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Mês: Maio 2014

23 de Maio, 2014 Carlos Esperança

Carta de um leitor ao tio

Eis o que penso sobre aquilo que diz sobre a inspiração que sente na personagem do Papa João XXIII.

Não conheço nada do Papa João XXIII, mas acredito que tenha sido uma excelente pessoa e com todas as virtudes que aponta como sendo verdadeiramente inspiradoras. Mas estas mesmas virtudes e qualidades poderiam ser apontadas a um ateu ou a um crente de um outro credo religioso que não deixariam de ser igualmente inspiradores.

O que eu quero dizer com isto é que as excelentes virtudes de uma pessoa nada dizem
sobre a veracidade das suas crenças teológicas.

Certamente que existem pessoas muito virtuosas no mundo Islâmico, no Judaísmo, entre as pessoas que acreditam na Astrologia, entre as pessoas que acreditam na Reencarnação, ou entre as pessoas que não acreditam em nenhum Deus. Mas o facto de uma pessoa ser uma excelente pessoa em nada fica demonstrado que essa pessoa é detentora de uma GRANDE VERDADE TRANSCENDENTE.

Eis o maior problema das religiões: todas as religiões querem fazer crer a toda a humanidade que detêm a maior verdade de todas. Quando detêm poder para isso, e se o contexto político, cultural e económico for favorável, cada uma das diferentes religiões tenta impingir à força as suas crenças.

Mas nunca demonstram nenhum resquício de provas para corroborar ou confirmar que as suas reivindicações teológicas são realmente verdadeiras.
Quais são as provas de que realmente existem Anjos? Ou que o Inferno realmente existe? Ou que alguma vez um ser humano ressuscitou? Ou que o espírito de uma virgem falecida à milhares de anos pode fazer milagres?

Absolutamente zero.

E com todas as reivindicações teológicas das outras religiões se passa o mesmo. Todas fazem referências transcendentes sobre a criação do universo, sobre a vida depois da morte, sobre a existência de seres sobrenaturais mas nunca apresentam nenhuma prova nem nenhum tipo de discurso racional com que alguém possa lidar por forma a perceber a veracidade dessas reivindicações extraordinárias. Muito pelo contrário.
A ciência já demonstrou centenas de vezes que muitas destas reivindicações, que têm centenas (ou milhares) de anos, são falsas.

Existe uma regra implícita nas relações humanas que nunca deveria ser quebrada sob pena de pôr em risco a boa convivência entre os seres humanos.

Todas as reivindicações extraordinárias exigem provas extraordinárias. Se eu faço uma referência a algo extraordinário que me aconteceu e depois quero que todas as pessoas acreditem que essa coisa extraordinária foi ou é real, é evidente que é fundamental que eu apresente provas ou testemunhos que corroborem ou confirmem a minha história. Se não, corro o risco de perder credibilidade ou mesmo de ser ridicularizado.

Se eu afirmar que vi uma girafa a voar, será que o tio conseguirá acreditar em mim se eu não apresentar provas muito convincentes?

Sabendo que morrem mais de 20 mil crianças por dia em todo mundo, como poderei eu ou alguém acreditar que existe um Deus super poderoso,
que nos ama muito e que nunca nos falta com a sua protecção?

Espero que a sua resposta não seja “temos de ter fé”, porque se para todas as grandes questões existenciais do Homem simplesmente bastar “ter fé”, desde que com isso nos sintamos muito confortados, então para qualquer tolice que nos conforte nas nossas misérias encontraremos razões para nela depositar-mos toda a nossa fé e devoção. Se me disserem que uma melancia é Deus, e se eu não exigir nenhum tipo de prova de que isso é verdade, poderei alegremente acreditar nisso e sentir-me assim muito feliz e satisfeito, correndo o risco, no entanto, de ser ridicularizado por quem não partilhe da mesma “fé”.

Com todo o respeito.

Um grande abraço.

Paulo Franco.

22 de Maio, 2014 David Ferreira

A questão religiosa

Retirado de: “Almanaque Republicano” (http://networkedblogs.com/X58gQ)

JOSÉ D’ARRIAGA. “A Questão Religiosa”, Livraria de Alfredo Barbosa de Pinho Lousada (Largo dos Loyos, 50), Porto 1905, XIV+106 p.

