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Mês: Maio 2014

5 de Maio, 2014 Carlos Esperança

Maria, mãe de Deus

Por

Leopoldo Pereira

«Maria, mãe de Deus»

Esta “máxima” é sobejamente conhecida, não carecendo de explicação, sobretudo se nos reportarmos aos cristãos, ainda que católicos, ortodoxos, anglicanos e luteranos venerem Maria de modo diverso. Ou seja: O assunto não deixa de ser confuso e está envolto em muitas lendas. Para ajudar à confusão, acredita-se que Madalena era, ao tempo, mais popular que Maria. De qualquer modo tentar-se-á resumir o que de mais importante se nos oferece, dando aos “testemunhos” a nossa interpretação, sempre que o acharmos interessante.

Começamos por salientar que o Filho de Maria foi endeusado apenas pelos cristãos, já que para judeus e muçulmanos ele é considerado profeta. Portanto, das três religiões monoteístas só a cristã decidiu que Jesus Cristo é Deus. Para os cristãos, Maria é mãe de Deus. Certo?

Segundo o Livro (sagrado), Deus criou o Céu, a Terra, o Sol, a Lua, plantas, animais e o Homem, há cerca de seis ou oito mil anos. Ora nessa altura Deus era Órfão, ainda não tinha Mãe, o que viria a acontecer em finais do Séc. 1 A.C., início do Séc. 1 D.C. A Ciência (tipo desmancha-prazeres), provou que tudo já existia, mais os outros planetas do Sistema Solar, os dinossauros, etc., pormenores desconhecidos dos Aristóteles da época, que viriam a conservar a Terra parada durante vários séculos, e o Sol em movimento! Até Copérnico lhes trocar as voltas…

Não acreditem em tudo o que vão ler, que eu próprio não acredito. A verdade é que, ou vem nos Livros, ou a nossa narrativa nos parece mais plausível.

Maria, filha de Ana (Santa Ana) e de Joaquim (São Joaquim), nasceu na Galileia, onde viveu até perto dos 12 anos, altura em que engravidou, já órfã de Pai. Mudou-se para Jerusalém, onde viria casar com o viúvo José, talvez tio por parte do Pai. E como chegámos aqui?

Sem um Curso de Teologia, ou algo de semelhante, tarefa hercúlea! Fica a nossa versão:

As legiões romanas ocupavam imensos territórios na Bacia Mediterrânica, incluindo a zona a que nos vimos reportando. Ora o invasor raramente é bem visto e ali não foi diferente. Os habitantes locais odiavam os romanos e ansiavam pela chegada do Messias, para os libertar. Enquanto tal se não verificasse, lá iam aguentando o barco. As raparigas, ao invés, derretiam-se pelas “fardas” e não ficavam indiferentes aos piropos, o que obviamente deixava namorados, irmãos e pais em polvorosa!

Por relatos da História e até por constatação em território pátrio, sabemos que os romanos não se quedavam pelos “engates”; construíram estradas, pontes, teatros, aquedutos, represas, trouxeram novas tecnologias para o regadio e gostavam de tomar banho, um hábito esquisito, que os levava a criar balneários, termas e sei lá que mais (taras). Deixaram filhos e obra. O que a História não refere é que havia “concertos” em recintos próprios, por vezes bailes, onde atuavam “bandas”. A juventude aderia e não raro, mesmo em tempos de crise, os bilhetes esgotavam com meses de antecedência. Os músicos apresentavam-se meio esfarrapados, com os cabelos em pé, tatuados, com brincos, colares e pregos nos lábios, sobrancelhas, partes púdicas, muitas vezes drogados, e punham o som da aparelhagem no máximo. Depois limitavam-se a pular no palco, a dar cambalhotas, a abrir as bocarras e a fingir que tocavam; a aparelhagem fazia tudo. Entretanto o público também berrava, erguia e abanava os braços, aplaudia, assobiava, dava urros e gania; as moças chegavam a desmaiar. Ora os papás dos jovens, alguns mais evoluídos, iam pactuando, mas de pé atrás.

