17 de Setembro, 2013 Carlos Esperança
Imprensa católica
Um título à altura do órgão oficial da Diocese de Bragança-Miranda.
Um título à altura do órgão oficial da Diocese de Bragança-Miranda.
O presidente da Junta de Freguesia de Grijó organiza a peregrinação a Fátima com 800 idosos, bem comidos, viajados, confessados e comungados e o presidente da câmara de Esposende aluga 32 autocarros para peregrinar 2 mil idosos, também a Fátima, e, com 5 mil euros, a juntar aos 32.500 € da deslocação, dá-lhes a ferramenta que alimentará os seus últimos dias – 1 terço a cada idoso –, para não esquecerem os cuidados da alma e os votos que no dia das eleições irão depor na urna.
A fé viaja com indulgências autárquicas por estradas de Portugal com destino a Fátima. Os pios edis, em vez de ficarem com 1 terço de cada adjudicação, doam um terço a cada idoso que peregrina. O Governo anseia vê-los em defunção, na urna que lhes guardará os ossos, a fim de aliviar a pressão sobre a Segurança Social, mas os autarcas preparam-nos para a urna onde deporão o voto. Entre os votos pios que os autarcas estimulam e os votos partidários que solicitam, é sempre no setor terciário que se movem.
O terço, não a fração nos negócios, o artefacto com que se rezam novenas e se passam os dias a cuidar da alma, são uma imaginativa prenda que só almas sensíveis ao pedido da Irmã Lúcia, são capazes de imaginar. E é tanta a devoção, que nem se lembram de os pagar do seu bolso, renetem a fatura para as despesas da autarquia.
Na idade em que as hormonas se aquietam e os pecados estão ausentes, não há melhor remédio para as tendinites do que dedilhar as contas do rosário e, com padres-nossos e ave-marias, cuidar do caminho do Paraíso. O terço, não a fração dos lucros em negócios autárquicos, o verdadeiro terço, aquele que a Irmã Lúcia recomendou a rogo da senhora mais brilhante do que o sol, é o poderoso demonífugo que os pios autarcas entregam nas mãos devotas que não esquecerão a prenda no dia das eleições.
Dr. Miguel Macedo
Praça do Comércio
1149-015 – LISBOA
Excelência:
A Associação Ateísta Portuguesa (AAP), vem expor e solicitar a V. Ex.ª o seguinte:
1 – A Junta de Freguesia de Grijó organizou uma peregrinação a Fátima, como se tornou público pelas cenas de pugilato a que a presença do candidato à Câmara de Gaia, Carlos Abreu Amorim, PSD/CDS, deu origem;
2 – A referida peregrinação foi organizada pelo presidente da Junta de Freguesia, Sr. Rogério Tavares, com a participação de 800 idosos distribuídos por 17 autocarros, como referido na comunicação social em 9 do corrente mês;
3 – Entende a Associação Ateísta Portuguesa (AAP) que, num Estado laico, as autarquias não devem apoiar oficialmente a devoção a uma religião. Pelo contrário, devem respeitar criteriosamente o n.º 2 do artigo 13º e o n.º 4 do artigo 41º da Constituição da República Portuguesa e não beneficiar nenhum cidadão em razão da sua religião;
Assim, em nome da laicidade do Estado e da moralidade pública, vem a Associação Ateísta Portuguesa solicitar a V. Ex.ª se digne mandar esclarecer o seguinte:
1 – Qual a base legal para a despesa da Junta de Freguesia com o aluguer de autocarros, almoço e outros custos adicionais para uma manifestação de carácter particular;
2 – Qual o montante gasto na excursão;
3 – Quais os cuidados que a autarquia tomou relativamente aos idosos antes de submetê-los a tão longa e cansativa excursão;
4 – Se houve uma alternativa cultural, abonando em numerário o custo individual da excursão a Fátima a quem preferisse, por exemplo, visitar um museu.
Antes das respostas que aguarda, a AAP repudia, desde já, a atitude da Junta de Freguesia de Grijó que considera imprópria de um país europeu, laico e democrático.
Receosa do regresso aos tempos de Fátima, Futebol e Fado, a AAP considera ética e civicamente lamentável a promoção de peregrinações religiosas por órgãos do Estado ou pelas autarquias.
Em defesa da ética republicana e do carácter laico do Estado que impede a caça ao voto através de pias excursões e lamentáveis expedientes, a Associação Ateísta Portuguesa solicita ao senhor ministro da Administração Interna que, por intermédio da Inspecção-geral da Administração do Território, se digne averiguar eventuais ilícitos na matéria exposta e proceder em conformidade.
