22 de Outubro, 2013 Carlos Esperança
A FRASE
«Vamos correr atrás deste Papa que, desde que chegou, não parou»
(João César das Neves, maratonista que correu sempre atrás de qualquer Papa).
«Vamos correr atrás deste Papa que, desde que chegou, não parou»
(João César das Neves, maratonista que correu sempre atrás de qualquer Papa).
“Acordam da Relação do Porto de 11 de Novembro de 1793 sobre a contenda do cano das Freiras d`Amarante com os Frades da mesma Vila.”
Por
João Pedro Moura
“Acordam em relação, visto estes autos, etc. etc.
As autoras, D. Abadessa, Discretas e mais religiosas do real convento de Santa Clara de Amarante, mostram ter um cano seu próprio por onde despejam as suas imundícies e enchurradas, o qual atravessa de meio e meio a Fasenda dos Frades dominicos da mesma vila.
Provam elas autoras a posse em que estão de o limpar quando precisam. Os reus Prior e mais religiosos do Convento de S. Gonçalo, assim o confessam e se defendem dizendo: que lhes parece muito mal que lhes bulam e mecham na sua fasenda sem ser à sua satisfação: que conhecendo a sua necessidade da limpeza do cano das Madres tinham feito unir o seu cano ao delas para mais facilmente se providenciarem as couzas, por cujo modo vinham a receber proveito.
Portanto e o mais dos autos: vendo-se claramente que aquela posse só podia nascer do abuzo: vendo-se a mais boa vontade com que os reus prestam e obrigam a limpar o cano das Madres autoras e que outrosim da união resulta conhecido benefício, conclue-se visivelmente que tais dúvidas e questões da parte das autoras só podem nascer de capricho sublime e temperamento ardente que precisa mitigar-se para bem d`ambas as partes.
Pelo que mandam que o cano das Freiras autoras seja sempre conservado corrente e desembaraçado, unido ou não unido ao cano dos reus, segundo o gosto destes e inteiramente à sua disposição, sem que as freiras, autoras possam intrometer-se no dia e na hora nem nos modos ou maneiras da limpeza a qual desde já fica entregue à vontade dos reus que a hão de fazer com prudência e bem por terem bons instrumentos seus próprios o que bem conhecido das outras que o não negam nem contestam.
E quando aconteça, o que não é presumível, que os reus, de propósito ou omissão, deixem entupir o cano das autoras, em tal caso lhes deixam o direito salvo contra os reus, podendo desde logo governar na limpeza do seu dito cano, mesmo por meios indirectos e usando de suspiros, ainda usando do caso dos reus, precedendo primeiro uma vistoria feita pelo Juiz de Fora com assistência de peritos louvados sobre os canos das autoras e reus e pagar as custas de prémio, etc. etc.
Há quem não aceite que Deus é uma criação humana, a muleta para as nossas fraquezas, a explicação por defeito para as respostas que não sabemos, no fundo, uma necessidade para quem se habituou a uma dependência que, quase sempre, lhe foi incutida desde que nasceu e preservada por constrangimentos sociais.
A perversão das crenças reside na origem, na perversão dos homens que as inventaram e que lhes transmitiram a marca genética dos seus preconceitos e superstições.
O humanismo foi construído quase sempre contra as religiões, contra os deuses sedentos de sacrifícios, sofrimento e conservadorismo, defeitos que têm profissionais zelosos ao serviço da sua divulgação.
Ninguém se permitiria condenar à morte quem deixa de acreditar numa lei da física ou num axioma, mas não faltam clérigos a exigir a eliminação física dos apóstatas ou dos hereges, estes meros crentes divergentes na interpretação das alegadas mensagens de um deus imaginário.
A História ensinou-nos a relativizar as ideias na sua permanente evolução, quase sempre influenciadas pelo avanço das ciências e a apoteose de novas descobertas, mas as ideias religiosas resistem até ao absurdo, com polícias dedicados, sempre prontos a castigas os réprobos e a aplicar uma jurisprudência da Idade do Bronze.
A paz não pode ser conseguida com verdades absolutas e imutáveis. É por isso que os Estados modernos, devem tratar as religiões como quaisquer outras associações em que a plena liberdade de formação não as exime ao Código Penal e os seus atos ao escrutínio da lei.
