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Do dia nacional do cão ao do peregrino

Em 1 de junho de 2005, o deputado Luís Marques Guedes, e outros signatários do PSD, apresentaram um projeto de resolução que visava a instituição de um “dia nacional do cão”.

Queriam “instituir no calendário oficial um dia dedicado à sensibilização de todos para o importante papel que a relação com os cães tem na nossa vida, dia que pode ser particularmente interessante para uma importante pedagogia de valores de cidadania a incutir nas nossas crianças e nos nossos jovens, razão pela qual parece adequada fazer aproximar esta data do 1 de Junho, Dia da Criança” – lia-se no projeto.

Houve quem visse no benemérito desejo, cuja data seria o 6 de junho, não um ato de grande alcance canino mas uma auto-homenagem dos proponentes. O País, nada perdia e apenas foi pretexto para enxovalhar os deputados proponentes e para privar o País de tão meritória efeméride que anualmente se ladraria. Agora, com a força do voto da maioria, a que não faltará o pio apoio de algum deputado de outra bancada, a Assembleia da República discute esta quinta-feira uma proposta do PSD e do CDS-PP para fazer do dia 13 de outubro o dia nacional do Peregrino.

A ideia, sem impacto no défice, é uma homenagem ao Milagre do Sol, sucesso que teve lugar na data, em 1917, quando o Sol, movido à manivela por um deus antirrepublicano, desatou às cambalhotas na Cova da Iria, local onde um virgem saltitava de azinheira em azinheira e um anjo desceu no anjódromo local. A maioria considera que o “ato de peregrinar” vai para além da condição religiosa e tem também “uma dimensão social, cultural e económica que se deve também valorizar”.

Os tasqueiros da beira da estrada rejubilam, a secretaria de Estado da Cultura não deixará de patrocinar obras sobre milagres e o país exultará de rastos em maratonas pias. Do céu não cairá um milagre, mas a AR devia ser abendiçoada com um milagre obrado durante a votação, com a Virgem a esvoaçar sobre as bancadas da maioria, para mostrar aos incréus o 4.º segredo de Fátima.

No joelhódromo de Fátima já há interessados para construir uma passadeira rolante para coxos, uma alternativa onde a fé esfola os joelhos e a caixa de esmolas esvazia carteiras. Nas veredas que conduzem a Fátima já há pedidos de alvará para vender bolos de bacalhau aos peregrinos que, com um «dia nacional» vão aumentar.

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- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores

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