O catolicismo, o poder e a política no início deste milénio
As religiões não toleram a perda de influência. Depois de criarem um deus verdadeiro, de o promoverem e enfrentarem a concorrência, vieram o iluminismo, a laicidade e a democracia a estorvar o proselitismo.
A pedagogia ativa com que combatiam heresias e converteram réprobos já não pode ser aplicada porque a tortura é proibida e as fogueiras tornaram-se obsoletas, para desespero dos padres e eterna perdição das almas.
Quando os jesuítas anunciaram na China a boa-nova de que o filho de deus tinha vindo ao mundo, espantaram-se os chineses por, durante tanto tempo, ninguém os ter avisado. E, talvez por isso, preferiram ao deus, que se deixou pregar na cruz, um homem que sorriu quando lhe disseram que era eterno – Buda.
Apesar dos reveses, os deuses dos monoteísmos gozam de sólida reputação. Os humores e idiossincrasias não os destroem mas sabe-se que, quando a repressão abranda, germina o ateísmo e, sempre que o poder do clero se debilita, a confiança esmorece.
As religiões, não podendo destituir, em nome da fé, os mandatários do povo, sufragados por eleições, pedem, por amor de deus, que sejam eleitos governantes tementes a deus e generosos com os devotos servidores.
Em Chipre, em 2001, os padres rezaram muito para que o partido comunista perdesse as eleições e interromperam as orações a vê-lo ganhar. Os resultados eleitorais provaram que deus não estava na ilha e que as orações eram placebo.
Nessa altura, em Itália, andou o Vaticano numa azáfama a pedir orações por Berlusconi, um cristão que pouco deve à santidade. Ganhou as eleições, mas houve quem pensasse que influíram mais a comunicação social e o dinheiro do que o deus do Papa.
Em Espanha a Conferência Episcopal jogou tudo na luta contra o PSOE que, entre outras maldades, legalizou as uniões homossexuais, permitiu-lhes a adoção de crianças e tornou facultativa a aula de religião católica nas escolas públicas. As eleições foram entre Zapatero e a Conferência Episcopal e o primeiro ganhou-as.
Penso que, um dia, em qualquer país, ganhará as eleições quem tiver a animosidade do clero. Deus perdeu influência. Até para obrigar as crianças a comer a sopa.
Perfil de Autor
- Ex-Presidente da Direcção da Associação Ateísta Portuguesa
- Sócio fundador da Associação República e laicidade;
- Sócio da Associação 25 de Abril
- Vice-Presidente da Direcção da Delegação Centro da A25A;
- Sócio dos Bombeiros Voluntários de Almeida
- Blogger:
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- Avenida da Liberdade http://avenidadaliberdade.org/home#
- Colaborador do Jornal do Fundão;
- Colunista do mensário de Almeida «Praça Alta»
- Colunista do semanário «O Despertar» - Coimbra:
- Autor do livro «Pedras Soltas» e de diversos textos em jornais, revistas, brochuras e catálogos;
- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores
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