Não percebo por que motivo uma religião possa ter normas jurídicas próprias no Estado de direito, ter conventos de cuja inspeção o Estado se demita, para avaliar se as pessoas estão ali de livre vontade ou se se trata de cárcere privado e, sobretudo, conseguir furtar-se aos impostos sobre as fortunas e ao escrutínio sobre a forma da sua aquisição.
O papa Francisco rezou hoje pelas quase 200 vítimas do sismo que no início da semana abalou as Filipinas, apelidando aquele país asiático maioritariamente católico de “querida nação”.
“Quero exprimir as minhas condolências ao povo das Filipinas tocado por um violento sismo”, disse o papa durante o Angelus, que rezou perante milhares de peregrinos de uma varanda na praça de São Pedro.
(Momento de oração no recinto do Metro de Lleida. / H. SIRVENT
No Ano da Graça de 2005 houve na Guarda um pio escândalo, humano e divertido. Só surpreendeu o silêncio da comunicação social, que, tão ávida a espreitar pelo buraco da fechadura dos políticos, não se atreveu a explorar um escândalo religioso.
Junto ao antigo Hospital Distrital e, até há poucos anos, local das Urgências, havia, e há, um lar de idosos. Ali esteva internada D. Márcia, depois de enviuvar, carregada de anos e de haveres, até Deus ser servido de a chamar à sua divina presença, como soe dizer-se.
No início dormia no excelente apartamento que comprara, ali próximo, e passava o dia no lar, onde comia, com pessoas da sua idade. Depois passou a pernoitar e ocupou um ótimo quarto que os rendimentos lhe permitiam pagar.
D. Márcia não teve filhos. Era muito devota, temente a Deus, amiga da missa, confissão e eucaristia. Rezava o terço desde o tempo em que a irmã Lúcia o recomendou contra o comunismo a rogo da Virgem que poisava nas azinheiras.
No lar, além do tratamento esmerado, tinha a solicitude cristã de piedosas freiras que a assistiam nas rezas e nos caprichos – jovens cuja beleza o hábito resguardava, mulheres espantosas a quem a fé não destruiu a natureza.
A solidariedade cristã levou D. Márcia a emprestar-lhes a chave do apartamento para pias reuniões que as esposas do Senhor certamente fariam ‘ad majorem Dei gloriam’.
Uma noite D. Márcia foi a casa e, estupefacta, escutou suspiros cuja origem a idade não lhe permitia recordar. Sentiu alegria no ar, risos, satisfação, quiçá, gemidos de êxtase.
Perante a dúvida, primeiro, e a indignação, depois, não era uma cerimónia litúrgica, o calvário recriado aos pulos ou o mês de Maria, com coreografia, o que D. Márcia viu. Eram as freiras e mancebos desnudos, numa cerimónia coletiva a evocar Adão e Eva no Paraíso. E a folgarem.
D. Márcia achou perdido o mundo e exigiu a chave, o provedor da Misericórdia e a diocese transferiram as freiras para parte incerta, a cidade murmurou, exultaram os ímpios e cochichou-se pelos becos.
O escândalo foi abafado, certamente para evitar perturbações familiares aos homens casados e às freiras um despedimento sem justa causa.
A igreja era a única construção sólida da aldeia. Os meus pais viriam a erguer uma casa de raiz para poupar os filhos ao frio que entrava pelas frinchas das paredes e pelos buracos das telhas-vãs que acontecia soltarem-se em noites de vendaval na casa que conseguiram. Eram poucas as janelas e os vidros que se partiam eram supridos por tábuas ou cartolina até chegar um novo, com tamanho aproximado, que acertasse no caixilho.
A escola viria a cair um dia, durante a noite, por milagre do Senhor, que soía colher os louros das desgraças que podiam ser piores. Se o milagre ocorresse durante as aulas era tragédia e caber-me-ia a perda precoce da mãe e do irmão mais novo, acompanhados de meia centena de crianças que ocupavam o espaço para onde desabaram três paredes e o telhado.
