o que é.
Sendo assim, que sentido tem uma pessoa pedir a deus que modifique uma determinada situação, porque está a causar prejuízos, como se deus não soubesse os prejuízos que causa???!!!
Rezar é, portanto, em termos práticos, qualquer coisa do género: “Olha, Nosso Senhor, eu peço-te que me dês saúde, porque esta doença consome-me, está-me a destruir aos poucos e a afligir os meus familiares…”, a que deus responderia: “Ah, pois é! Tens razão! Não tinha reparado nessa cena morbosa… eu já te trato da saúde…”.
Ora, é isto que pressupõe a oração impetrante: pedir a deus que modifique o que tinha criado e determinado anteriormente.
Mas deus não pode modificar, porque, senão, não era deus, por defeito.
O ser imutável, por essência, não altera o curso das coisas. Senão, não era imutável. E se não fosse imutável, não era deus.
Logo, rezar, isto é, pedir a deus que modifique o que criou, é, pela segunda vez, uma contradição antitética. Intrinsecamente.
“Se Deus quiser” contraria a impetração…
Os crentes, na sua insipiência do conceito de deus, para escaparem a estas contradições insanáveis, arranjam sempre argumentos grotescos, não só para continuarem na sua teimosa e consolativa credulidade, mas também para justificarem o injustificável.
Daí que avancem sempre com o supino argumento de que “deus criou-nos, mas deu-nos liberdade para…”, então, “a liberdade implica responsabilidade, logo, podemos fazer coisas más…” e… “aí temos o mal feito pelos humanos, sem responsabilidade divina…”…
É desta maneira tosca que os cristãos tentam contornar a objeção dubitativa: “Então, se Deus nos criou e tudo o mais, por que é que não evita o mal?”
Mas, mais uma vez, vou demonstrar que esse argumento divinal do “dar liberdade” é, intrinsecamente, defeituoso e antitético.
A que expressões piedosas nos habituou o povo cristão?
Aí as temos: “Se Deus quiser”, “Deus queira”, “Até amanhã, se Deus quiser”, etc.
Então, se afinal as coisas acontecem “se Deus quiser” e se só chegaremos amanhã “se Deus quiser” e se só obteremos coisas, desde que “Deus queira”… para que é que andam a rezar???!!!
Para que é que pedem benesses ao seu deus???!!!
Para que é que pedem, o que quer que seja, a essa conceção imaginária, se essas expressões pressupõem, inerentemente, a impotência do humano ante o divino, invalidando, por concomitância, a oração impetrante???!!!
Consecutivamente, a petição celestial é uma contradição antitética com o devir, sob potência divina. Intrinsecamente.
Está clara a minha demonstração?
Perfil de Autor
- Ex-Presidente da Direcção da Associação Ateísta Portuguesa
- Sócio fundador da Associação República e laicidade;
- Sócio da Associação 25 de Abril
- Vice-Presidente da Direcção da Delegação Centro da A25A;
- Sócio dos Bombeiros Voluntários de Almeida
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- Colaborador do Jornal do Fundão;
- Colunista do mensário de Almeida «Praça Alta»
- Colunista do semanário «O Despertar» - Coimbra:
- Autor do livro «Pedras Soltas» e de diversos textos em jornais, revistas, brochuras e catálogos;
- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores
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