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Mês: Novembro 2013

26 de Novembro, 2013 Carlos Esperança

A 1.ª Cruzada – 27 de novembro de 1095

Há cinco versões diferentes, cada uma de acordo com a recetividade dos povos a quem era dirigido, do discurso que Urbano II entregou no Concílio de Clermont-Ferrand, mas, como sempre acontece em coisas religiosas, não há nenhuma garantidamente fidedigna.

Certo é o apelo feito aos cristãos, convocados em nome de Deus, e o perdão garantido dos pecados a todos os que “morressem, em terra ou no mar”, na guerra contra os infiéis muçulmanos, a fim de reconquistar Jerusalém.

Urbano II lambia ainda as feridas do Grande Cisma do Oriente e disputava a hegemonia com Henrique IV (Sacro Imperador Romano (1056-1106) sobre o diferendo que opunha o Papa ao Imperador, em que o primeiro pretendia nomear os Imperadores, em nome de Deus, e o segundo, em nome do Império, queria nomear o clero. Além disso, Urbano II tinha ainda a competição do antipapa de Roma.

A Igreja, débil, assistia a lutas internas, violações, roubos, pilhagens, matanças e casos de corrupção nos quais o clero estava envolvido, contra a vontade de Urbano II.

A palavra Cruzada não fora ainda inventada mas o alvoroço pelas indulgências plenárias vinha ao encontro do Papa, para resolver os problemas internos e a luta contra os turcos seljúcidas que formavam um perigoso império islâmico sunita, medieval, turco-pérsico, que ameaçava a Europa.

A Abadia de Cluny esteve na origem, juntamente com as suas filiais de Saint-Alyre de Clermont e Mozac, da primeira Cruzada. Além dos problemas internos do papado, urgia libertar os cristãos do poder dos turcos seljúcidas, reabrir o caminho para peregrinações à Terra Santa, bloqueado pelos referidos turcos e impedir a invasão da Europa, o plano turco que acabaria por ter início em 1453 com a conquista de Constantinopla.

As Cruzadas, pelo pavor que provocaram, pelos episódios horrendos, pelo proselitismo que as animou, ficaram como marca indelével de uma época violenta de que a Igreja era o reflexo.

Evocar o início da primeira Cruzada é o pretexto para reflexão do horror simétrico que a mesma demência mística encontra hoje nos suicidas islâmicos, na Jihad e no sectarismo.

A violência terrorista da turba de crentes, fanatizada pelo clero, tem hoje o equivalente na intoxicação das madraças e mesquitas e na demência que viaja em sentido inverso.

Lembrar as cruzadas é a forma refletir no proselitismo islâmico que ameaça a Europa.

25 de Novembro, 2013 David Ferreira

Humano, demasiado humano

“Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigénito, para
que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna.”

João 3:16

 

São demasiado evidentes as crises de Transtorno Bipolar do Deus de Abraão enunciadas nos escritos que os seus seguidores consideram sagrados. Nestes se anuncia um Deus cujas metamorfoses existenciais são tão incompreensíveis à luz da razão como as metáforas que os apologistas lhes atribuem e os crentes acolhem indulgentemente. E mais incompreensíveis se tornam pelo facto de estarmos perante a descrição de uma alegada entidade infinitamente perfeita e poderosa. Porque, não obstante toda esta perfeição, não há doença do foro psiquiátrico que não lhe possamos diagnosticar, não há imperfeição que não lhe possamos encontrar. Assim como também não há virtude que não lhe possamos atribuir. E não poderia ser de outro modo uma vez que o resultado da construção simbólica de uma entidade criadora de toda a realidade percetível nunca poderia ser desconforme à predisposição interpretativa e analítica do órgão humano que a executa, mesmo que extrapolada para um plano distinto e puramente quimérico.

Não há deus ou divindade, seja antropomórfica, zoomórfica ou mero fenómeno natural personificado ao qual o método da ignorância atribuiu qualidades sobrenaturais, que não possua características humanas. No seu apogeu, são todas tirânicas e narcisistas, nunca prescindindo de oferendas ou sacrifícios, tanto físicos como espirituais, para apaziguar uma necessidade de veneração excessivamente doentia para seu próprio bem.

