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  • 20 de Novembro, 2014
  • Por Carlos Esperança
  • Religiões

Deus não é grande

Este texto foi retirado do livro “Deus não é grande” de Christopher Hitchens.

Coloco uma questão hipotética. Sou um homem de 57 anos e sou apanhado a chupar um pénis de um bebé. Peço-vos que imaginem o vosso choque e repulsa. Ah, mas eu tenho a minha explicação pronta. Sou um mohel: um circuncisador e removedor de prepúcios autorizado. Essa autoridade é-me conferida por um texto antigo (retirado da bíblia), que ordena que eu pegue no pénis de um bebé com a mão, corte à volta do prepúcio e complete o serviço colocando o pénis na boca, chupando o prepúcio e cuspindo a pele amputada juntamente com uma boca cheia de sangue e saliva.

Esta prática foi abandonada pela maioria dos judeus, quer devido à sua natureza pouco higiénica, quer pelas suas associações perturbadoras, mas ainda persiste entre os fundamentalistas hassídicos que esperam a reconstrução do 2º Templo, em Jerusalém.
Para eles, o ritual primitivo do peri`ah metsitsah faz parte do pacto original e inviolável com Deus.

Na cidade de Nova Iorque, no ano de 2005, este ritual levado a cabo por um Mohel de 77 anos provocou herpes genital em diversos meninos e causou a morte a dois deles. Em circunstâncias normais, a divulgação destes factos teria levado o departamento de saúde pública a proibir a prática e o presidente da Câmara a denunciá-lo. Porém, na capital do mundo moderno, na primeira década do séc. XXI, não foi o que aconteceu.

Ao invés disso, o presidente da Câmara Bloomberg ignorou os relatórios efetuados por prestigiados médicos judeus que alertavam para o perigo do costume e deu instruções ao seu departamento de saúde pública para adiar qualquer veredicto. Afirmou que era crucial garantir que não se infringia o livre-exercício religioso.

Este padrão é recorrente noutras denominações e noutros Estados e cidades, bem como noutros países. Numa vasta área da África animista e muçulmana, meninas são sujeitas ao inferno da circuncisão e da infibulação, que envolve o corte dos lábios vaginais e do clítoris, muitas vezes com uma pedra aguçada, e depois a sutura da abertura vaginal com fio grosso que só será removido quando for partido pelo pénis do homem na noite de núpcias. Entretanto, a compaixão e a biologia deixam uma pequena abertura para a passagem do sangue menstrual. O cheiro nauseabundo, a dor, a humilhação e a infelicidade excedem tudo o que pode ser facilmente imaginado e resulta em infeções inevitáveis, esterilidade, vergonha e morte de muitas mulheres e bebés durante o parto.

Nenhuma sociedade toleraria tal insulto às mulheres e à sua sobrevivência, se a prática chocante não fosse sagrada e santificada pelas religiões em causa.

(Enviado por Paulo Franco)

Perfil de Autor

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- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores

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