Os chefões dos legionários, bem como alguns elementos da Administração Pública, deslocavam-se vulgarmente em carros sport, de um, dois, três e quatro cavalos. Era a coqueluche e as raparigas olhavam com inveja, mas de forma recatada, não fossem os companheiros dar por isso! As viaturas ficavam estacionadas à saída do recinto e os felizes proprietários convidavam a garota que estivesse mais disponível, oferecendo-lhe boleia até casa. Se a estratégia resultava, logo havia de surgir uma qualquer pane pelo caminho: Ou um cavalo avariava, ou uma roda furava, acabando a rapariga por regressar muito tarde, contratempo que geralmente despoletava um sermão dos valentes, quando não uma carga de pancada jeitosa. Mas o pior nem era isto, que as mazelas iam sarando, complicado era quando um determinado inchaço aumentava, em vez de diminuir.

Então inventavam-se as desculpas mais esfarrapadas e os matulões segredavam entre si: “Foi por obra e graça do Divino Espírito Santo”. Dificilmente as desculpas pegavam e o mais frequente era a moça abandonar a casa dos pais. Surgiu até uma canção marota, mais ou menos assim: “Quem é o pai da criança? Sei lá, sei lá”. O caso de Maria assumiu um carater sobrenatural, portanto muito diferente dos demais e a prová-lo está a inequívoca presença de Gabriel. As más-línguas dizem que a prima Isabel, mais desinibida, também ajudou. Passado algum tempo, Gabriel resolveu voltar (de novo em forma humana), para ver como corriam as coisas; este curto bate-papo havia de ficar célebre em todo o mundo: “ Quem sois vós, Senhor?” “Ninguém, se já nem tu me conheces!”

Nota: Maria teve mais seis filhos e não morreu. Antes que tal sucedesse, decidiu viajar (não sabemos em que meio de transporte) para o Céu (onde quer que Isso fique), em carne e osso. De vez em quando aparece por cá, mas em carne e osso… não!

 

4 de Maio, 2014 Carlos Esperança

SODOMA – Crónica

Naquele tempo, andava Deus na divina ociosidade a que se remeteu depois de ter criado o Mundo, quiçá arrependido do estratagema que engendrou para que os animais se multiplicassem, a ruminar uma desculpa por ter incluído a macieira quando fez as plantas, sabendo que sem Eva e sem maçã estaríamos todos, ainda hoje, condenados ao Paraíso e ao tédio.

Tinha acontecido o dilúvio e a engenharia ousado construir a torre de Babel. O primeiro foi um susto bem pregado e uma experiência radical e a segunda um enorme fracasso e uma extraordinária confusão.

Pelas planícies do Mar Morto estendiam-se cinco cidades que tinham níveis diversos de progresso, costumes e interesses diferentes. Brilhavam Sodoma e Gomorra pela enorme riqueza, com um nível de vida de causar inveja, graças ao sector terciário que então não tinha ainda designação adequada por não haver economistas encartados. As outras eram menos importantes, a acreditar no primeiro livro do Pentateuco.

Vinha do Norte o ar quente que, depois de percorrer e acariciar as águas do mar, entrava suavemente em Sodoma para animar os corpos, inebriar a alma e soltar a fantasia de que o mundo era capaz, na sua difícil infância, e produzir um indizível arrebatamento.

Homens e mulheres contavam instantes do tempo breve que o expediente dos escritórios lhes tomava, para cultivarem, a seguir, todos os prazeres febrilmente sonhados. Mesmo nas horas de trabalho não se coibiam de ser felizes e soltarem a imaginação. Os afazeres que o desenvolvimento tecnológico se tinha encarregado de aliviar eram cada vez mais um mero resquício para justificar a maldição bíblica que viria a ser criada com efeitos retroativos. O trabalho era um bem muito escasso e, dele, ninguém se quisera apropriar.

Como os livros ainda não tinham sido inventados, todos liam o livro da vida através dos sentidos. Tinham-se habituado a usar o corpo e a dar-lhe alma. Eram desmesuradamente felizes a ponto de esquecerem Deus e os seus ensinamentos, as ameaças e maldições, o sofrimento e a cultura que o inventara. E, porque eram felizes, não os atingia a doença, a fome, o medo ou a guerra.