Mas talvez nenhuma outra entidade consiga ser tão maquiavélica como este Deus do deserto que surge pela calada a Moisés no Monte Sinai a proibir e a caluniar outros deuses, requerendo no mesmo sussurro transcendente permanente sacrifício e mortificação. Um Deus bipolar capaz de uma birrenta carnificina diluviana com que brinda a sua criação, incapaz de a moderar ou ajuizar, para permitir mais tarde um repovoamento à custa da consanguinidade (o que poderia explicar muito do que se passou a seguir). Um Deus capaz de dar em sacrifício o seu único filho para que todo o que nele venha a crer possa conquistar a vida eterna, mas que não deixa provas credíveis da sua passagem pelo mundo físico, afogando novamente a humanidade, desta vez em obscurantismo e especulação.

Entre apresentar-se à humanidade e revelar o grandioso mistério ou manter-se intangível e inatingível, escolhe precisamente a opção que permite a subjetividade interpretativa e alimenta o egocentrismo doutrinário, perpetuando a confusão de Babel. Este é um Deus que prefere dividir para reinar. Um Deus, diria, quase humano, demasiado humano.

25 de Novembro, 2013 Carlos Esperança

O Papa, o catolicismo e o Cristo-Rei

Com a celebração da solenidade de Cristo Rei, neste Domingo 24 de novembro, o Papa [Francisco] fez a conclusão do Ano da Fé, uma «iniciativa providencial» de Bento XVI, apresentando Jesus Cristo como o “centro da história da humanidade e de cada homem”.

Não se vê no evento promocional de uma religião onde possa entrar a Providência, nem como um judeu, nascido há 2 mil anos, possa ter emigrado para o «centro da história da humanidade» ou para o centro de «cada homem», sabendo-se que apenas cerca de 20%, na mais favorável das hipóteses, é cristã e a Humanidade já leva milhões de anos.

Concluído o Ano da Fé, talvez venha o Ano da Razão. Entre o defeito de acreditar sem provas e a virtude de duvidar, por método, é preferível a segunda hipótese. É natural que quem não exige provas para acreditar também as dispense para duvidar.

O que espanta na ICAR é o paradigma monárquico, que permanece após o descrédito da realeza, depois de os princípios do Iluminismo terem contrariado os dogmas e destruído os privilégios hereditários.

A mãe de Jesus é referida como Rainha dos Céus e até a hipotética legião de assessores, que aconselham o Deus-Pai, é referida como ‘corte’ celeste. Demorará muito até que as orações e a mentalidade se adaptem, ao menos, ao espírito democrático e republicano.

Pode ser que um dia, em vez da salve-rainha se recite a salve-presidenta [sic] e surjam monumentos a Cristo-Chanceler ou a Cristo-Presidente, mais adequados à nomenclatura profana e aos hábitos modernos, já que o Cristo-Xá ou o Cristo-Imperador são pouco ajustados à História recente dos povos onde o cristianismo resiste e os de Führer ou Mahatma totalmente improváveis.

O Vaticano é que, por mais que queira, continua um anacronismo onde ‘Santidade’ é a profissão e o estado civil .

24 de Novembro, 2013 Carlos Esperança

O Papa, a sociedade e os sacramentos

O Papa Francisco, por mérito ou marketing pio, teve a comunicação social do costume a desenhar-lhe o perfil, a afeiçoar-lhe o currículo e a mostrar o rosto humano, que até um papa pode ter. Só o Prof. César das Neves não entrou em êxtase devoto, como soía com os anteriores.

Mostrou-se o PDG do Vaticano inquieto com a descrença que alastra na Europa, com a sucessiva secularização e a gradual entrada no mercado da fé, tantos séculos fechado à concorrência, de outras crenças e de métodos mais radicais de promoção.

Não basta o sectarismo demente do Islão, a exigir 5 orações diárias e a proibir micções viradas para Meca, aparecem evangélicos, adventistas, meninos de Deus e uma imensa legião de funcionários ao serviço de novas crenças e métodos, para salvação das almas.

