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  • 30 de Novembro, 2013
  • Por Carlos Esperança
  • Vaticano

Vaticano – uma equação com várias incógnitas

O Papa Francisco, à semelhança dos antecessores, é um fervoroso adepto do diálogo inter-religioso e apelou no dia 28 de novembro, no Vaticano, ao diálogo, para superar o “medo” recíproco e evitar em conjunto a “tragédia dos pensamentos únicos”.

Condenando a ideia de que a convivência só é possível escondendo a própria pertença religiosa – pensamento que considera apanágio de sociedades secularizadas –, o Papa insurge-se contra a possibilidade de a religião ser remetida para a esfera privada, sem a ostentação da iconografia com que todas procuram ocupar o espaço público.

Não cuido de fazer juízos de valor sobre a intenção do Papa e, muito menos, sobre a sua bondade. O que é paradoxal é conciliar o diálogo e o proselitismo, as reuniões de várias religiões e a sua atuação prática nos templos e organismos que tutelam.

O Papa não pode esquecer o «diálogo inter-religioso» estabelecido pelos jesuítas na sua América do Sul, onde a fé foi imposta com inaudita violência e à custa do sumiço das populações autóctones. A ferocidade religiosa dos reis católicos de Espanha, Fernando e Isabel, foi tal, que o Vaticano se vergonha de canonizá-los.

Como se pode dialogar e, ao mesmo tempo, evangelizar? Estão dispostos os dialogantes a fazer a síntese das suas verdades, e a criar outra versão da fé, ou apenas a aproveitar as atenções da comunicação social para fingirem abertura de espírito.

É difícil saber o que se passa no Vaticano, de que maneira foi Deus servido de chamar à sua divina presença João Paulo I, após 33 dias de pontificado com vontade de examinar as contas do I.O.R.; que acordos políticos estabeleceu João Paulo II com as ditaduras da América do Sul e com os EUA e por que motivo não entregou o arcebispo Marcinkus à justiça italiana; que estranho motivo levou Bento XVI a surpreender a Cúria com a sua resignação. Enfim, há segredos que nem a Deus, se existisse, seriam confessados.

Os homens podem dialogar porque têm as suas ideias, e estas são passíveis de mudança, mas os clérigos têm a ideia que o seu deus lhes comunicou e, porque deus não mais deu sinais de vida, não é possível dialogar sobre verdades absolutas, eternas e imutáveis.

Só há pensamentos únicos nas religiões, onde a ausência da mínima ortodoxia é heresia.

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- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores

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