Imagina-se o seu grau de felicidade pela intensidade da cólera divina, que enviou o fogo que destruiu Sodoma e, com ela, as outras cidades, e, com os adultos que se divertiam, as crianças, que ainda não sabiam folgar, e também os velhos que tinham esquecido já os divertimentos, se algum dia os conheceram, e, talvez, algum anjo que tivesse tentado pôr termo ao pecado e acabou violado, chamuscadas as penas no desejo e esturricado, também ele, nas labaredas.

Ao longe, Abraão assistira ao espetáculo que o seu Deus pirómano lhe serviu à hora da sesta, tirando moncos do nariz, enquanto Loth, seu sobrinho, por bambúrrio da sorte ou por morar nos subúrbios, se esgueirava com as filhas e a mulher, tendo esta olhado para trás, apesar da recomendação divina em contrário, e sido transformada em estátua de sal, por ser nela maior a curiosidade do que a obediência.

Para dizer alguma coisa ou por se ter arrependido do fogo que ateara ou, somente, para criar factos que dessem conteúdo ao Êxodo, ao Levítico e a outros escritos, fez Deus, a Abraão, umas promessas que acabariam por dar origem a Israel, muito tempo depois, e dado a Jacob e aos seus 12 filhos o Egipto para se instalarem e cumprirem uma profecia.

Sodoma ficou na memória oral dos povos pelos hábitos sexuais de uma escassa minoria. Conhecendo-se hoje melhor, Deus e os seus humores, a fé e os seus preconceitos, a devoção e a sua intolerância, somos levados a crer que seriam deliciosas as vitualhas, capitosos os líquidos, requintados os hábitos, agradáveis as relações, enfim, felizes os seus habitantes, a ponto de Deus perder a paciência e ser tomado por aquela cólera que o celebrizou.

Terá sido Loth o autor do boato a que se deve o verbo criado a partir do nome da cidade desaparecida. Ou um qualquer viandante saído antes do fogo e ansioso de se pôr ao lado do algoz.

3 de Maio, 2014 Carlos Esperança

4 TESES CONTRA OS “MILAGRES”… …E UMA ADENDA… A FAVOR…

Por

João Pedro Moura

PRIMEIRA TESE

“MILAGRE” E CIÊNCIA

             Os católicos e sua ICAR sustentam, infundamentada e esporadicamente, que esta ou aquela pessoa foram alvo dum “milagre”, pois estavam doentes, com bastante gravidade, mas a doença desapareceu “milagrosamente”, por intercessão directa dum qualquer exemplar “santificado” do jardim da celeste corte…

Quase sempre se trata duma doença que, aparentemente, desaparece sem explicação médica, quero dizer, científica, ou de sobreviventes dum acidente de viação ou aviação, supostamente salvos por um “milagre”…

Mas, o facto de uma doença ser anulada, sem aparente intervenção médica ou de qualquer maneira curativa, e o doente ter impetrado a benesse divina para a sua cura, não significa a outorga de curativo divinal, até porque isso ainda seria mais inexplicável que o desaparecimento da doença…

Significa que a ciência, em geral, e a Medicina, em particular, não têm explicação para o problema…

… E não ter explicação para tal significa isso mesmo e não “milagre”.

… E uma explicação pode ser, ou não, dada posteriormente, noutra época mais evoluída e com mais conhecimentos…

 

SEGUNDA TESE

“MILAGRE” E CIVISMO SOLIDÁRIO…

 

Temos, então, a seguinte cena milagreira típica:

Uma pessoa está a deitar sangue por vários lados, em perigo de vida, ou está com uma doença grave; a observá-la estão, obviamente, as entidades do aprisco divino, que não intervêm, pois estão à espera da impetração da vítima; esta impetra, a uma qualquer dessas entidades fantasmagóricas, pela benesse curativa; esta é concedida, segundo a vítima. Eis o “milagre”!

Querem ver aonde isto nos conduz?