É neste frenesim competitivo que o Papa Francisco, com um olho no burro do presépio e outro nos crentes, vai perscrutando o que pensam os católicos das uniões de facto, da pílula, do preservativo, do divórcio e dos casamentos entre pessoas do mesmo sexo.

Não sairá uma revolução do papa contratado na Argentina, mas, pelo menos, não se vê que insista em negar a hóstia a recasados ou um centilitro de água benta a quem já não a distingue da outra.

A modernidade, inimiga figadal das religiões, foi fazendo o caminho enquanto a Igreja católica ia canonizando defuntos antigos e recebendo os emolumentos, sem cuidar das virtudes dos taumaturgos ou da inteligência dos devotos.

É natural que, daqui a dois anos, devagarinho, algumas cedências sejam feitas durante um sínodo, a convocar, para mostrar que, como aconteceu com o movimento de rotação da Terra, a Igreja católica está aberta à modernidade. Devagar.

23 de Novembro, 2013 Abraão Loureiro

https://www.youtube.com/watch?v=lvyO-SX5H-8

 

22 de Novembro, 2013 Carlos Esperança

D. Francisco Javier Martinez e a felação matrimonial

D. Francisco Javier Martinez, arcebispo de Granada, defende que a mulher deve praticar felações ao marido sempre que ele lho ordene – lê-se em Diario Popular – El Mundo, terça-feira, 13 de novembro.

«Não é uma perversidade», diz o prelado no livro «Casa-te e sê submissa» [tradução literal]. «A felação pode fazer-se, pensando em Jesus».

«O sexo matrimonial também é obra do Senhor e, por isso, sempre se regeu pelas leis da Igreja»

O livro, que pretende ser uma orientação pia para mulheres casadas, acrescenta muitos outros conselhos preciosos:

“Deus colocou-te ao lado do teu marido, esse santo que te suporta apesar de tudo. Obedece-lhe e submete-te com confiança”

Apostila: A verdade já é suficientemente grave para que não sejam necessárias referências jocosas de duvidosa proveniência.

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22 de Novembro, 2013 Carlos Esperança

João César das Neves (JCN) e o Faceboock

A sanha contra JCN – um talibã católico – já levou à criação de uma página do FB «Correr com o César das Neves do DN, TV, Rádio e U.C. (Universidade católica)». Só falta pedir a exclusão do devoto, do próprio FB, do Banco de Portugal e da missa. A vocação censória iguala a do bem-aventurado e o senso aproxima-se do dele.

JCN diz muitas tolices? – claro que diz, e grandes, mas não fica sob a alçada do Código Penal. Acha que o ordenado mínimo deve ser reduzido e que os pensionistas são ricos? – De facto, ele pensa isso e revela a formação da madraça onde é aiatola, mas não sendo um pensamento digno, não é crime.

JCN gostaria que a sharia romana fosse a legislação que substituísse o direito de família, sem divórcio, com cadeias abertas para a IVG e a lapidação para mulheres adúlteras?
– É de crer que sim, mas há outros que pensam o mesmo e andam à solta.

JCN gostaria de confiar a saúde, o ensino, os Tribunais, a assistência e as polícias aos Irmãos Católicos e transformar o Estado num departamento da Conferência Episcopal? – É natural, mas pensar que a demência mística possa abalar os fundamentos do Estado de Direito é não acreditar na democracia.

JCN atira-se aos juízes do Tribunal Constitucional como um Cruzado aos mouros, mas não é diferente do PM que, com isso, perde legitimidade para o ser ou do presidente da CE, Durão Barroso, cuja chantagem devia ter sido repudiada pelo PR, se o houvesse.

JCN cilicia-se, viaja de joelhos, empanturra-se em hóstias, inala incenso, encharca-se em água benta e extasia-se com o brilho da púrpura, a beleza do báculo e o fulgor da mitra? – E o que temos nós a ver com isso?

O homem flagela-se e acha que «no [seu] medíocre quotidiano, continua a mesma mesquinha criatura que sempre foi»? – E que temos nós a ver com um raro momento de lucidez?

A censura é sempre um ato inadmissível e, vendo bem, JCN é um manancial de humor que diverte muito mais com as tolices que diz do que António Sala com «Anedotas» que publica.