A Junta de Freguesia reduzia-se a um carimbo e um livro onde a professora escrevia e assinava a rogo de quem devia e não o sabia fazer. Pode dizer-se que a autarquia funcionou nas escadas das casas do Sr. António Bernardo e do Sr. José Simão, quando necessário; fora disso jazia em alguma gaveta, misturada com garfos e colheres de ferro ou de alumínio – já que o talher, com inclusão da faca para cada comensal, era desconhecido e supérfluo nesses anos e nesses sítios –, ou sobre a mesa por entre malgas e outra louça de barro. Julgava eu, então, que a Junta de Freguesia era o sítio onde se guardavam os boletins de voto dos vivos e mortos que no dia das eleições eram metidos na urna pelos eleitores que apareciam ou pelo Sr. António Bernardo, quando faltavam, sobretudo os mortos, cujo exercício da vontade cabia ao presidente da mesa, sem pasmo nem reclamações.
A pobreza da aldeia só é imaginável, hoje, percorrendo países do terceiro mundo. Os ventres dilatados de várias crianças eram fruto de carências proteicas; e os olhos, que ameaçavam saltar das órbitas quando viam comida, denunciavam a fome que as consumia. Valeu a Cáritas, em meados do século XX, ter começado a distribuir leite em pó, farinha, queijo e marmelada. Só voltei a ver uma fome assim, então sem apoio de qualquer organização humanitária ou instituição governamental, em finais dos anos sessenta do século passado, em Moçambique.
Mas era da igreja que ia falar, da sua torre de dois sinos que tangiam desde manhãzinha até às trindades, sempre aptos a anunciar as cerimónias litúrgicas e as orações que faziam correr aflitos os paroquianos, não fosse o atraso fazer perigar o destino da alma ou atrair a recriminação do padre, ou mesmo do sacristão e de algum zelador mais beato, por se sentirem investidos do prolongamento da autoridade sacerdotal e se anteciparem ao padre na admoestação.
A igreja era assaz grande para nela caber a população da paróquia e sobrar espaço. Podia proceder-se ao recenseamento durante a missa se lhe acrescentassem o meu pai e o Sr. Morgado, cujas ausências me intrigavam e algumas vezes me afligiram quando o Sr. padre verberava ateus, maçons, comunistas e judeus e os condenava às perpétuas penas do Inferno, onde só havia choro, ranger de dentes e azeite fervente onde as almas frigiam.
Durante a catequese, que era ministrada à noite, aprendia-se a doutrina da única religião verdadeira, a que conduzia à salvação da alma, e decoravam-se as orações ensinadas num autêntico curso de terrorismo religioso que induzia terrores noturnos e xenofobia nas pobres crianças. É difícil perceber como duas catequistas tão doces e analfabetas tinham uma imaginação tão fértil e perversa.
A Igreja era varrida uma vez por semana e lavada de longe em longe por mulheres que mudavam as toalhas do altar e a farpela aos santos, esfregavam as pedras onde os devotos se ajoelhavam e limpavam as paredes com um pano húmido na ponta de um enorme varapau. A pia da água benta era lavada com a vulgar água da fonte de mergulho e sabão, depois de acesas discussões teológicas para tentar concluir se a água benta que nela restava podia deitar-se fora sem cometimento de pecado ou se o uso do sabão não seria sacrilégio perante a bênção dessa água, que até a alma lavava. Valia a decisão da senhora Deolinda, que, sem conversas, alheia a preocupações metafísicas, encharcava um pano seco e o torcia na rua a escorrer água negra do lodo depositado e que a bendição não lograra tornar alvo, até enxugar a pia e proceder, depois, à lavagem com água e sabão azul.
As festas canónicas eram no Verão. Talvez o frio não desse saúde aos santos que saíam em passeio a ver a aldeia e a arejar ao som de cânticos, sem música, que a banda ia de graça mas era preciso alimentar os músicos e matar-lhes a sede. Vinha um pregador de fora, pago a peso de ouro, para exaltar a santidade do bem-aventurado que servia de pretexto à festa e, só isso, era um sério encargo para os paroquianos e preocupação para os mordomos.