Vejamos um caso: está uma vítima no chão, devido a um acidente rodoviário; uma pessoa aproxima-se, impávida e serena, mas não lhe presta ajuda, esperando que a vítima … lhe peça ajuda…

Vejamos outro caso: um doente está à rasca com uma maleita, degenerativa ou não, contorce-se, pávido e inquieto, com as dores; ao lado, está um médico que lhe podia acudir, mas não acode, pois está à espera que o doente lhe peça ajuda, à semelhança do procedimento religioso…

Em ambos os casos, quem podia socorrer, e não socorre, cai na alçada do código penal de qualquer país do mundo, por falta de socorro a vítimas. Mas na teoria do “milagre”, não! Só se presta ajuda, religiosamente, quando a vítima pedir…

Mas só para algumas vítimas!…

Ou então, em caso de acidentes, primeiro, o deus e respetivo séquito de “santinhos” assiste à ocorrência, sem nada evitar, e depois vai “ajudar” a salvar…

Mas só para alguns acidentes! …

Agora, digam-me se isto tem alguma ponta por onde se lhe pegar!

Que entidades divinas tão cruéis, perversas e sádicas!!!

Que povo tão crédulo e néscio, que acredita nestas patranhas e procedimentos!

TERCEIRA TESE

…E PORQUE NÃO EVITAM A DOENÇA OU O DESASTRE???!!!

A sustentação da “tese” taumatúrgica, pela sua extravagância, remete-nos para as seguintes objecções:

a) Por que é que uns poucos são “curados milagrosamente” e a esmagadora maioria não???!!!

b) Por que é que há sobreviventes de acidentes e catástrofes, nuns casos, e noutros não???!!!

É de todo incompreensível e desabonador da taumaturgia, que haja uns supostos “miraculados”, mas todos os outros impetradores e acidentados não aufiram da ansiada benesse divina!…

c) Por que é que o suposto benfeitor divinal trata da cura, geralmente após longo sofrimento, e descuida o evitamento da doença???!!!

Faz algum sentido, um doente andar anos a implorar a benesse duma qualquer figurinha estatual, amadeirada ou porcelânica, do aprisco clínico-celestial, sem que tais figurinhas evitem a doença, e só uns anos depois de o doente andar a arrastar-se por médicos e hospitais, é que as conspícuas entidades taumatúrgicas decidem sacudir o langor tórpido que as tolhe, para virem acudir a quem delas impetra???!!!

Se em qualquer código penal do mundo, decerto que há castigo para quem não presta, e porque podia prestar, socorro a uma pessoa em dificuldades momentâneas de vida, então, também é castigável a atitude do bloco taumatúrgico da celestial ordem, pois que veem pessoas morbosas e noutras dificuldades, sem lhes prestar cuidados imediatos…

d) Acresce que também não se percebe por que é que o taumaturgo dá uma benesse curandeira, evitando uma morte ou um grave problema, mas o beneficiário acaba por morrer, mais tarde ou mais cedo, da mesma ou doutra doença, sem que se volte a falar de milagres ou se peça uma satisfação ao taumaturgo, por distrate do prazo de garantia milagreira ou por falta de renovação da benesse!…

Simplesmente incompreensível!!!….

…Mas há quem acredite em tanta incongruência!!!…

e) 2 casos, dos mais desconcertantes, para ilustrar esta estranha arte curativa:

Primeiro: a “santinha de Balasar”, Alexandrina, de seu nome, na freguesia homónima da Póvoa de Varzim.

Pois esta “santa”, que ainda não o é, um dia, saltou da janela da sua casa para fugir a um assaltante que, se calhar, também a queria violar.

Ficou entrevada e, a partir de certo ano, dizem os técnicos da “santa”, deixou de comer… até à sua morte. Aí coisa para uns 13 anos de défice gastronómico…

Morreu há mais de 50 anos.

Também já fez “milagres”, segundo os entendidos…

Mas o que interessa agora é realçar esse suposto estado de santidade, adquirido no entrevamento e nas pulsões místicas, que ela tinha, mas sem nunca melhorar o seu estado de sofrimento, devido à paraplegia…

Não podia o deus dela conceder, a tão devota criatura, a mercê da liberdade das pernas em vez da santidade paraplégica e estomacal???!!!