Do Prefácio do autor, que, em vésperas da queda da monarquia, alerta para o verdadeiro inimigo da inteligência e do progresso:

« … Combatendo a reacção religiosa, não queremos attentar contra as crenças dos que a promovem e sustentam, mas trazer a paz e harmonia a todas as seitas por meio da tolerancia, que constitue a base fundamental das sociedades contemporaneas.

Não é este opusculo um grito de guerra, como o são as obras publicadas pelas associações catholicas: é mais um brado a favor da tranquillidade dos povos, tão perturbada n’estes ultimos tempos pela reacção religiosa […].

A campanha das associações catholicas consiste em guerrear nos paizes catholicos todas as religiões estranhas, oppondo-se ao livre exercicio dos seus cultos, e pedindo aos governos medidas de rigor contra ellas. Pretende manter em nossos dias os antigos fóros e privilegios da igreja catholica, os quaes foram origem do antigo regimen absoluto, e da intolerancia religiosa, que produziu os autos de fé, os carceres da Inquisição e cruzadas expurgatorias, etc.

A mesma reacção religiosa préga o exterminio dos que não pensam com a igreja catholica, dos que não acceitam seus dogmas e preceitos, dos livres pensadores, e de todos os que sahiram do gremio catholico. […]»

21 de Maio, 2014 José Moreira

Sem espinhas…

Concorde-se ou não com ele, Joaquim Carreira das Neves é um padre prestigiado.  Mostra ser um estudioso da Bíblia e saber do que fala embora, em minha opinião, não diga tudo o que sabe, por uma questão deontológica.

Nesta entrevista que, embora datada, se mantém actual, Joaquim Carreira das Neves assume com clareza e conhecimento de causa o paganismo da Igreja Católica. Naturalmente, não está a dar nenhuma novidade a quem estude, ainda que só um pouco, e/ou ou tenha clareza de vistas. Não me recordo, aliás, de o ter ouvido dizer que Jesus, dito Cristo, era filho de Deus. Só lhe faltou dizer que também Jesus era um deus pagão mas, como acima disse, há a questão deontológica que não deve ser ignorada.

20 de Maio, 2014 David Ferreira

Pontos de vista

Na Igreja Ortodoxa russa, homens com barba que cantam de vestido afirmam que são contra homens com barba que cantam de vestido .

A coerência nunca foi apanágio das religiões…

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20 de Maio, 2014 Carlos Esperança

O medo e a fé

O medo é o mais fiel aliado das religiões e o sofrimento o húmus onde floresce a fé. A aflição e a angústia debilitam o intelecto, mortificam o corpo e tornam consciências lúcidas em farrapos que as religiões enrolam na manta de charlatanismo que tecem.

Todas as religiões se reclamam do Deus verdadeiro, único que tem a chave do Paraíso. Assim se vê que todas as religiões são falsas, menos uma, na melhor das hipóteses, e certamente todas.

Uma doutrina, impostura ou código de valores que obriga a humanidade a prostrar-se, em vez de a ensinar a viver de pé, não dimana de um ser superior, brota da vontade de um sádico, nasce no cérebro de um néscio ou da tentação de um biltre.

É explorando fraquezas, medos e inquietações que a religião aparece como panaceia para o abatimento, remédio para a agonia e bálsamo para todas as moléstias.

O padre é o autor da trapaça, o artífice da fraude, o intermediário do embuste. Deus é apenas uma imagem que o tempo corroeu, uma droga que excedeu o prazo de validade mas que ainda ocupa as prateleiras de uma drogaria à espera de falência.

No vértice da pirâmide está o chefe dos embusteiros, o homem do chicote, o frio juiz que aprecia as vendas, pede esclarecimentos e dita as regras. Umas vezes chama-se ayatollah, outras patriarca, mullah, arcebispo ou papa. São espécimes zoológicos da mesma estirpe, implacáveis prosélitos de livros obsoletos que esmagam a liberdade e zelam pelos rancores divinos.

A fé vive do medo do Inferno, da morte e do insondado. Outrora eram deuses o Mar, o Sol e os Ventos, hoje são outros os monstros e mais sofisticados os atributos. O deus de serviço vagueia à rédea solta pelo Universo a espiar a humanidade e a ruminar castigos para quem abomina os padres e despreza os sacramentos.