Loading
  • 13 de Agosto, 2013
  • Por Carlos Esperança
  • Fátima

Fátima – destino inevitável da fé

É preciso não ter sentimentos para desrespeitar o sofrimento e a angústia dos peregrinos que têm como fetiche da sua devoção os dias 13, em especial, o do mês de maio, sem desprezar agosto, para os emigrantes, e outubro.

Aqueles septuagenários que vestem velhas camisas camufladas da época que os marcou, na guerra injusta e inútil, ainda hoje agradecem o regresso, como se as minas pudessem ter-nos matado ou estropiado a todos, como se tivessem de agradecer o regresso em vez de se revoltarem com a partida.

A fé é isto mesmo, não questionar os desígnios do acaso, agradecer a perna que sobrou em vez de reclamar a amputada, rezar pela sorte do olho que resta em vez de protestar pelo que os estilhaços da granada vazaram, enfim, caminhar de joelhos e rastejar num santuário, acreditando no poder miraculoso das azinheiras, onde saltitou a virgem, ou no espaço onde aterrou o anjo.

Há nos rostos sofridos e nos corpos doridos, a sangrar por dentro, uma dose enorme de esperança que não se esgota nos dedos delidos a desfiar o rosário como quem conta os dias de sofrimento que lhes coube. As chagas das longas caminhadas e os pés inchados não impedem os devotos de acrescentar ao sofrimento do quotidiano o da peregrinação.

É inútil explicar como nasceu Fátima, quem tinha interesse na devoção, quem fabricou os milagres que noutros sítios não vingaram. A República era a pedra no sapato do clero e a separação da Igreja e do Estado uma afronta à união centenária entre o trono e o altar. A rainha dos céus e o Cristo-Rei continuaram o paradigma da Igreja, com azia à democracia, que viu na ditadura de direita o doce amparo enquanto os «segredos» se multiplicavam a anunciar a conversão da Rússia à Senhora de Fátima.

A verdade é um mero detalhe nos caminhos da fé. Os peregrinos nutrem a tradição que procura no céu o que falta na terra. Olho-os com respeito, a caminho de Fátima, onde alguns serão atropelados antes de assistirem à procissão das velas.

Perfil de Autor

Website | + posts

- Ex-Presidente da Direcção da Associação Ateísta Portuguesa

- Sócio fundador da Associação República e laicidade;

- Sócio da Associação 25 de Abril

- Vice-Presidente da Direcção da Delegação Centro da A25A;

- Sócio dos Bombeiros Voluntários de Almeida

- Blogger:

- Diário Ateísta http://www.ateismo.net/

- Ponte Europa http://ponteeuropa.blogspot.com/

- Sorumbático http://sorumbatico.blogspot.com/

- Avenida da Liberdade http://avenidadaliberdade.org/home#

- Colaborador do Jornal do Fundão;

- Colunista do mensário de Almeida «Praça Alta»

- Colunista do semanário «O Despertar» - Coimbra:

- Autor do livro «Pedras Soltas» e de diversos textos em jornais, revistas, brochuras e catálogos;

- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores

http://www.blogger.com/profile/17078847174833183365

http://avenidadaliberdade.org/index.php?content=165