Segundo: lembrais-vos da Milinha? A senhora Maria Emília Santos, acamada durante 22 anos, algures em Leiria, e que, após mais uma invocação da “Jacintinha“ de Fátima, ficou a andar, embora um bocado peca das pernas?!

Pois essa sujeita foi muito celebrada pela suposta cura divina, mas ninguém se lembrou de perguntar a quem de direito por que é que tal criatura esteve 22 anos entrevada, sem que o curativo da “Jacintinha”, ou doutro taumaturgo, lhe acudisse!!!…

… E, nas palavras imorredoiras do Carlos Esperança, a Milinha “morreu completamente curada 6 meses depois”!…

f) Até chego a pensar que o catolicismo glorifica o sofrimento!…

g) Até chego a estranhar por que não há tais proezas taumatúrgicas nas outras igrejas cristãs, ou nos muçulmanos, judeus e outros espécimes da religiofauna terrestre!…

Não há nada como ser devoto da igreja certa!…

QUARTA  TESE

“MILAGRES” DE MORTOS…

             Mas estas três primeiras teses não são nada, comparadas com a quarta!…

POR QUE RAZÃO É QUE OS TAUMATURGOS SÓ OPERAM DEPOIS DE MORTOS E NÃO DURANTE AS SUAS VIDAS???!!!

É um facto muito conhecido que os clérigos, como padres, frades e freiras, assim como os seus raros assessores leigos, erigidos à condição de santos, só fazem operações taumatúrgicas quando estão reduzidos à condição de ossamentas …

Ora, um clérigo importante, em vida, é que fala com as pessoas, é que as toca, que as acaricia, que as pode massajar, dar-lhes umas palavras de “conforto espiritual”, enfim, seria na plenitude da pujança de vida desses clérigos e ofícios correlativos, que os pobres de saúde poderiam invocar a benesse curativa!….

E então até se poderiam organizar as “associações de curados” dos papas João XXIII ou do JP2, tendo essas associações como patronos, precisamente o seu taumaturgo… ali ao vivo, e até a presidir a umas celebrações gastronómicas periódicas, sob a bênção do “Senhor”…

Mas não!!! Nada disso!!!

Os taumaturgos do clero e afins só operam “post mortem”, em adiantado estado de decomposição, e, em grande parte dos casos, já só sobrando ossadas ou objectos pessoais em relicário purpurado…

Ora, a dupla pergunta, então, surge absolutamente imperativa:

Por que estranhíssimo motivo é que os taumaturgos do jardim da celeste corte só operam no lastimoso estado de defuntos em vez do glorioso estado de vivos???!!!….

Que estranhas propriedades físico-químicas é que têm certos corpos para operarem prodígios taumatúrgicos, depois de mortos e longo tempo mortos, em vez de operarem prodígios cirúrgicos… ao vivo???!!!…

Incompreensível!!!…

Mais: primeiro alega-se “milagre”; depois, a Igreja, mais tarde ou mais cedo, acaba por reconhecer o dito, isto é, reconhece que um dos seus clérigos cadaverosos, invocado pelo doente e armado em taumaturgo, “curou” a maleita dum crédulo.

Mas isto remete-nos, concomitantemente, para a seguinte questão: que tratados da Igreja é que afirmam que os seus clérigos defuntos manifestam não só um estado especial de “vida”, como também a propriedade taumatúrgica???!!!…

Se a Igreja não tem qualquer estudo, obra ou o que quer que seja de reflexão ou de demonstração sobre “vida para além da morte”, por que é que aprova o milagrório???!!!

