A morte de Deus
É lugar-comum dizer-se que a cada passo que a ciência avança Deus morre mais um pouco, e esta frase cito-a de memória, que não é muita. Poder-se-á perguntar por que demónios Deus demora tanto tempo a morrer, e eu respondo que a ciência ainda não parou de avançar; por outro lado, um mito que demorou tantos anos a ser criado é natural que demore ainda mais tempo a morrer. Acontece, porém, que, por um qualquer lampejo de lucidez, os próprios católicos se vão encarregando de apressar a morte do “velhote” . Assim, e a título de exemplo, a malta escuteira da Grã-Bretanha, designadamente a feminina, vai deixar de prometer cumprir com o seu “dever perante Deus e o rei”, neste caso a rainha; preferem, em alternativa, servir a rainha e a comunidade, embora me cause engulhos esta história de “servir”, seja o rei ou rainha que seja. Embora a “promessa” dos escuteiros portugueses também não seja flor de se cheirar… Mas isso é outra conversa.
O insuspeito cónego Rui Osório, escriba do diário de inspiração católica “Jornal de Notícias”, chama-lhe “Eclipse de Deus”. Delicioso eufemismo de quem, naturalmente, não aceita a morte do patrão.
Mas eu tenho outra opinião. Estou convencido, mas isto são convicções minhas, de que as raparigas acabaram por ler a Bíblia com deve ser, e se fartaram de ser a causa das desgraças que, aqui e ali, vão acontecendo por esse mundo fora – a começar pelo cómico “pecado original”.
Mas que o velhote vai definhando, não tenhamos dúvidas.