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  • 25 de Maio, 2013
  • Por Carlos Esperança
  • Ateísmo

O Vaticano, o diabo e o exorcismo

A possessão demoníaca, uma moléstia que só ataca os crentes e cuja cura só pode ser efetuada por um sacerdote com alvará episcopal, sobreviveu à erradicação da varíola.

O diagnóstico diferencial não existe e é impossível ser estabelecido por médicos porque as moléstias da alma são males cuja cura resiste aos fármacos e só cede perante orações apropriadas, sob a ameaça do crucifixo e com o denodo de um presbítero encartado.

O número de endemoninhados recuou com a alfabetização, a alimentação equilibrada e a ciência, mas o Diabo, fonte de receita eclesiástica, nunca deixou de supliciar as almas pias e de exigir o recurso ao exorcismo, único demonífugo de efeitos comprovados.

Não admira, pois, que em épocas de desespero, com o presente negro e o futuro incerto, os demónios adormecidos venham desafiar a sanidade de um povo que ainda oferece a bilha de azeite a um santo pela cura de um parente ou o pé de porco pela de uma ovelha estropiada.

O bispo de Bragança, com cheiro para o negócio, já disse que se trata de um problema atual e que o bispo diocesano é quem tem habilitações para exorcizar. Na entrevista de hoje, ao DN, parece ter algumas dúvidas, que logo se transformam em certezas, quando os bruxos e ritos mágicos competem com a Igreja católica na clientela dos possessos.

O Papa fez, no Vaticano, o número da imposição das mãos e os esgares do deficiente lançaram a superstição entre os fregueses que hesitam entre a fé e a ciência. O Vaticano confirmou que «o Papa rezou sobre o homem possesso», resumindo nesta curta frase o diagnóstico e a terapêutica.

Em Portugal, com exceção do padre Humberto Gama a quem a Igreja retirou o alvará, sem conseguir fechar-lhe os consultórios de Fátima e Mirandela, o mais experiente exorcista é o padre Duarte Lara, da diocese de Lamego, com cerca de 300 exorcismos e – segundo ele – com tendência para o aumento de casos de possessão demoníaca.

O exorcismo é uma celebração litúrgica, autorizada e praticada pela Igreja católica, com o objetivo de libertar as pessoas possuídas por forças demoníacas.

O número papal, já referido, foi considerado exorcismo pelo padre Gabriele Amorth, o exorcista oficial do Vaticano, considerado a maior autoridade mundial no ramo, diretor de cursos da especialidade no pontificado de Bento XVI. Agora, com o Papa Francisco, o porta-voz da Santa Sé, padre Lombardi, negou o exorcismo da Praça de S. Pedro, dizendo que o Papa se tinha limitado a «rezar sobre o homem possesso».

Independentemente da facilidade com que os dois sacerdotes fizeram o diagnóstico de «possesso», estamos perante duas escolas de exorcismo que se digladiam. E o Diabo, na sua imensa sabedoria, continuará a atacar os crentes e a temer os ateus.

 

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