Aguardando que V. Ex.ª se digne esclarecer esta Associação, apresentamos-lhe os nossos melhores cumprimentos e subscrevemo-nos,
Odivelas, 15 de setembro de 2013
a) Associação Ateísta Portuguesa
Em vésperas das eleições autárquicas, o presidente da câmara de Esposende, o social-democrata João Cepa – que não se recandidata ao cargo –, decidiu gastar mais de cinco mil euros na compra de terços para oferecer aos dois mil idosos que participaram, na semana passada, numa viagem ao Santuário de Fátima.
O aluguer dos 32 autocarros custou 16,5 mil euros e também foi suportado pela autarquia. Confrontado pelo i, João Cepa afirmou que acha correcto que, num Estado laico, a autarquia gaste dinheiro em artigos religiosos.
Há quase dez anos, a proibição do véu nas escolas francesas era uma coisa estranha, uma mania, quiçá autoritária, só explicável porque «os gauleses são loucos». Os ingleses, diziam-me, esses sim, defendiam a liberdade das pessoas de se vestirem como a cultura lhes mandava. Passaram os anos, e hoje o governo britânico abriu o debate sobre a proibição do véu nas escolas, pela voz do Ministro da Administração Interna. Ouçamos Jeremy Browne:
Registe-se que, na Europa, o véu está proibido nas escolas francesas e turcas (a alunas e professoras), em escolas de vários Estados alemães (às professoras), e… no Kosovo.
O primeiro-ministro esloveno, o social-democrata Alenka Bratušek, lançou ontem a primeira pedra da primeira mesquita do país, em Liubliana, na presença de um ministro do Catar, país onde abandonar o islamismo é considerado apostasia e quem se converta ao cristianismo enfrenta perseguição severa.
Que a construção de uma mesquita é «uma vitória simbólica sobre todas as formas de intolerância religiosa» – como declarou o PM anfitrião –, é uma evidência irrefutável.
Mas será legítimo erigir mesquitas em países democráticos se no Catar a plena liberdade religiosa só existe para o totalitarismo islâmico?
Quando o Papa católico puder batizar um cristão na catedral do Bagdad, o grande rabino de Jerusalém orar na sinagoga de Cabul, o Patriarca da Igreja Ortodoxa Grega pregar em Rabat, o arcebispo de Cantuária oficiar no Bahrein, o bispo da IURD comprar um terreno no Azerbaijão, para expandir o negócio, e uma associação de ateus, céticos, agnósticos e racionalistas for legal no Iémen ou na Arábia Saudita, então poderão nascer mesquitas e madraças nos países onde o pluralismo religioso, político e filosófico são apanágio das democracias.
Que vitória sobre a intolerância seria ver um pagode em honra de Buda, em Omã, ou um templo hindu, dedicado a Vixnu, na Somália!
Até lá, encaro com apreensão a complacência com o multiculturalismo, sobretudo com o Islão, que promove a guerra aos infiéis, lapida mulheres adúlteras, decapita apóstatas e recusa respeitar a Declaração Universal dos Direitos do Homem.
Enquanto no Iémen as autoridades averiguam sem entusiasmo a morte de Rawan, uma menina de 8 anos, possivelmente por ferimentos sofridos na primeira noite do seu casamento com um homem de cerca de 40 anos, crimes desta natureza não passam de danos colaterais da vontade do misericordioso profeta Maomé que, entre as 16 esposas, geralmente viúvas, desposou Aisha, menina de 6 anos, cujo casamento concretizou aos 9.
Como o analfabeto pastor de camelos é o homem mais perfeito para o maior número de pessoas do planeta, a idade de Aisha continua a ser a bitola que permite aos pais a venda das filhas para fins matrimoniais.
Nas sociedades sujeitas ao cristianismo, o fim da aberração, que o Antigo Testamento permite, não encontrou eco no direito canónico, mas no código civil, de natureza laica, frequentemente em confronto com a Igreja.
Invocar a cultura ou a tradição para absolver a perpetuação de iniquidades, geralmente contra as mulheres, é um crime oculto sob o álibi da tolerância e do multiculturalismo.
O silêncio dos países civilizados, com a voz embargada pelo petróleo, é uma vergonha que os torna cúmplices da barbárie.
Fundão Padre admite que se deitava com alunos
O ex-vice reitor do Seminário do Fundão, acusado em tribunal de abusos sexuais, nega qualquer crime, mas admite que se deitava com os seminaristas na cama, garantindo, no entanto, que não fazia mais do que as mães e os pais fazem aos filhos, escreve o Jornal de Notícias.
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.