Assisti a sermões ‘empulgantes’. Não, não eram empolgantes, como o leitor já pensará, imaginando-me um prevaricador ortográfico que deixou escorrer a nódoa para o pano da crónica. Os sermões, a missa, o terço e as novenas eram deveras ‘empulgantes’ por causa do calor e dos animais com que as pessoas conviviam, fora da igreja, claro.
A fé era retribuída com pulgas cujas picadas espalhavam o prurido, independentemente do ar empolgado dos devotos enquanto ouviam as palavras rebarbativas do pregador, justificativas dos honorários, possuídos do mesmo êxtase místico com que ouviam o latim da missa, que sempre os maravilhava.
Talvez, quem sabe, esse deslumbramento tenha guiado Bento XVI no regresso ao latim.
Quando tudo parecia estar de acordo, eis que um cientista vem dizer que essa coisa de ter havido várias espécies de “Homo” talvez não seja bem assim. Para confirmar a sua teoria, apresenta-nos o “crânio 5”, que diz ter a linda idade de cerca de 1,8 milhões de anos.
Ora bem, nós sabemos como é a Ciência: hoje dizem uma coisa, amanhã dizem outra, nunca têm a certeza de nada, estes cientistas. Por isso é que nunca mais saímos do sítio. Ainda andam à procura da data do aparecimento do Homem.
Deixem-me, pois, dar uma ajuda: o Homem apareceu há cerca de 6013 anos, mais centímetro menos quilómetro, umas gerações antes da Idade do Ferro. E não é preciso consultar a Wikipédia, basta ler a Bíblia, mais exactamente Génesis 4.22: E Zilá também deu à luz Tubalcaim, mestre de toda a obra de de cobre e ferro. É só fazer as contas.
O problema é que os cientistas não lêem a Bíblia, e ficam-se ali a estudar, a estudar, quando está tudo explicado.
A religião é uma coisa boa, não é?
Domingo passado foi o dia da Alexandrina de Balasar, beata da Igreja Católica (1). Segundo a sua autobiografia (2), nasceu em 1904, aos quatro anos já rezava, aos sete anos começou os seus dezoito meses de escola, aos catorze adoeceu porque trabalhava para um vizinho que a obrigava «a trabalhar mais do que as forças que tinha» e depois saltou da janela da casa para fugir do vizinho e outros dois homens que vieram a casa dela não se sabe bem fazer o quê. Segundo a interpretação dos aficionados, a Alexandrina saltou da janela para «defender a sua pureza». Segundo o relato da própria, depois de saltar da janela «Cheia de coragem, peguei num pau e entrei pela porta do quintal para o eirado onde estava a minha irmã a discutir com os dois casados. A outra pequena estava na sala com o solteiro. Eu aproximei-me deles e chamei-lhes “cães”, e disse que ou deixavam vir a pequena, ou então gritava contra eles. Aceitaram a proposta e deixaram-na sair. […] Não lhes demos mais confiança; eles retiraram-se e nós continuámos a trabalhar.» Seja como for, após a queda a Alexandrina foi ficando gradualmente mais paralisada até que, cerca de 5 anos mais tarde, ficou acamada de vez. Não parece haver explicação para tão insólita progressão de sintomas, mas isto não conta como milagre porque é desagradável. Também não houve milagre de cura, apesar da Alexandrina e familiares fazerem várias promessas nesse sentido. «Alexandrina, com o tempo, foi aceitando a sua condição de doente, tomando uma rotina quotidiana de oração e oferecendo-se como vítima», e rezando «A Vossa bênção, Jesus! Eu quero ser santa! Ó meu Jesus, abençoai a Vossa filhinha que quer ser santa.» Mas a seguir veio um milagre, não fossem pensar que esta devoção excessiva era apenas uma forma que esta pobre rapariga tinha encontrado para lidar com o seu infortúnio.
