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  • 13 de Outubro, 2013
  • Por Carlos Esperança
  • Fátima

Fátima – todas os caminhos vão dar ao Santuário_13_10_2013

Pelos caminhos de Portugal, a pé para os mais crentes, de carro para os mais céticos ou com um caminheiro alugado, para cumprir promessas dos mais abastados, há imensos peregrinos que hoje se dirigem para o anjódromo de Fátima, local onde a República viu organizar a oposição e, mais tarde, durante a guerra fria, a luta contra o comunismo.

Em 1917, o sol interrompeu o sedentarismo sideral enquanto uma virgem irrequieta ia de azinheira em azinheira a conversar com uma pastorinha que a via e ouvia, enquanto outra só a ouvia, e o outro não via nem ouvia. E foi assim que pobres prédios rústicos se converteram num lucrativo comércio da fé e o sector primário virou terciário.

Podia a voz da senhora mais brilhante do que o sol não ter chegado ao céu, mas ouviu-a, na Terra, a diocese de Leiria e a gente simples que rezava, primeiro, contra a maçonaria e a carbonária, e, depois, contra o comunismo. O terço era o demonífugo de eleição e o instrumento para a conversão da Rússia, rezado com afinco nos 31 dias de cada mês de maio, nas aldeias de Portugal.

Hoje, o talismã dos peregrinos está em Roma, a pedido do PDG, para despertar emoções e perpetuar a crença. Foi de avião, acondicionado por um clérigo, dar alma ao negócio que começou com um burrito a tropeçar nos buracos dos caminhos de Nazaré e acabou a voar a jacto para todos os continentes.

Os peregrinos, conformados com a ausência da mascote, sentindo-se defraudados na sua caminhada, não deixaram de se regozijar por ter ido fazer milagres para o Vaticano, o bairro com maior densidade de sotainas e onde os milagres obrados nos mais diversos sítios do Planeta acabam por obter o certificado de garantia.

No universo, cada vez mais inseguro, é a fé o cajado onde se encostam as angústias e se amarram as frágeis esperanças de quem espera num mundo imaginário o que lhes faltou no que lhes coube.

Perfil de Autor

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- Colunista do semanário «O Despertar» - Coimbra:

- Autor do livro «Pedras Soltas» e de diversos textos em jornais, revistas, brochuras e catálogos;

- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores

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