Incompreensível!!!…

Mas compreensível à luz dos pingues proventos, decorrentes de mais uma festa religiosa e do estendal de quinquilharia cultual, gerada pelo novo santinho…

 ADENDA

A FAVOR DOS MILAGRES…

 – Considerando que é no estado de morto e bem morto, devidamente decomposto na sua matéria constitutiva, que se assume a condição de taumaturgo…

             – Considerando que são os clérigos o tipo de gente privilegiada para aceder ao bloco taumatúrgico da ordem clínica celestial, e assim operarem maravilhas de saúde, que, pelos vistos, não lhes são acessíveis em vida…

– Proponho aos católicos a matança de padres, frades e freiras, mormente os de maior pendor místico, a fim de se prover tal clínica milagreira com superiores recursos humanos do obituário católico e assim aumentar a oferta de serviços, para que os milhões de doentes e outros possíveis beneficiários possam auferir a benesse de que carecem e assim dar outra eficácia e utilidade ao clero…

2 de Maio, 2014 Carlos Esperança

A democracia, o véu islâmico e os símbolos religiosos ostensivos

Depois da inaceitável indulgência com os pregadores do ódio nas mesquitas, situação que, por exemplo, não seria permitida – e bem – a dirigentes políticos, alguns países já europeus autorizam a proibição do véu islâmico dentro das escolas oficiais.

Há quem se oponha a esta decisão, em nome da democracia e da liberdade individual, acusando os opositores de intolerância. Esquecem-se de que a Europa tem vivido em paz graças à laicidade do Estado que jovens muçulmanas desafiam, estimuladas pela família e pelos pregadores religiosos. Os constrangimentos sociais e o domínio sobre as mulheres são de molde a impor-lhes o símbolo da sua própria escravidão.

Só a França sobrepõe claramente os direitos de cidadania aos desejos dos clérigos das diversas religiões. No exercício de funções públicas ou frequência de escolas do Estado não são permitidos os hábitos das freiras, as sotainas ou o véu islâmico. Alguém, de boa fé, receia a ausência de liberdade religiosa em França?

Ninguém duvida do proselitismo que devora as diversas confissões, todas desejosas de convencer os ímpios da bondade do seu Deus e da singular forma de salvação eterna – a sua –, impondo-a, se puderem, mesmo a quem a dispensa.

Sendo o Estado incompetente para se pronunciar sobre as convicções pessoais, só lhe resta manter a neutralidade que permita a efetiva liberdade religiosa e impedir qualquer religião de se apropriar de forma definitiva e permanente do espaço público.

A Europa só agora começa a sentir o perigo do proselitismo e a reagir às provocações de uma multinacional do ódio que usa as jovens com forte dependência da família, do clero e da tradição.

Duvidar da superioridade moral das democracias em relação à teocracia, e dos Estados laicos face aos confessionais, é renunciar à defesa dos direitos humanos sob o pretexto de cumprir a vontade de Deus.

A comunicação social, presente no vespeiro da Ucrânia, ignora a Turquia e a Nigéria.

1 de Maio, 2014 José Moreira

O milagre do Simplício*

 

 

 

Simplício é bom rapaz. Crente furioso e católico compulsivo, acredita no poder imenso de tudo quanto é deidade ou santidade. Mas a sua fé não conseguiu, apesar de tudo, livrá-lo de um cancro na garganta. “Faça-se em mim segundo a Sua vontade”, resignou-se mas, no fundo, sabia que o Senhor não queria que ele, Simplício, morresse de cancro, tanto mais que é consabido que raras são as pessoas que falecem dessa patologia, sendo muito mais vulgar que se morra de doença prolongada. Ora, o Senhor, na Sua infinita misericórdia, tinha presenteado Simplício com um corriqueiro cancro, e não com uma mortífera doença prolongada, o que Simplício entendeu como um sinal de esperança. Sendo assim, entendeu não ser ofensivo para com o Senhor o recurso à Ciência, porém, sempre se foi prevenindo com toda uma parafernália de rezas, benzeduras, promessas, terços, novenas e outras actividades religiosas, que isto da Ciência não é muito de fiar, hoje dizem uma coisa e amanhã o seu contrário. O que é certo é que, após dezenas de avé-marias, outros tantos padre-nossos, genuflexões e quilos de cera, devidamente acolitados por doses cavalares de quimioterapia e radioterapia apontada à garganta, eis que Simplício recebe, do médico, a notícia de que o cancro estava devidamente controlado. “Graças a Deus!”, exclamou Simplício, desde logo desatando a planear o cumprimento das promessas feitas, logo que o estado físico lhe permitisse as preditas 157 voltas no joelhómetro de Fátima.