«Alexandrina viveu, desde o dia 27 de março de 1942, mais de treze anos em jejum e anúria. O seu alimento foi exclusivamente a Eucaristia.» Para comprovar este feito assombroso, a Alexandrina passou 40 dias no “Refúgio da Paralisia Infantil”, na Foz do Douro, acompanhada pela irmã e o seu médico pessoal, Dias de Azevedo. Lá terá sido observada cuidadosamente por enfermeiras e pelo médico e psiquiatra Henrique Gomes de Araújo. Segundo cita um livro sobre a Alexandrina, Henrique Gomes de Araújo garantiu ser «inteiramente certo que, durante os quarenta dias de internamento, a doente não comeu nem bebeu; não urinou nem defecou, e esta circunstância leva-nos a crer que tais fenómenos possam vir a produzir-se de tempos anteriores». Mas o mais milagroso de tudo foi que, depois de comprovado o feito, o médico e a comunidade médica portuguesa tenham simplesmente ignorado o assunto. Um texto de homenagem ao Henrique Gomes de Araújo, pouco após a sua morte, descreve a sua carreira em medicina e psiquiatria, a sua personalidade, a sua obra filosófica, o prémio Abel Salazar que ganhou em 1975 pelo livro “Perspectivas Fenomenológicas na Análise da Existência”, a sua relação com os doentes e as pessoas com quem trabalhou, Mas nem uma palavra refere a maior descoberta na medicina dos últimos séculos: é possível uma pessoa viver sem comer nem beber (3).
As implicações teológicas do milagre da Alexandrina também são profundas. Tragicamente, muita gente morre à fome. Isto, dizem os crentes, não é culpa de Deus porque Deus não intervém. Porquê, não é claro, visto que obviamente poderia intervir se quisesse. Mas não intervém, e regras são regras. Só que, se a Alexandrina pode viver treze anos sem comer nem beber por obra e graça do menino Jesus e da sua santíssima mamã, então as regras não são para todos. Afinal, não são todos filhos de Deus. Excepto uns poucos, quase todos são enteados.
Em 1944, a Alexandrina «inscreveu-se na União dos Cooperadores Salesianos» para «colaborar com o seu sofrimento e as suas orações para a salvação das almas, sobretudo juvenis. Rezou e sofreu pela santificação dos Cooperadores Salesianos de todo o mundo.» Foi assim que a sua vida foi «gasta exclusivamente para salvar as almas.»(1) Numa perspectiva ética, de justiça, ou mesmo de elementar bom senso, isto é absurdo. Sofrer é mau e sofrer por sofrer é uma maldade fútil. Se um deus qualquer quisesse que a Alexandrina ajudasse mesmo as outras pessoas, tinha-lhe ensinado a criar vacinas, antibióticos novos ou um sistema político que funcionasse bem. Fazer dela uma paralítica em sofrimento é, além de maldade, inútil para a maioria das pessoas. Excepto, mais uma vez, para uns poucos: aqueles que promovem a Alexandrina a beata como exemplo para outros fiéis seguirem. O exemplo de alguém que gasta a vida em sofrimento, que acredita que sofre porque um deus quer que sofra e que ainda assim agradece o que esse deus lhe faz. A metáfora do rebanho de fiéis a seguir os sacerdotes pastores, já de si uma imagem degradante da condição humana, é insuficiente para uma atitude destas. Nem uma ovelha agradeceria ao torturador uma vida de sofrimento inútil e injusto.
Já sei o que querem comentar. Para o ateu a vida não tem valor, somos todos só moléculas, nunca vai compreender exemplos destes que têm de ser vividos na religiosidade e essas tretas. Não é nada disso. Cada vida tem valor para quem a vive e para aqueles que essa vida toca. A vida de cada um é única, não há segunda volta e há que fazer dela o melhor que se puder. Mesmo sem crer em deuses ou planos divino, e sabendo que muito do que acontece simplesmente acontece, percebo perfeitamente a vantagem de ter alguém que dê um exemplo de como lidar com estas vicissitudes. Mesmo que seja um exemplo tão longe da nossa capacidade que só nos sirva de direcção e não de destino. Mas se querem um exemplo desses, então olhem para alguém como o Stephen Hawking e não para a coitada da Alexandrina, que dá muita pena mas não é exemplo para ninguém.
1- Senza, Dia da Beata Alexandrina de Balasar
2- Santuário Alexandrina de Balasar, História de uma vida
3- Carlos Mota Cardoso, À memória de Henrique Gomes de Araújo, “Morreu um médico” (pdf)
Em simultâneo no Que Treta!
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.