19 de Maio, 2014 Carlos Esperança
Cristo e Maomé
Naquele tempo o arcanjo Gabriel era o alcoviteiro de serviço. Foi ele que disse a Maria que estava grávida o que qualquer mulher precisa de saber por terceiros. Foi ele também que, seis séculos depois, se encontrou com Maomé para lhe dizer qual era a sua – dele, Maomé –, missão.
Os anjos viviam muito tempo embora poucos conhecessem notoriedade, levando uma existência discreta e anódina. Gabriel distinguiu-se. Fora criado por judeus, que faziam anjos como o Papa João Paulo II criava santos, que criam em milagres com a mesma fé com que alguns padres rurais acreditam na existência de Deus.
Maomé nasceu em Meca durante o ano de 571 e viria a morrer em Medina em 632. O Corão e as agências de turismo fizeram santas as duas cidades e há períodos do ano em que uma chusma de fanáticos aí acorre, apesar dos perigos que os espreitam.
Muito parecidas com as largadas de touros, um espetáculo ainda em uso no concelho do Sabugal e noutras localidades portuguesas, as peregrinações têm perigos idênticos. O apedrejamento ao Diabo, um ódio transmitido de geração em geração, salda-se sempre por várias mortes enquanto o Diabo fica incólume, à espera do próximo apedrejamento.
Maomé teve uma vida pouco recomendável, um casamento com uma menina de seis anos, hábito com que a Igreja católica também se compadecia, e um casamento com a rica viúva Cadija cuja fortuna lhe permitiu dedicar-se à guerra, à devoção e ao plágio do cristianismo.
Depois aconteceu-lhe o mesmo que a Cristo. Começou a ser adorado, correu o boato de que tinha nascido circuncidado, de que tinha ouvido Deus, de que foi para o Paraíso em corpo e alma, enfim, aquele conjunto de tolices que se atribuem aos profetas.
Hoje já ninguém pergunta se tomavam banho, se sofriam de prisão de ventre ou foram vítimas das salmonelas, se urinavam virados para Meca ou para o Vaticano, que hábitos sexuais ou manifestações de lascívia tinham.
Cristo e Maomé tornaram-se ícones adorados e os incréus cadáveres desejados.