Mas nem tudo são rosas, e eis que, após uma TAC de vigilância, um médico regista uma qualquer anomalia na parte superior dos pulmões. Com uma diplomacia própria de um sargento instrutor, o pneumologista decretou: “Meu caro, isto ou é cancro ou tuberculose” sem aventar, sequer, uma terceira hipótese. Simplício entrou em compreensível pânico, já prevendo a transformação do ridículo cancro na temível doença prolongada. “Desta vez, já estou”, resignou-se. “Nem Deus me pode valer”. Mas a verdade é que Deus escreve direito por linhas tortas, como adiante se verá.

Simplício, embora resignado, tornou-se meditabundo e cabisbaixo. Deixou-se arrastar penosamente pelo caminho do que, no seu entender pouco, lhe restava de vida. E foi nesse estado patético de depressão quase a tornar-se crónica, que se apresentou na consulta de vigilância de Oncologia não sem que, previamente, tivesse prometido mais todo um rol de velinhas, missas, esmolas, genuflexões e, cereja em cima do bolo, uma peregrinação ao Vaticano, que Fátima lhe parecia preço pouco a pagar por tamanha graça, caso ela se concretizasse.

– Então, Sr. Simplício, como se sente?

– Mal, doutor. Muito mal. A última TAC revelou uma qualquer coisa nos pulmões, e desta já não me safo. Ou cancro, ou tuberculose. Ora, aplicando a Lei de Murphy, é cancro.

Franzindo o sobrolho com divertida estranheza, o esculápio retirou do envelope os documentos clínicos, que examinou atentamente. Depois, deixou que um sorriso se lhe abrisse, de orelha a orelha:

– Nada disso, Sr. Simplício. Ainda não é desta. O que o senhor tem é a parte superior dos pulmões queimada pela radioterapia. Nada de grave.

– Então… não é doença prolongada?

– Nem prolongada, nem doença, meu caro.

“Milagre!” exclamou silenciosamente Simplício. Embora sem certezas quanto à autoria do milagre, decidiu atribuí-lo ao São João Paulo II que, ao que parece, também estava no ramo da oncologia, para além da neurologia, o que se compreende já que, liberto, finalmente das preocupações pontifícias, tinha todo o tempo do outro mundo para estudar e se especializar em vários ramos da ciência médica.

*Baseado em factos verídicos.

1 de Maio, 2014 Carlos Esperança

Comentadores devotos do Diário de uns Ateus

Há na última vaga de peregrinos em romagem ao Diário de uns Ateus a sanha reforçada, um proselitismo agudo e uma demência mística que não era usual.

Acredito que os confessores os isentaram das orações e que a penitência, após confissão bem feita, se converteu, para expiação dos pecados, em peregrinação ao blog dos ateus.

É uma forma de porem a fé à prova, sem necessidade de genuflexões.

Substituem os pai-nossos e ave-marias com que embrutecem o espírito e desencardem a alma com insultos aos infiéis, ameaças aos blasfemos e profecias sobre o destino dos sacrílegos. Trilham caminhos tão sinuosos como os da fé.

Um santo asno já profetizou a morte deste modesto escriba, implorando-a ao deus dele, enquanto uma rata de sacristia ameaçou golpear-me com os pés todos.

Os directores espirituais, uma espécie de polícias das consciências, conhecem os riscos que correm as ovelhas, capazes de se tresmalharem do redil, mas é um risco que vale a pena. Quem aguentar ao Diário de uns Ateus fica apto para a insanidade, o martírio e a violência com que julga ganhar o Paraíso.

Os leitores parecem sair disparados da missa com a hóstia mal deglutida, ainda húmidos da aspersão do hissope, cheios de Espírito Santo, em loucas arremetidas contra os ateus.

São bem-vindos tais devotos. Nada temos contra os crentes, só combatemos as crenças e os trampolineiros da fé.